O dono da JBS, Joesley Batista, afirmou, em delação premiada, que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega era o contato da empreiteira para efetuar pagamentos de propinas para parlamentares do PT. Mantega seria o responsável por controlar os repasses ilegais da JBS para o partido por meio de uma espécie de conta corrente. As informações são do jornal O Globo.
Leia mais:
Temer é gravado dando aval para compra do silêncio de Cunha, diz jornal
Deputados da oposição fazem protestos contra Temer no plenário da Câmara
Temer nega "reunião de mafiosos" para acertar propina
O ex-ministro dos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff também seria o operador da JBS no BNDES. Mantega trabalhava para garantir os interesses da empresa no banco público de fomento, negociando aportes ao grupo J&F.
O ex-presidente do BNDES, Luciano Coutinho, teria participado de algumas reuniões para tratar das negociações para garantir as vantagens para a JBS, segundo o delator.
Joesley disse que não tinha intimidade com o ex-presidente Lula, mas relatou, entretanto, um encontro com o petista em que reclamou que as doações estavam atingindo valores astronômicos. Lula não teria tratado do assunto com o executivo.
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a JBS foi a maior doadora para campanhas em 2014, pagando R$ 366 milhões a diversos partidos.
Contrapontos
O que diz Guido Mantega:
Zero Hora está tentando contato com a assessoria de imprensa do ex-ministro, mas ainda não teve retorno.
O que diz o presidente Michel Temer:
Em nota, o Palácio do Planalto afirmou que o presidente "jamais solicitou pagamentos para obter o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha". "Não participou e nem autorizou qualquer movimento com o objetivo de evitar delação ou colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar. O encontro com o empresário Joesley Batista ocorreu no começo de março, no Palácio do Jaburu, mas não houve no diálogo nada que comprometesse a conduta do presidente da República", diz o texto.
"O presidente defende ampla e profunda investigação para apurar todas as denúncias veiculadas pela imprensa, com a responsabilização dos eventuais envolvidos em quaisquer ilícitos que venham a ser comprovados", conclui.
________________
O que pesa contra os citados na delação:
A acusação contra Temer
Em gravação feita por Joesley Batista, Michel Temer indica o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) para receber R$ 500 mil como propina para resolver um assunto do interesse da JBS. Temer também avalizou o repasse de dinheiro para comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do doleiro Lúcio Funaro, ambos presos.
– Tem que manter isso, viu? – incentiva Temer.
A acusação contra Aécio
Em gravação, Joesley Batista registra o senador e presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), pedindo R$ 2 milhões. A entrega do dinheiro a um primo de Aécio, Frederico Pacheco de Medeiros, foi filmada pela Polícia Federal (PF). Rastreamento posterior feito pela PF demonstra que o dinheiro foi depositado em uma empresa do senador Zezé Perrella (PSDB-MG).
A acusação contra Mantega
Joesley Batista relatou ao Ministério Público Federal que seu contato no PT era o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. Segundo o empresário, Mantega defendia os interesses da JBS no BNDES e repassava a propina aos petistas e aliados.
A acusação contra Cunha
Joesley afirmou ainda aos procuradores que pagou R$ 5 milhões para Eduardo Cunha. O dinheiro foi entregue após o ex-deputado ser preso. O pagamento seria referente a um saldo de propina. Joesley disse que devia mais R$ 20 milhões a Cunha pela tramitação de lei sobre a desoneração tributária do setor de frango.