Fuligem sobre casas e veículos, ardência nos olhos, qualidade do ar prejudicada, alta temperatura e crescimento das ocorrências de fogo são algumas das consequências sentidas na região de São Borja, na fronteira com a cidade argentina de Santo Tomé, onde um incêndio florestal, combinado com a estiagem, causa devastação.
Neste domingo (20), em torno do meio-dia, um foco de incêndio atingiu uma área de campo entre os dois trevos de acesso a São Borja, na margem de uma estrada. O prefeito Eduardo Bonotto relata que o vento norte soprava forte e fez as chamas alcançarem, nas proximidades da zona de vegetação, uma empresa de transporte, danificando duas carretas. Houve mobilização do Corpo de Bombeiros, da prefeitura e do Exército. O foco foi controlado com o trabalho dos bombeiros e o auxílio de caminhões-pipa, retroescavadeiras e aviões agrícolas. Uma pancada de chuva que caiu sobre São Borja neste domingo ajudou a conter as chamas.
O comandante do 11º Batalhão de Bombeiro Militar, tenente-coronel Rafael Venturella, afirma que cresceram as ocorrências de incêndio na região noroeste do Rio Grande do Sul — ele se dispôs a divulgar estatísticas nos próximos dias. O oficial diz que isso é fruto de uma combinação de fatores, desde a estiagem na região até o calor dos incêndios trazidos da Argentina pelo vento.
— (Está atingindo) residências, empresas e propriedades rurais, a região está sofrendo muito com a estiagem. Estamos com umidade do ar muito baixa, o calor do fogo é muito grande, vai secando o terreno. Trabalhamos em ambiente muito seco. É muito mais fácil de as ignições acontecerem — comenta Venturella.
O cenário já traz consequências para a população da região noroeste do Estado.
— É perceptível pela qualidade do ar e temperatura. Os carros ficam sujos pela fuligem que vem da Argentina — comenta o comandante.
Relato semelhante é feito por Bonotto, prefeito de São Borja:
— As casas estão com fuligem, os olhos ardem um pouco. Parece que tem uma névoa sobre a cidade.
O Rio Grande do Sul e a província de Corrientes, onde fica Santo Tomé, são separados pelo Rio Uruguai. São Borja e o município argentino em que ocorrem os incêndios florestais são ligados pela Ponte Internacional da Integração, cuja extensão é de 1,4 mil metros. Desta forma, não é possível que o fogo do país vizinho chegue ao lado brasileiro pelo solo, como rastilho de pólvora. Contudo, a conjunção da seca e do calor carregado pelo vento está causando aumento de ignições também nos municípios gaúchos.
Do lado argentino, focos de incêndio estão próximos à ponte. As autoridades dizem que, a esta altura, chover é o que mais ajudaria a amenizar o quadro. Apesar da situação de dificuldade, o comandante Venturella avalia que as características dos municípios gaúchos tornam improvável que ocorra no Rio Grande do Sul o mesmo que acontece na Argentina.
— Temos aqui (no RS) o cultivo de plantação rasteira, é mais fácil para o combate ao fogo. Lá na Argentina é pinus e mata nativa. O pinus tem uma seiva que faz o fogo pegar dimensão maior. E aqui temos um Corpo de Bombeiros organizado. Lá em Santo Tomé, são voluntários civis — avalia Venturella.
Dezesseis bombeiros militares do Rio Grande do Sul estão auxiliando no combate aos incêndios florestais no lado argentino. O 11º Batalhão de Bombeiro Militar, responsável pelo atendimento de ocorrências na região do noroeste gaúcho, tem sede em Santo Ângelo. Seus pelotões ficam em Giruá, São Luiz Gonzaga, Santa Rosa, São Borja, Itaqui e Santo Ângelo.