
Em pouco mais de um ano, Derli de Oliveira Ribas, 58 anos, voltou a viver o drama de deixar sua casa no município de Jaguari, na região central do Rio Grande do Sul, devido à elevação do rio que dá nome à cidade. Morador do bairro Sagrado Coração de Jesus, ele, a esposa, de 55 anos, e o filho, de 22, precisaram sair às pressas na terça-feira (17), antes que a água tomasse a residência.
Contudo, eles não são os únicos. Conforme a prefeitura, em consequência da grande quantidade de chuva que cai no Estado desde o início da semana, mil pessoas estão fora de casa no município.
Cerca de 150 famílias estão em seis abrigos municipais. A de Derli está alojada em um ginásio, no bairro Consolata, onde 20 famílias dividem o espaço.
— Conseguimos sair ontem, mas perdemos o guarda-roupa já, porque ficou e já tem meio metro de água. Trouxemos o que pudemos pra cá — conta o autônomo.

Esta é a segunda vez, em pouco mais de um ano, que eles precisam sair de casa por causa da cheia. Na primeira, em maio de 2024, eles levaram três dias para conseguir retornar para casa, onde encontraram muita destruição.
O voluntário Alexandre Rosa, 25, está ajudando famílias a saírem de casa de barco desde terça. Para ele, enfrentar essa situação pela segunda vez é um desafio doloroso para todos os moradores:
— A gente já passou por isso ano passado e estamos passando de novo. É horrível de se ver. Só quem passa, sabe — diz Alexandre, que complementa:
— O nível do rio está cada vez pior, porque ele está cheio de entulhos. Então, cada vez que chove, é isso aí.
O nível do rio Jaguari atingiu 13 metros na noite de terça-feira. Na manhã desta quarta (18), o nível estava em 12,70 metros, 3,40 metros acima do normal.
Cidade em calamidade pública
A prefeitura de Jaguari decretou na manhã de quarta-feira estado de calamidade pública em razão da chuva que afetou de forma severa a cidade, alagando ruas e casas. Em entrevista à Rádio Gaúcha, o prefeito do município, Igor Tambara, revelou que há casas tomadas pela água e bairros isolados.
— Temos casas que já estão 90% submersas, infelizmente. O que nos preocupa é que começou uma chuva muito forte durante a madrugada e não cessa — disse Tambara em entrevista ao Gaúcha Atualidade.

Quatro famílias ficaram ilhadas no interior e foram resgatadas com auxílio de helicóptero na tarde de terça-feira. Tambara diz que o Exército está deslocando um veículo anfíbio para o município, a fim de auxiliar nas operações.
Estragos registrados
A prefeitura do município informou nesta quinta-feira (19) que cerca de 300 casas e 150 pontes foram danificadas pela cheia do Rio Jaguari, após as chuvas dos últimos dias.
Aproximadamente mil pessoas seguem fora de casa — 900 estão desalojadas e foram acolhidas por amigos e parentes, enquanto outras cem estão abrigadas em quatro locais usados também na enchente de maio de 2024.
Os bairros Sagrado Coração de Jesus, Rivera, Nossa Senhora da Aparecida e parte do Centro foram os mais atingidos pela enxurrada. As localidades de Jaguarizinho, Várzea e Santo Izidro estão isoladas e só podem ser acessadas com apoio aéreo.
Além do Jaguari, outros rios menores afetam o interior do município, o que deixa pelo menos três comunidades isoladas: Cerro do Zanini, bairro Consolata e 2º Distrito.
A prefeitura disse que mantém contato com essas pessoas e espera o nível da água baixar para recuperar as estradas de acesso. Danos na zona rural ainda estão sendo contabilizados. As aulas no município estão suspensas.
— Temos bairros que estão 100% isolados por causa da chuva — complementou o prefeito.
* Colaborou: Camila Mendes