A trégua do mau tempo sobre o Rio Grande do Sul deve ser sucedida, nos próximos dias, por novas chuvaradas capazes de fazer os cursos d'água igualarem ou superarem outra vez as cotas de inundação em áreas recentemente castigadas, como nas regiões Metropolitana e dos vales do Caí e do Taquari.
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) prevê o retorno da chuva nesta quinta-feira (26), e volumes ainda mais elevados durante o final de semana em locais como a Serra e os vales. Em razão disso, é esperado um repique no nível dos rios a partir do domingo (29).
O Serviço Geológico do Brasil (SGB) prevê novas inundações nas margens dos rios Caí e Taquari entre domingo e segunda-feira (30) — estimativa que depende de atualizações na previsão meteorológica para se confirmar.
Na Capital e em municípios próximos, o Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) espera possíveis transtornos localizados em áreas mais baixas nos dias seguintes, mas, até o momento, sem risco de um avanço generalizado do Guaíba.
O meteorologista Glauco Freitas, do Inmet, afirma que há expectativa de acumulados de chuva entre 25 e 60 milímetros no norte gaúcho na quinta, com os maiores volumes concentrados nas proximidades da divisa com Santa Catarina. O cenário piora durante o final de semana, quando esses patamares se elevam para algo entre 30 e cem milímetros, entre o sábado (28) e o domingo, em faixas mais amplas do Estado.
— Essa chuva do final de semana vai pegar bastante a Serra e o Vale do Taquari, mas também as regiões de São Borja, Santiago, Santa Maria, Porto Alegre, Litoral Norte. Teremos de acompanhar pelos próximos dias para avaliar melhor. Como os rios já estão cheios, pode contribuir para mais transtornos — analisa Freitas.
Chefe da Divisão de Hidrologia Aplicada do SGB, Emanuel Duarte afirma que algumas previsões sugerem risco de volumes até mais elevados no final de semana — o que reforça a importância do monitoramento dos rios gaúchos.
As regiões mais preocupantes são as dos vales do Caí e do Taquari, onde devemos ter novas inundações em patamar similar ou maior do que tivemos na semana passada, que já foram expressivas. O pico nos vales deve ocorrer entre domingo e segunda, e, no Guaíba, por volta da quarta-feira (2).
EMANUEL DUARTE
Chefe da Divisão de Hidrologia Aplicada do SGB
Possíveis impactos da volta da chuva por região
Porto Alegre
Conforme a mais recente previsão do IPH, o Guaíba pode se manter próximo da cota de inundação até esta quinta-feira (26), quando então passa a recuar lentamente. Essa tendência, porém, deve ser revertida depois do sábado (29). A expectativa é de que o nível do Guaíba volte a oscilar próximo do nível de inundação, com pico previsto para o dia 2 de julho. O Serviço Geológico do Brasil (SGB) também estima novo pico para o dia 2 de julho, em patamar próximo ao atual.
Nos próximos dias pode haver ainda alguma subida do Guaíba, de alguns centímetros, mas sem ultrapassar muito a cota de inundação (no Cais Mauá, onde já foi atingida). Mas essas águas vão demorar a baixar, e um nível de 3m já representa inundação nas ilhas e em zonas mais baixas de Canoas e Eldorado do Sul.
FERNANDO FAN
Hidrólogo do IPH
Veja, a seguir, algumas possíveis implicações da chuva dos próximos dias em diferentes partes da cidade.
- Zona Norte
Como o Guaíba deve permanecer cheio por um período prolongado, há o risco de que voltem a ocorrer problemas localizados como os observados nesta semana, com transbordamento de bueiros em pontos do 4º Distrito, em bairros como Navegantes, Humaitá e Vila Farrapos no começo da próxima semana.
No bairro Sarandi, onde o dique sofreu uma infiltração nesta quarta (25), a tendência é de que o nível das águas na região fique igual ou inferior ao que apresenta agora.
— O extravasamento que ocorreu nesta tarde se deve à falha na estrutura do dique, que está em reforma desde após a enchente do ano passado — destaca Fernando Fan.
