Para um apreciador de cervejas especiais, entrar em uma loja com estantes repletas do produto é sempre diversão garantida. Ainda assim, a alegria pode ser ainda maior quando se presta atenção aos rótulos.
Enquanto algumas cervejarias mais tradicionais optam por um rótulo mais discreto, há um movimento que busca chamar atenção para o produto por meio de garrafas e rótulos diferenciados, divertidos e algumas vezes, até inusitados.
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Isso nem sempre está atrelado unicamente a uma questão de marketing. No caso das cervejarias mais antigas, que mantêm a identidade da época em que foram criadas, o estilo mais clean pode ser atribuído às limitações de recurso gráficos. Conforme o professor de design e um dos proprietários da UNT Intelligence Design, Fabiano Olbrisch, as marcas brasileiras não seguem uma linha específica quando o assunto é criar uma identidade.
– O Brasil copia um pouco de todo mundo. A cerveja artesanal no país começou há cerca de cinco anos. Antes disso, as cervejas comuns traziam rótulos ovalados, com uma cor predominante e um nome muito curto ou muito grande. As artesanais foram obrigadas a ter uma identidade própria para poder cobrar cinco vezes mais do que a comum. O que faz o consumidor gastar mais? Precisa ter algo que gere o estímulo para comprar – explica, destacando que a cerveja artesanal é também uma forma de gerar status.
Com mais de 15 anos de experiência atendendo empresas do ramo de bebidas, Olbrish afirma que não há receita mágica para um bom rótulo. Em geral, ele precisa utilizar a linguagem do público que pretende atingir e levar em conta o local onde o produto será comercializado.
– Se você colocar um diabo no rótulo, sempre vai ter um nicho do mercado que vai comprar o diabo porque acha ele legal, tem outro que compra não pelo diabo, mas só para provar e tem aquele que não vai comprar justamente por causa do diabo. Então, ao fazer um rótulo, a primeira função é não errar. A segunda, é acertar – diverte-se.
MERCADO EM ASCENSÃO
No Brasil, o mercado ainda é muito jovem, e tanto produtores quanto consumidores da bebida seguem em fase de experimentação. Ainda assim, é um nicho que não para de crescer. Vale observar a quantidade de bares e lojas especializadas que estão se multiplicando pela cidade. Rodrigo Flores de Oliveira e Douglas Ferreira, proprietários da franquia Mestre-Cervejeiro.Com, que abriu as portas em janeiro em Caxias do Sul, só têm motivos para comemorar. O movimento está melhor do que o esperado e eles inclusive precisaram comprar mais mesas para colocar do lado de fora da loja nos dias de calor – uma demanda dos clientes.
– Temos que estar constantemente trazendo novos rótulos, porque o nosso consumidor quer experimentar tudo e está sempre em busca de novidades – conta Oliveira.
A experimentação faz com que o consumidor não seja fiel à marca e, se não existe fidelidade, é mais um motivo para se fisgar o público por meio de uma embalagem atrativa.
– Entre o consumidor brasileiro, não chega a 1% os que sabem qualificar a cerveja, o restante bebe qualquer coisa amarela e gelada – brinca Olbrisch.
Conforme dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), uma pesquisa divulgada pela multinacional Mead Westvaco, realizada em cinco países de três continentes, apontou o consumidor brasileiro como o "mais influenciado pela embalagem". Dos entrevistados no Brasil, 52% afirmaram que a embalagem é muito ou extremamente importante para sua decisão e 51% revelaram já ter comprado novos produtos por causa da embalagem.
Oliveira confirma a tendência e estima que cerca de 60% dos clientes escolhem a cerveja a partir da embalagem.
– Especialmente quando é para presentear, as pessoas optam por garrafas maiores e, de preferência, com um rótulo bem chamativo – conta.
Embora o ato de se escolher uma cerveja a partir do rótulo possa ser comparado ao de escolher um livro apenas levando em consideração a capa, segundo a sommelière de cervejas da rede, Gabrielle Thami Demozzi, este não é, necessariamente, um hábito a se abandonar.
– É preciso perceber que existem cervejas que não possuem rótulos tão atraentes, mas que são conceituadas e excelentes, e outras que capricham no trabalho visual, mas esquecem completamente da qualidade do produto – explica.
PARA COLECIONAR
O vendedor Marcelo da Silva Ramos, 38 anos, provou a primeira cerveja artesanal há cerca de cinco anos. Desde então se apaixonou. Passou a estudar o assunto, produzir a própria cerveja três vezes ao ano e também conhecer novos rótulos e guardar alguns que achava mais interessantes.
– Depois de me desfazer de algumas garrafas que tinha guardado, percebi que tinha exemplares que não encontrava mais. Eram algumas que deixaram de ser fabricadas ou sazonais. Foi aí que passei a colecionar mesmo. Tenho duas ou três marcas preferidas que sempre compro, mas procuro encontrar uma inédita também para poder guardar a garrafa – conta o vendedor.
Por estímulo da mulher, Marcele, há um ano e meio mandou fazer um móvel especialmente para abrigar a coleção. Foi quando as garrafas deixaram o topo dos armários para ganhar lugar de destaque no corredor de entrada do apartamento.
– Eu e minha mulher viajamos para cidades próximas em busca novos rótulos, então, o evento de ir buscar a cerveja acaba se tornando um passeio em família – relata.
Apesar de ser mais fiel ao seu estilo preferido, as IPAS, do que aos atrativos dos rótulos, Ramos reuniu cerca de 120 garrafas, e o espaço já está ficando pequeno, especialmente se levar em conta o objetivo do colecionador: reunir todas as marcas de cerveja fabricadas no Estado.