Os processos para conseguir a cidadania italiana se acumulam nos consulados da Itália no Brasil. Pudera, além de reforçar as origens, a possibilidade de ter um passaporte que abre as portas da Europa é irresistível. Pouca gente sabe, porém, que cerca de 250 mil descendentes de italianos no Rio Grande do Sul só terão direito de solicitar a cidadania até 17 de dezembro deste ano - são os trentinos, cujos parentes emigraram da região de Trentino Alto-Adige, no norte da Itália. Depois desse prazo, eles não poderão mais pedir o benefício.
O caso dos trentinos é peculiar. À época da unificação italiana, a região de Trentino não pertencia à Itália, mas sim ao Império Austríaco. Por isso, quando houve a grande emigração de italianos, as famílias que saíram de Trentino tinham cidadania austríaca. Portanto, ao contrário dos descendentes de italianos de outras províncias, os trentinos não têm direito à cidadania italiana automática.
Depois de muita luta, os trentinos - que se sentiam discriminados - conseguiram a aprovação de uma lei, em 2000, que permitia o pedido de cidadania por um período determinado, até 2005. Neste ano, os trentinos conseguiram a prorrogação da lei, cujo prazo agora termina em 19 de dezembro de 2010 (como é um domingo, o prazo real é 17 de dezembro). Dessa vez, sem muitas chances de ser prorrogada, diz Rommano Conzatti Giordani, diretor de Cidadania do Circolo Trentino di Porto Alegre, porque há muita resistência da parte do governo italiano. Ele alerta que a obtenção dos documentos dá muito trabalho e pode levar tempo. Apenas cerca de 6,5 mil trentinos entraram com processo para buscar a cidadania até agora.
Giordani, 60 anos, lutava desde os anos 1980 para conquistar o direito de ser italiano. Ele conta que pressionava muito os representantes da Associação Trentini nel Mondo, para que lutassem pela causa dos descendentes órfãos de pátria. Não foi fácil, lembra, mas ele brigava pelas suas origens:
- Quando era criança, me perguntavam o que eu era, e eu dizia: italiano! Vivia em Bento Gonçalves, onde se falava italiano, comia-se polenta, salame, queijo e bebia-se vinho, que é tudo que os italianos fazem.
Em 2008, finalmente, ele conseguiu a cidadania e hoje, oficialmente, é cidadão italiano.
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