O hidrólogo, entretanto, faz um alerta sobre a necessidade de reparar a falha na estrutura de proteção.
— Há uma previsão que já aponta uma possibilidade de alto volume de chuva a partir do final deste fim de semana, então é importante que a prefeitura consiga corrigir essa falha até lá, porque se vier um maior volume e a estrutura ainda estiver danificada, mais água vai passar pelo dique — ressalta.
- Região Central
Não se espera um avanço generalizado do Guaíba sobre as ruas centrais. Porém, é possível que locais onde a drenagem funciona por gravidade, como em trechos das vias Praia de Belas e Borges de Medeiros no bairro Praia de Belas, voltem a acumular água que reflui por conta da elevação do Arroio Dilúvio.
— O Guaíba cheio acaba represando o Dilúvio — explica o hidrólogo Fernando Fan.
- Zona Sul
Pode haver inundação de algumas áreas isoladas, mais baixas e localizadas nas proximidades do Guaíba. Mas não se espera, até o momento, transtornos mais generalizados.
- Ilhas
É a porção mais sensível da Capital a um agravamento da enchente, já que tem uma cota de inundação inferior à calculada para as zonas centrais da Capital. A prefeitura mantém um alerta de "risco extremo" com vigor entre esta quarta e a quinta-feira (26) na região. O cenário pode voltar a se agravar com as chuvas do final de semana.
Grande Porto Alegre
O IPH alerta para o risco de inundações nas partes mais baixas de municípios próximos como Eldorado do Sul e Canoas (como nas proximidades da Praia do Paquetá) a partir do retorno das chuvas — principalmente durante o novo pico do Guaíba previsto para 2 de julho.
Vale do Caí
Em situação de alerta e sob monitoramento do SGB. Até o momento, há expectativa de inundação "similar ou superior" àquela verificada nos últimos dias. O SGB prevê, por enquanto, elevação do Caí a uma cota entre 12 metros e 13 metros em São Sebastião do Caí, acima da cota de enchente de 10,5 metros.
Vale do Taquari
Segundo o SGB, também há expectativa de inundação equivalente ou um pouco mais grave do que aquela dos últimos dias. A previsão do órgão federal, que pode ser alterada conforme atualização das previsões meteorológicas, é de que nível do Taquari atinja cerca de 22 metros na região de Lajeado e Estrela, acima da cota de inundação de 19 metros.
O que diz a prefeitura da Capital
A gestão do município se manifestou por meio de nota sobre eventuais medidas a serem adotadas para evitar novos transtornos por conta das chuvas:
"A Prefeitura de Porto Alegre mantém suas equipes mobilizadas desde o dia 17 de junho, quando a Defesa Civil emitiu alerta preventivo para chuvas intensas e instabilidade. As ações seguem nos próximos dias, com atenção máxima às áreas mais vulneráveis, especialmente à Região das Ilhas.
O Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), em parceria com órgãos especializados em hidrologia, segue monitorando o comportamento do Guaíba, do Gravataí e de seus afluentes. Até o momento, não há necessidade de novas intervenções no sistema de proteção contra cheias. As equipes do Dmae continuam atuando de forma preventiva em diferentes pontos da cidade.
A presença da Defesa Civil foi reforçada nas Ilhas, com o apoio do Corpo de Bombeiros, Marinha do Brasil, Exército e Brigada Militar. Caminhões e embarcações estão sendo utilizados para prestar assistência e garantir o acolhimento seguro dos moradores que precisarem deixar suas casas. O Gabinete da Causa Animal também atua na região.
Na rede de acolhimento, as equipes da assistência social e da Defesa Civil estão mobilizadas no abrigo emergencial instalado na Arena KTO, com capacidade para 150 pessoas. Nesta quarta-feira, 25, o local abrigava 70 pessoas. Além de alimentação e pernoite, são oferecidos atendimento em saúde e acompanhamento social. Caso necessário, a prefeitura já dispõe de um espaço de retaguarda na Zona Sul, pronto para ser ativado como segundo abrigo (...)."
