
O Rio Grande do Sul tem sido castigado desde segunda-feira (16). A chuva forte que cai sem dar trégua, com acumulados acima dos 100 milímetros em algumas cidades, provoca mortes, bloqueio de estradas alaga casas, derruba pontes e árvores e obriga famílias a saírem às pressas de casa. Em alguns municípios, as aulas foram suspensas.
A Defesa Civil estima que 1 mil pessoas estejam em abrigos e 1,3 mil estejam desalojadas. Duas pessoas morreram e outra está desaparecida. Cinquenta e um municípios reportaram danos causados pela chuva
Mortes

Em Candelária, no Vale do Rio Pardo, uma mulher de 54 anos morreu. Ela estava em um carro arrastado pela água em um arroio. O marido dela, um homem de 65 anos que também estaria no veículo, ainda é procurado pelos bombeiros. O casal não teve a identidade divulgada. Nesta quarta-feira (18), um homem de 22 anos morreu após o carro em que ele estava ser levado por parte da ponte entre Caxias do Sul e Nova Petrópolis. Segundo a prefeitura de Caxias do Sul, uma parte da cabeceira da estrutura foi levada pela força da água do Rio Caí.
Decretos: calamidade pública e emergência
A prefeitura de Jaguari, na Região Central, decretou na manhã desta quarta-feira (18) estado de calamidade pública. Em entrevista à Rádio Gaúcha, o prefeito do município, Igor Tambara, revelou que há casas tomadas pela água e bairros isolados.

— Temos casas que já estão 90% submersas, infelizmente. O que nos preocupa é que começou uma chuva muito forte durante a madrugada e não cessa — disse Tambara em entrevista ao Gaúcha Atualidade.
Conforme a prefeitura, 1,2 mil pessoas estão fora de casa. Cerca de 150 famílias estão em seis abrigos municipais. Os bairros mais atingidos são Sagrado Coração de Jesus, Rivera e Nossa Senhora Aparecida.
O prefeito de Agudo, Luís Henrique Kittel, decretou situação de emergência na manhã desta quarta-feira (18). Desde o início da semana, o município foi atingido por um alto volume de chuva. Até o início desta manhã a estimativa era de um acumulado superior a 400 milímetros.
Cidades alagadas

Em Porto Alegre, bairros da Zona Norte, como Vila Farrapos registram alagamentos. Segundo a prefeitura, o volume de chuva em grande parte da cidade ultrapassa os 100 milímetros. As ruas no entorno da Arena do Grêmio voltaram a registrar pontos de alagamento. Segundo a EPTC, há bloqueio total por acúmulo de água na Avenida Ernesto Neugebauer e bloqueios parciais em outros trechos do bairro Farrapos. Entre os locais com maiores volumes estão as ilhas dos Marinheiros e da Pintada, com 160 milímetros, e o bairro Humaitá, com 163mm.
Em Canoas, moradores do bairro Mathias Velho, inundado na enchente de 2024, acordaram com medo.
— Saímos de casa porque alagou tudo, perdemos tudo de novo. Estou eu, minha esposa e minha nenezinha — conta o trabalhador autônomo André Wagner Trindade que, acompanhado da esposa, carregava a filha no colo enquanto andava por uma rua com a água na altura da canela.
De acordo com a Defesa Civil, "cerca de 35% do município, especialmente na Região Oeste, teve algum transtorno".

O Arroio Sapucaia, no limite entre Cachoeirinha e Canoas, transbordou, provocando transtornos a motoristas, motociclistas e pedestres que tentavam atravessar a via alagada.
No Vale do Rio Pardo, a cidade de Santa Cruz do Sul tem, de acordo com a prefeitura, 400 pessoas fora de casa. Destas, 147 estão no Pavilhão da Oktoberfest, que também abriga animais de estimação, e 26 estão no ginásio do bairro Rauber. Outras estão em casas de parentes e amigos.

Na manhã desta quarta, muitos pontos da cidade já estavam com a água baixando. Na maioria dos casos, o problema foi o excesso de chuvas que causou os alagamentos que bloquearam ruas e invadiram casas.
Trensurb
A Trensurb informou que apesar de as casas de bombas estarem funcionando, não há previsão para que o serviço seja normalizado, devido ao alto volume de água entre as estações Farrapos e Mercado. Como medida emergencial, a empresa disponibilizou ônibus gratuitos para realizar o transbordo de passageiros neste trecho. A operação normal dos trens permanece entre as estações Novo Hamburgo e Farrapos.
Alerta
O RS está sob dois alertas do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), sendo um de "grande perigo" para a região das Missões e o centro do Estado. Conforme o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), há alerta de "grande perigo" para alagamentos, transbordamentos de rios e deslizamentos de encostas, principalmente nas Missões e no centro do Estado.
Há, ainda, alerta de "perigo potencial" para a região da divisa com Santa Catarina. Nesses locais, o acumulado de chuva pode chegar a 50 milímetros e os ventos a 60 km/h. A chuva deve persistir, pelo menos, até quinta-feira (19).
Nível dos rios
A chuva impacta o nível dos principais rios. Segundo o Serviço Geológico do Brasil (SGB), os pontos de medições que apresentam maior elevação estão concentrados nos vales do Caí e Taquari. Os corpos hídricos da Região Metropolitana e Vale do Sinos também apresentaram aumento no nível, mas estão abaixo da cota de alerta.
O que diz o IPH
A chuva não deve causar um cenário hídrico similar ao vivido na enchente de maio de 2024. A análise é do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
— Aindahá previsão de mais chuva nos próximos dias. A evolução dos níveis dos rios vai depender disso. Até o momento, o acumulado é bem inferior aos volumes do ano passado. Por isso, projetamos que não será (o cenário dos próximos dias) algo parecido a maio de 2024 — afirma Rodrigo Paiva, professor do IPH.
Estradas
Conforme os boletins divulgados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) e pelo Comando Rodoviário da Brigada Militar há, pelo menos, 35 trechos com bloqueios nas rodovias no Estado.

A maior parte das ocorrências é por colapso de pontes ou interdição das estruturas. Há, também, casos de água acumulada na pista e erosão no asfalto e desmoronamento de parte da via.