
A Polícia Civil de Santa Catarina indiciou por homicídio culposo — quando não há intenção de matar — o profissional que aplicou anestesia geral no influenciador e empresário Ricardo Godoi, morto em janeiro após sofrer uma parada cardiorrespiratória.
O inquérito foi finalizado nesta semana e enviado ao Ministério Público do Estado (MPSC) na quinta-feira (15), que decidirá se apresenta denúncia à Justiça, informou o g1.
Godoi, que tinha 46 anos, era conhecido nas redes sociais por conteúdos sobre carros de luxo e acumulava mais de 200 mil seguidores. Ele morreu em 20 de janeiro, em Itapema, no litoral norte de Santa Catarina, após receber anestesia antes de iniciar uma tatuagem nas costas.
O procedimento ocorria em uma sala locada do Hospital Dia Revitalite, com equipamentos e equipe contratados por um estúdio particular de tatuagem.
Influenciador teve parada cardíaca antes do início da tatuagem
Segundo o estúdio de tatuagem, a parada cardíaca ocorreu ainda no início da sedação e da intubação, antes do início da tatuagem. O influenciador chegou a ser atendido por um cardiologista, mas não resistiu.
Exames laboratoriais realizados antes do procedimento não teriam apontado riscos aparentes. Ele havia assinado um termo de consentimento informando-se sobre os possíveis perigos da anestesia.
O corpo de Godoi foi sepultado no dia seguinte à sua morte, mas posteriormente exumado por não passar por exame cadavérico. Segundo a polícia, a causa da morte foi mesmo a parada cardiorrespiratória.
O laudo necroscópico confirmou que o influenciador sofria de hipertrofia cardíaca — crescimento anormal do músculo do coração. A suspeita de uso de anabolizantes, mencionada na declaração do hospital, foi confirmada pela família, embora o exame pericial não tenha encontrado vestígios dessas substâncias.
CRM-SC não proíbe uso de anestesia em tatuagens
O Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina (CRM-SC) afirma que, apesar de incomum, não há proibição expressa quanto ao uso de anestesia geral para a realização de tatuagens, desde que o procedimento seja feito com avaliação de risco e por profissional capacitado.
Um parecer técnico do conselho, assinado em junho de 2024, esclarece que a decisão deve levar em conta o equilíbrio entre os benefícios e os perigos envolvidos.
O nome do anestesista responsável não foi divulgado. Segundo o delegado Aden Claus, que coordena o caso, o profissional foi indiciado pela forma como conduziu o procedimento, mas detalhes sobre as conclusões do inquérito não foram revelados até o momento.
Hospital e estúdio se posicionaram após o ocorrido
O Hospital Dia Revitalite afirmou em nota, em janeiro, que apenas cedeu a sala cirúrgica e os equipamentos necessários, todos homologados pelo CRM, e que nenhum membro de sua equipe participou do procedimento.
"Estamos colaborando integralmente com as autoridades competentes e fornecendo todos os esclarecimentos exigidos por lei", diz o comunicado.
O estúdio de tatuagem também lamentou o caso e destacou que o médico anestesista contratado possuía experiência e documentação aprovada pelo hospital.
Segundo o comunicado, o procedimento foi planejado com responsabilidade, incluindo exames prévios, mas a intercorrência aconteceu inesperadamente.
Quem era Ricardo Godoi?
Ricardo Maciel Preto de Godoi era empresário do setor automotivo e fundador da Godoi Group, empresa focada na venda de veículos de luxo.
Pai de quatro filhos e avô de uma menina, era descrito por amigos como um pai presente e marido exemplar.
— Transbordava energia onde chegava, muito amado pelas crianças — disse o amigo Ricardo Portes à imprensa.
O que disse o hospital?
O hospital publicou uma nota sobre o caso em uma rede social:
O Hospital Dia Revitalite vem a público expressar suas mais sinceras condolências aos familiares do Sr. Ricardo Godoi, que infelizmente faleceu durante procedimento realizado por intermédio de médico particular contratado pelo studio de tatuagem e pelo próprio falecido.
Esclarecemos que a atuação do hospital se limitou à disponibilização de uma sala operatória e demais equipamentos necessários homologados pelo CRM/SC e que compõem uma Sala Cirúrgica completa.
Ressaltamos, portanto, que o Hospital Dia Revitalite não teve qualquer participação no procedimento realizado, tampouco qualquer membro do nosso quadro clínico esteve envolvido em qualquer etapa do procedimento até a intercorrência.
Como em todo e qualquer caso, estamos colaborando integralmente com as autoridades competentes e fornecendo todos os esclarecimentos e documentos protocolares exigidos por lei para a apuração das circunstâncias que levaram ao lamentável ocorrido.
Reafirmamos nosso compromisso com a segurança e o bem-estar de todos que utilizam nossas instalações e serviços.
Neste momento de dor, renovamos nosso apoio e solidariedade aos familiares e amigos.
O que disse o estúdio de tatuagem?
Primeiramente o Studio de Tatuagem lamenta profundamente o falecimento do Ricardo, que além de cliente era um grande amigo do proprietário do Studio. Esclarecemos que o Ricardo iria fazer conosco um fechamento de costas com anestesia geral, sedação e intubação. Para isso contratamos um hospital particular com toda equipe, equipamentos e drogas anestésicas necessárias para a segurança do procedimento. Contratamos também um médico com especialização em anestesiologia e experiência em intubação, que teve sua documentação aprovada pelo hospital.
Foram solicitados previamente exames de sangue, que não apontaram nenhum risco explícito [para] a realização do procedimento. O Ricardo assinou o termo de consentimento de risco do procedimento. O que ocorreu é que no começo da sedação e intubação ele teve uma parada cardiorrespiratória, que ocorreu antes mesmo de começarem a tatuarem ele, que foi verificado rapidamente e chamado um cardiologista para tentar reanimar ele, infelizmente sem sucesso.