
Cada vez mais inserido nas empresas, o desenvolvimento de condutas ambientais, sociais e de governança tem potencial de provocar múltiplos efeitos positivos no desempenho do empreendimento. Um deles é a ampliação de mercados para além das fronteiras brasileiras, fortalecendo a exportação.
Economistas e outros especialistas da área afirmam que é praticamente impossível se tornar um protagonista nas exportações sem inserir o ESG — sigla, em inglês, para Environmental, Social and Governance (Ambiental, Social e Governança) no DNA dos negócios.
No contexto atual das relações comerciais internacionais, as boas práticas ESG são exigências de mercados consumidores importantes, principalmente da União Europeia e de alguns países da Ásia. Com isso, empresas que respeitam o meio ambiente, o bem-estar social e colocam na prática os conceitos ligados à ética de governança saem na frente.
Na outra via, empreendimentos que ignoram essa realidade aumentam os muros na relação com parceiros comerciais.
O consumidor estrangeiro, principalmente o europeu, valoriza muito a origem do produto, as práticas que são realizadas para a extração, esterilização e transporte. Então, isso cada vez mais passa a ser uma exigência comercial, inclusive.
GUILHERME PORTELLA DOS SANTOS
Coordenador do Conselho de Meio Ambiente da Fiergs
Coordenador do Conselho de Meio Ambiente (Codema) da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), Guilherme Portella dos Santos acrescenta que esta demanda não necessariamente parte das nações mas da ponta dos negócios:
— (É uma exigência) não propriamente dos países, mas de clientes de redes, de supermercados, que avaliam a pegada de carbono envolvida dentro do processo produtivo, a sustentabilidade da produção envolvida na cadeia daquele produto específico, de origem animal, vegetal ou qualquer que seja.
Na avaliação do diretor, a empresa que não adotar essas práticas, incorporando os conceitos na rotina e na essência do negócio, vai acabar sendo excluída dos mercados:
— Ela pode ser competitiva do ponto de vista de custo industrial, mas se ela não for sustentável, ela vai acabar sendo excluída por escolha dos consumidores que estão cada vez mais atentos à necessidade de comprar produtos de origem sustentável.
O professor Ely José de Mattos, da Escola de Negócios e pesquisador do laboratório PUCRS Data Social, afirma que, em um ambiente de concorrência cada vez mais acirrada, é importante as empresas terem setores específicos para cuidar do ESG. Isso se torna um diferencial competitivo. No entanto, reforça que esses departamentos precisam ter um olhar mais amplo para não fazer apenas compliance com legislação ambiental ou de legislação trabalhista, no caso do ESG, por exemplo.
Estamos falando de um pedaço da organização, da corporação, que está preocupada em fazer ESG no sentido mais amplo. O ESG tem a ver com a concordância, o alinhamento do negócio com os princípios de ESG, de sustentabilidade, de governança e de relacionamento social. Então, ter um setor que lide com isso é sim absolutamente relevante.
ELY JOSÉ DE MATTOS
Professor da Escola de Negócios e pesquisador do laboratório PUCRS Data Social
Com a falta de um selo único que ateste a empresa como uma protagonista no ESG, os certificados socioambientais ganham papel importante, segundo Mattos. Esses documentos aliados à comunicação e outras ações ampliam o alcance dos negócios.
Melhorias internas que geram ganhos externos
A fundadora e CEO da OMA Ativos Ambientais, Juliana Rolla De Leo, afirma que a Europa tem uma maturidade maior em relação à sustentabilidade, inclusive de mercado. Conta com um ambiente que foi maturando e criando estratégias internas de descarbonização dos processos. Com isso, abre-se um leque de oportunidades para as empresas que têm um olhar sistêmico.
Isso ocorre porque as companhias que miram em práticas ESG tem um ganho duplo, com operação mais eficiente, que consequentemente aumenta o alcance dos negócios:
— É um olhar sistêmico mesmo para as organizações que não somente têm capacidade de melhorar nos próprios processos para se tornarem mais eficientes e, consequentemente, mais descarbonizadas, mas também a oportunidade de abrir novos mercados a partir do desenvolvimento ou de projetos que vão gerar, e não somente neutralizar, novos ativos para que sejam colocados no mercado.
A CEO da OMA Ativos Ambientais reforça que as companhias precisam querer e entrar na pauta de maneira genuína, trazendo os conceitos de ESG para dentro da agenda do planejamento estratégico da empresa. Com isso, os resultados ocorrem de maneira mais fluida, ampla e efetiva.
Setores em destaque
O coordenador do Conselho de Meio Ambiente da Fiergs afirma que os efeitos positivos do ESG dentro das empresas e os impactos multiplicadores, como maior êxito nas exportações, já estão entrando com mais força dentro da indústria gaúcha. Ele destaca alguns segmentos que largam na frente nesse sentido:
— Acho que o agronegócio gaúcho é muito atento a isso, há muito tempo. As indústrias de plástico, de celulose, também têm padrões de sustentabilidade muito altos, exercidos há bastante tempo. Não quero isolar nesses setores, mas temos uma indústria no Estado atenta a essa necessidade, que entende, inclusive, que é uma exigência comercial importante para atingir terceiros mercados.
Exemplo na prática
Uma das empresas com destaque na expansão de negócios no Exterior é a gaúcha fabricante de biocombustível Be8. Recentemente, a companhia recebeu a certificação Carb (California Air Resources Board), que permitirá vender biodiesel feito a partir de gordura animal para a Califórnia, nos Estados Unidos. A empresa, que tem planta em Passo Fundo, é a primeira na América do Sul a receber a autorização para exportação dessa rota de produção, emitida pela agência reguladora de qualidade do ar da Califórnia. Com o aval, a Be8 atinge de forma estratégica o mercado americano, um dos mais importantes e exigentes do setor.
O presidente da Be8, Erasmo Carlos Battistella, afirma que a sustentabilidade e as práticas ESG estão no DNA da empresa, que busca liderar a renovação energética para criar um futuro sustentável. Além disso, essa conduta e ações acabam abrindo portas para vários mercados.
O compromisso com a sustentabilidade abre portas para vários mercados, gerando maior opcionalidade para a Be8 na destinação da produção, reduzindo a dependência local e permitindo acessar mercados com diferentes rentabilidades.
ERASMO CARLOS BATTISTELLA
Presidente da Be8
Sobre a conquista de certificações, o executivo afirmou que esse processo nada mais é do que a demonstração para o mundo de que a empresa é exemplo de produção de matérias-primas e de biocombustíveis com sustentabilidade.