Natural de Porto Alegre e morador do bairro Niterói, em Canoas, há pelo menos três décadas, Julio Cesar de Medeiros, 53 anos, vinha retratando em sua página pessoal no Facebook a viagem com a mulher ao Uruguai, onde foi baleado e morto no domingo (18). No seu último dia de vida, postou três fotos de Montevidéu. A mais recente, de uma loja nos arredores da Plaza Zabala, entrou na rede social às 21h09min. Cerca de cinco minutos depois, foi atingido por uma bala perdida que rasgou sua virilha esquerda e acertou uma artéria.
As outras imagens, publicadas instantes antes, mostram que esteve na Fuente de los Candados e que ficou admirado com um artista que minuciosamente pintava o rosto do escritor Eduardo Galeano em um muro da capital uruguaia. As fotos estão sendo comentadas por amigos, todos consternados. Alguns uruguaios até pedem desculpa pela violência e dizem estarem envergonhados: "Meus pêsames à família e perdão por não saber como oferecer segurança" e "Vergonha como uruguaia. Muita força à família" são dois dos comentários.
Na semana em que esteve no país vizinho, o dono de uma empresa de paisagismo registrou passagem por outros pontos turísticos de Montevidéu, como o World Trade Center, a rambla de Punta Carretas, o zoológico de Villa Dolores, o Teatro Solís e a Praça da Independência, onde estão a estátua e o mausoléu do coronel José Artigas. A volta ao Rio Grande do Sul estava programada para o dia seguinte, segunda-feira (19).
— Ele era uma referência para mim. Convivi muitos anos com ele, principalmente na minha infância e adolescência. Por ter empresa própria, ele trabalhava muito de casa. Era um cara humilde, sempre pronto para estender a mão. Tirava do próprio bolso para dar aos outros. E não falo isso por que ele não está mais aqui. Se você for no bairro Niterói, vai ver que ele é muito conhecido, justamente por sempre querer ajudar a todos — disse um amigo de 32 anos, que prefere não se identificar.
Medeiros foi atingido quando dois homens armados assaltaram um supermercado no bairro de Pocitos e fugiram em um táxi. Seguranças do local e policiais saíram em perseguição ao trio. Ao perceberem que estavam sendo seguidos, os criminosos desembarcaram do táxi e tentaram invadir um edifício na esquina das ruas Óscar Gestido com Francisco Soca, onde o casal gaúcho estava hospedado em um apartamento. Nesse momento, houve troca de tiros. Uma bala atingiu a virilha esquerda de Medeiros e perfurou a artéria femoral. Ele foi socorrido e levado ao Hospital Americano, onde chegou a receber transfusão de sangue, mas não resistiu. Seu único filho, de 20 anos, está no Uruguai cuidando dos trâmites para liberação do corpo.
Entre as muitas facetas de Medeiros, o amigo destaca a fervorosa torcida que externava pelo Grêmio, a paixão pelos cachorros e o inconformismo com o atual contexto político.
— Ao mesmo tempo em que era muito crítico ao momento que o pais atravessa, ele abria a porta de casa para quem quer que fosse, independente de cor, partido, religião. Ele se manifestava sobre política mais para instigar seus amigos, mas jamais incitou a violência — comentou o amigo.