A escultura de arco-íris de 9 metros de altura no centro da Savior Square parece um pouco desgastada hoje em dia; metade coberta por flores artificiais e metade descoberta por ter sido queimada. O que foi feito como uma obra de arte pública sem uma mensagem política explícita além da necessidade de inclusão, de acordo com a artista responsável, tornou-se parte de uma guerra cultural sobre a homossexualidade que tem crescido em um dos países mais católicos da Europa.
Desde a instalação na praça em junho - um movimentado lugar de passagem para bondes que também tem uma igreja famosa e um cenário agitado de bares de cafés - o arco-íris já foi incendiado quatro vezes e é atacado por políticos e sites de direita.
Stanislaw Pieta, membro do Parlamento do partido conservador Lei e Justiça, principal facção de oposição na Polônia, chamou a aprovação do arco-íris em um gramado circular em frente à igreja de "um gesto nojento, ofensivo para os católicos". Ele completou: "É uma provocação".
Mas enquanto as autoridades da cidade e a própria artista, Julita Wojcik, dizem que o arco-íris não é um monumento aos diretos dos gays, tanto os apoiadores convictos quanto os oponentes parecem concordar sobre o que o arco-íris representa.
O debate sobre os direitos dos gays juntou forças na Europa durante o ano passado. A Câmara dos Deputados da França aprovou um projeto que garante o direito do casamento entre pessoas do mesmo sexo se o Senado aprová-lo em abril, conforme esperado. O Tribunal Constitucional Federal da Alemanha expandiu os direitos de adoção a casais homossexuais.
Os primeiros membros gays e transexuais do Parlamento foram eleitos em 2011. Mas a recepção deles, mesmo pelos membros mais proeminentes da sociedade, tem sido qualquer coisa menos uma aceitação universal. Lech Walesa, antigo presidente, reverenciado líder da oposição comunista e ganhador do prêmio Nobel da Paz, surpreendeu muitas pessoas daqui quando declarou que os legisladores gays deveriam se sentar nas fileiras de trás do Parlamento Polonês, "ou até mesmo atrás de uma parede".
Dorota Chojna, de 39 anos, voluntária que ajudou a reparar o arco-íris queimado, disse em uma entrevista por telefone que ela se sentiu desconfortável. "Como homossexual, eu não me sinto segura em Varsóvia", disse ela. "Eu me envolvi na reconstrução para me opor à homofobia generalizada, entre outros motivos."
A economia da Polônia prosperou nos últimos anos, evitando as profundas recessões que afetaram seus países vizinhos na Europa Oriental assim como a estagnação que começou entre os países do oeste. Mas, como muitas sociedades do antigo bloco soviético, a Polônia é dividida entre os que se beneficiaram da economia dinâmica e os que se sentiram deixados para trás por causa das rápidas mudanças, tanto sociais quanto econômicas.
O arco-íris não foi a primeira obra de arte pública a receber críticas aqui na capital da Polônia. Embora a cidade exiba há tempos estátuas de reis, santos e do amado compositor Chopin, uma palmeira artificial de 15 metros da artista Joanna Rajkowska causou confusão e muita consternação quando foi erguida em 2002. Uma obra sobre a população perdida de judeus da cidade - fazendo referência ao clima mais quente de Israel -, a palmeira foi lentamente aceita como parte da vista da cidade.
"Se a cidade quer se desenvolver, ela precisa de mais símbolos", disse Rajkowska, que apoia o arco-íris.
Conhecida como Plac Zbawiciela em polonês, a praça Savior ("salvador") leva esse nome por causa da Igreja do Santíssimo Salvador, cujas torres gêmeas podem ser vistas da praça. Mas ela também é conhecida como Plac Hipstera, ou praça hipster. Enquanto moradores mais velhos de sobretudos e boinas vão à missa na igreja, celebridades secundárias e adolescentes abastados bebericam lattes, tudo isso com vista para o arco danificado, porém ainda colorido.
A estrutura foi instalada pela primeira vez em frente ao Parlamento Europeu em Bruxelas em setembro de 2011, para honrar a vez da Polônia na presidência rotativa da União Europeia. Wojcik, criadora da obra, disse em uma entrevista na Galeria Nacional de Arte Zacheta, em Varsóvia, que o arco-íris foi feito como símbolo de tolerância.
"Em 2011, a Polônia era vista como um país homofóbico", disse ela. "Eu queria mostrar que nós não temos a mente fechada, e sim aberta."
Wojcik trouxe o arco-íris de volta à Polônia em junho, a tempo para os campeonatos de futebol europeu que a Polônia sediou com a vizinha Ucrânia. Foi aí que os problemas começaram.
Originalmente coberto com 16 mil flores, o arco-íris rapidamente se tornou um teste de Rorschach para os residentes. Para alguns, o arco-íris é apenas um arco-íris. "Eu penso nas alegrias da vida", disse Jadwiga Wilczynska, de 78 anos, sorrindo enquanto olhava a escultura.
"Tem sido um sinal de unidade, ele promove sentimentos calorosos", disse Wlodzimierz Paszynski, vice-prefeito de Varsóvia.
"O arco-íris não foi uma declaração pró-gay ou antigay", disse Wojcik, de 42 anos. "Trata-se de tolerância, diversidade, mente aberta." Ela disse que seu objetivo era despir o arco-íris de todos os seus significados políticos, deixando a interpretação aberta, e construir uma ponte de tolerância mútua. Ela aparentemente não teve sucesso, já que a leitura principal da escultura acobertou quaisquer outras.
Ao menos um dos quatro incêndios foi considerado um acidente com fogos de artifício de fim de ano. Em outro incêndio, o causador estava alcoolizado e, de acordo com a polícia de Varsóvia, não divulgou seus motivos. Os outros dois incêndios permanecem sem solução.
Alguns insistem que não há um objetivo maior por trás dos ataques. "É apenas vandalismo", disse Maria Klosinska, irmã do dono do Charlotte, um bistrô localizado na praça.
Mas o crítico Roman Pawlowski escreveu no site de notícias polonês gazeta.pl, que chamar o incêndio proposital de "vandalismo" foi um eufemismo. "Na verdade, estamos lidando com um ato terrorista", escreveu.
O Reverendo Dariusz Kowalczy, padre jesuíta, lembrou os leitores da revista católica romana semanal Idziemy que arco-íris têm outras conotações. "Quando vemos um arco-íris no céu, não deveríamos pensar nos ativistas gays, mas sim na aliança de Noé com Deus", escreveu.
O arco-íris foi feito para ser um objeto temporário, mas as autoridades da cidade concordaram em mudar a data de desmontagem várias vezes, e em fevereiro eles decidiram deixá-la lá por mais um ano. Durante a noite, ele se transforma em um playground para adultos, muitos dos quais estiveram curtindo a noite em algum bar próximo, que escalam até o topo e até mesmo engatinham dentro da estrutura de ferro.
Para uma reforma planejada, o Instituto Adam Mickiewicz, organização pública que patrocinou o arco-íris, procura materiais não inflamáveis. Mas algumas pessoas acham que, para uma cidade marcada pela guerra e pelo comunismo, a versão esfarrapada e levemente carbonizada do arco-íris é apropriada.
"É um tipo de testemunho", disse Marcin Malenczyk, dono do Karma Coffee, um dos cafés da praça. "É legal que ele tenha tido suas aventuras."
The New York Times
Escultura de arco-íris resiste a ataques contra sua mensagem
Obra de arte pública tornou-se parte de guerra cultural sobre homossexualidade
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