
O caso do empresário Adalberto Amarilio dos Santos Junior, de 36 anos, encontrado morto no Autódromo de Interlagos, segue rodeado de mistérios que a Polícia Civil de São Paulo tenta solucionar.
Em laudo emitido na última terça-feira (17), a perícia criminal indicou a causa da morte como violenta por asfixia. Além disso, também foram apontadas marcas de escoriação no pescoço, sugerindo uma esganação cometida por outra pessoa.
O corpo foi encontrado por um funcionário do local alguns dias após o desaparecimento de Adalberto. Ele estava em um buraco com aproximadamente três metros de profundidade e 80 centímetros de diâmetro, em uma área de obras no Autódromo de Interlagos, sem calça e sem tênis, com o capacete e o celular.
O que a polícia sabe sobre o caso
Investigação inicial
A investigação considera a suspeita de envolvimento de um funcionário da região, já que o local onde o corpo e o carro da vítima foram encontrados estavam a mais de 1 km de distância. Isso leva à teoria de que o autor poderia ter conhecimento prévio do local. As informações são da CNN Brasil.
Além disso, a limpeza dos pés e da cueca da vítima — que foi encontrada sem calça e sem os tênis — indica que ele não teria andado na terra ou se arrastado, mas carregado no colo pelo criminoso, ou teve suas roupas removidas próximo ao buraco.
Inicialmente, não foram encontrados sinais de agressão externa no homem. Após a perícia, foram identificadas escoriações no pescoço dele, reforçando a hipótese de um golpe como o "mata-leão".
Laudo pericial
Segundo o Instituto Médico-Legal (IML), a causa da morte de Adalberto foi asfixia, provocada provavelmente por compressão do pulmão. Marcas de escoriações no pescoço também foram encontradas, sugerindo uma possível esganadura cometida por outra pessoa.
O laudo da Polícia Técnico-Científica também apontou resultado positivo para PSA (Antígeno Prostático Científico), que indica a presença de sêmen na região do pênis. O exame deu negativo para as regiões do ânus e da boca.
Além de escoriações no pescoço, também foram encontradas lesões nos joelhos do empresário, compatíveis com ferimentos de natureza vital, ocorridos enquanto a vítima ainda estava viva.
Depoimento contraditório
Adalberto Amarilio dos Santos Junior não consumiu drogas antes de morrer. É o que aponta o exame toxicológico realizado pelo Instituto Médico Legal (IML).
A informação contradiz o depoimento de um amigo do empresário. Última pessoa a ser vista publicamente com Junior, ele disse à polícia, na última semana, que o empresário consumiu oito copos de cerveja e fumou maconha durante um show do rapper Matuê na noite de 30 de maio — dia em que desapareceu.
Segundo o depoimento do amigo, o Junior estava “muito nervoso, ansioso, agitado, muito eufórico” devido ao consumo da droga.
A declaração chamou a atenção da delegada Ivalda Aleixo, da Delegacia de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) de São Paulo, pela maconha ser conhecida como uma droga que causa efeito “desestimulante” e não de agitação. O laudo pericial refutou a declaração do amigo do empresário.
O amigo prestou novo depoimento no dia 12 de junho, mas não há detalhes sobre a oitiva.
Sangue no carro
A Polícia Civil encontrou manchas de sangue no carro do empresário, que seguia estacionado no autódromo.
A perícia identificou quatro pontos com sangue humano: ao lado da porta, atrás do banco do passageiro, no banco traseiro e no assoalho. Um exame de confronto genético foi solicitado para confirmar se o sangue pertence a Adalberto.
A investigação também busca identificar quando e como esse sangue foi depositado, já que o corpo da vítima não apresentava ferimentos que justificassem a quantidade encontrada.
A análise do sangue ainda não foi concluída, mas é crucial para a investigação, já que tudo indica que o empresário não chegou a entrar no carro.
Caminhos da investigação
A Polícia Civil trabalhava com duas linhas de investigação: "boa noite, Cinderela" ou golpe mata-leão.
Com o laudo indicando morte violenta por asfixia, a polícia passa a investigar o caso como homicídio. A informação foi divulgada pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo.
Policiais ainda apuram se a asfixia ocorreu por esganadura ou por compressão torácica. A morte ocorreu entre 36 horas e 48 horas antes da descoberta do corpo, encontrado no dia 3 de junho.
Até o momento, nenhum suspeito pelo crime foi identificado.
Latrocínio descartado
A polícia descartou as hipóteses de latrocínio — roubo seguido de morte — e de queda acidental. Apesar de uma câmera acoplada ao capacete ter desaparecido, objetos valiosos como jaqueta (de quase R$ 3 mil), celular, dinheiro cartões de crédito permaneceram com a vítima.
Relembre o caso
Adalberto participou de um festival de motos no local, o Interlagos 2025: Edição Moto, em 30 de maio. Imagens de câmeras de segurança mostram o empresário chegando sozinho ao evento por volta das 12h30min, vestindo boné, camiseta preta, calça jeans e tênis.
À noite, ele se encontrou com um amigo e, por volta das 20h30min, enviou sua última mensagem à esposa. Depois disso, não foi mais visto, conforme informações do g1.
Último contato e desaparecimento
Segundo a polícia, a última mensagem de Adalberto foi enviada às 19h48min, dizendo à esposa que estava indo embora. Ela respondeu às 21h12min, mas a mensagem não foi entregue, indicando que o celular já estava desligado.
Para os investigadores, esse intervalo é decisivo e pode marcar o momento do desaparecimento ou da morte. A última movimentação financeira registrada foi um gasto de R$ 34 por volta das 20h30min, possivelmente dentro do festival.
A carteira e o celular foram encontrados com o corpo. Já a conta corporativa de Adalberto, com cerca de R$ 1 milhão, não teve movimentações após seu sumiço.
Roupas desaparecidas e vestígios na região
Além da calça jeans e dos tênis que ele usava no evento, a câmera do capacete de Adalberto — que gravava imagens do festival — também não foi localizada.
Nos dias seguintes ao desaparecimento, duas calças foram encontradas em lixeiras próximas ao autódromo, mas não foram reconhecidas pela família.
Uma terceira peça, achada por garis na última quinta-feira (5), está sendo periciada. A ausência das roupas e da câmera levantam suspeitas de que alguém possa ter tentado ocultar evidências.
Depoimentos e linha do tempo
Três pessoas que trabalharam no evento prestaram depoimento no dia 10 de junho. Elas foram ouvidas por cerca de três horas.
Segundo o amigo Rafael, que esteve com Adalberto no evento, o empresário consumiu oito copos de cerveja e usou maconha — informação refutada pelo exame toxicológico.
Ele relatou que o amigo estava mais agitado que o normal, mas não demonstrava sinais de desorientação. Ao se despedirem, Adalberto disse que voltaria ao carro, mas não há imagens dele se deslocando até o estacionamento.
Quem era Adalberto Amarilio Junior?
Adalberto era empresário do ramo óptico e administrava óticas em São Paulo. Era conhecido por ser educado, discreto e apaixonado por velocidade. Participava de campeonatos de kart com um grupo de amigos, que também organizava ações beneficentes.
— Ele era uma das pessoas mais gentis e tranquilas que conheci. A morte dele é um choque — lamenta o advogado Ricardo Mendizabal, amigo do empresário.
Outro amigo, Paul Robison, com quem dividiu vitórias nas pistas, descreve a dor do grupo:
— A gente anda de carro e chora. Nunca imaginamos que o primeiro a partir seria o mais novo.