
O psiquiatra e psicanalista gaúcho Isaac Pechansky morreu na madrugada desta quinta-feira (15), aos 98 anos, em Porto Alegre, de causas naturais, segundo a família.
Com 70 anos de atuação na área da saúde, Isaac foi professor do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) por 35 anos e trabalhou no Hospital Psiquiátrico São Pedro por 25 anos.
Sua trajetória foi marcada por intenso envolvimento institucional, tendo sido presidente da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA) e diretor de seu Instituto de Psicanálise; um dos fundadores do Centro de Estudos Luís Guedes (Celg), sediado no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA); e presidente da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul (APRS).
Um homem simples
O humanismo que caracterizou o trato com pacientes e colegas encontrava eco também na vida pessoal. Isaac foi um amante da música, da literatura e das artes. Ao lado da esposa, a artista plástica Clara Pechansky, com quem era casado desde 1957, frequentou assiduamente concertos, exposições e outros eventos no Brasil e no Exterior.
— Meu pai sempre foi um homem simples. Nunca foi de falar difícil, nem quando estava com alunos nem quando dava aulas ou palestras. Não era um homem tímido, mas sempre ouvia primeiro. Era muito continente, o que eu diria que é uma excelente qualidade para um terapeuta — define o psiquiatra e professor da UFRGS Flávio Pechansky, um dos filhos do casal, assim como Rubem Pechansky, o mais velho, que é sócio e diretor de tecnologia e design da consultoria Hypervisual.
Em 2022, Isaac lançou o livro de ensaios Da Psiquiatria à Psicanálise: Uma Trajetória de Ensino e Aprendizagem (Território das Artes), que reúne seus trabalhos mais significativos, escritos em mais de seis décadas.
Infância em Rio Grande
Isaac Pechansky nasceu no município de Rio Grande, na Região Sul, em 14 de junho de 1926, em uma família de imigrantes judeus vinda da Bessarábia. Na adolescência, sonhava em ser piloto de avião ou jogador de futebol, mas foi estimulado por um irmão, que estudava Engenharia em Porto Alegre, a se mudar para lá também. Na Capital, Isaac concluiu o antigo Segundo Grau (hoje, Ensino Médio) e prestou vestibular para Medicina na UFRGS. Formou-se em 1952, dando início ao caminho na profissão.
O primeiro desafio foi no Hospital Psiquiátrico São Pedro, onde atuou no ambulatório e depois ajudou a criar o Serviço de Terapia Ocupacional, chegando a ser vice-diretor do hospital. Junto com colegas, implementou um trabalho orientado pela humanização, como informa Flávio. Esse "elemento de humanidade” o acompanhou pela vida, nas palavras do filho:
— Ele entendia que havia uma pessoa em sofrimento atrás dos sintomas. Essa humanidade era uma característica não só de sua atividade profissional: ele era assim com todos. Mas usou muito na profissão.
A importância das instituições
Flávio observa que também eram marcas de Isaac a ética e a atenção aos idosos. Ele mesmo foi um exemplo de como aproveitar a etapa final da vida, lembra o filho:
— Jamais vi meu pai entediado, nunca reclamava que não tinha o que fazer. Sempre tinha o que ler, uma música para ouvir ou alguma viagem que queria fazer com a minha mãe.
A atuação de Isaac como professor da UFRGS e em entidades de psiquiatria e psicanálise foi marcada pelo princípio de que as instituições são mais importantes do que as pessoas., como observa Flávio:
— Ele acreditava que a instituição é feita pelas pessoas, mas é maior do que elas. Em outras palavras, ele pensava que se deveria deixar o ego de lado e pensar no coletivo. Era uma característica muito dele.
Além da esposa, Clara, e dos filhos, Rubem e Flávio, Isaac deixa quatro netos: Ana Carolina, Leonardo, Artur e Daniela.