Os Estados Unidos estabeleceram um "contato direto" com o Hayat Tahrir al Sham (HTS), o grupo islamista que lidera a coalizão rebelde que assumiu o poder na Síria, apesar de considerá-lo uma organização "terrorista", declarou neste sábado (14) o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken.
"Estivemos em contato com o HTS e outras facções", afirmou Blinken aos jornalistas, após participar das discussões sobre a Síria em Aqaba, às margens do Mar Vermelho, na Jordânia.
O secretário de Estado não forneceu detalhes sobre as conversas, mas, ao ser questionado se os Estados Unidos haviam entrado em contato direto com o grupo, respondeu: "Contato direto - sim".
Blinken explicou que o contato foi parcialmente motivado pela busca por Austin Tice, o jornalista americano sequestrado em 2012, pouco depois do início da guerra civil na Síria.
Blinken fez essas declarações ao final de uma viagem regional iniciada após a queda do presidente sírio Bashar al Assad, derrubado em 8 de novembro por uma aliança de rebeldes liderada pelo HTS.
Assad e sua família governaram a Síria com mão de ferro por mais de meio século. Mas uma ofensiva fulminante, que começou em 27 de novembro, pôs fim a décadas de repressão.
Em Aqaba, Blinken participou de conversas com altos diplomatas árabes e europeus, assim como com representantes da Turquia, principal apoiadora dos grupos rebeldes.
"Concordamos que o processo de transição deve ser liderado e controlado pelos próprios sírios, o que levará a um governo inclusivo e representativo", afirmou.
"Os direitos de todos os sírios, incluindo os das minorias e das mulheres, devem ser respeitados. A ajuda humanitária precisa chegar a quem dela necessita", acrescentou.
Em um comunicado conjunto, os participantes destacaram "a importância da luta contra o terrorismo e o extremismo" e "a necessidade de prevenir qualquer ressurgimento de grupos terroristas".
Os Estados Unidos e outros governos ocidentais classificam o HTS como um grupo terrorista devido às suas raízes na ramificação síria da Al Qaeda.
No entanto, o grupo, liderado por Abu Mohammed al Jolani, afirma ter rompido com o jihadismo.
A designação de "grupo terrorista" complica seriamente as atividades de empresas e organizações humanitárias, que correm o risco de serem alvo das forças de segurança americanas caso sejam consideradas como apoiadoras diretas de um grupo terrorista.
Desde que assumiu o poder no último fim de semana, Al Jolani tem adotado uma postura conciliadora.
Alguns analistas apontam que o HTS não tem se concentrado em alvos americanos ou ocidentais.
Outros esperam um movimento rápido por parte dos Estados Unidos para retirar a classificação de grupo terrorista, especialmente antes da chegada do republicano Donald Trump à presidência em janeiro.
* AFP