
A campanha para manter o Reino Unido na União Europeia suspendeu suas atividades nesta quinta-feira, depois que a deputada britânica Jo Cox foi morta, com um tiro e facadas, por um homem em Birstall, no norte da Inglaterra.
O primeiro-ministro britânico David Cameron anunciou o cancelamento de um comício a favor da União Europeia em Gibraltar em função do atentado à representante trabalhista, que faz campanha contra a saída do país da UE - o chamado Brexit, que tem plebiscito marcado para o próximo dia 23.
- A mim parece melhor que se tenha suspendido a campanha devido ao terrível ataque contra Jo Cox. Não irei ao comício desta noite em Gibraltar - escreveu no Twitter o primeiro-ministro, que já se encontra nesse encrave britânico no sul da Espanha.
A deputada trabalhista do círculo eleitoral de Batley e Spen (West Yorkshire) foi atingida por um um tiro, e o agressor que teria gritado "Reino Unido primeiro!", um lema da ultradireita britânica. Eleita em 2015, a mãe de dois filhos também teria sido esfaqueada, segundo vários meios de comunicação.
- A polícia foi avisada de um incidente na rua Market, em Birstall, onde uma mulher de 40 anos sofreu ferimentos graves e se encontra em condição crítica. Um homem de 50 anos também sofreu ferimentos leves. Policiais armados foram ao local e um homem de 52 anos foi detido na zona - afirmou a polícia em um comunicado.
No twitter, a campanha "Vote In", favorável à permanência do Reino Unido, avisou que está suspendendo todos os atos políticos no dia. "Nossos pensamentos estão com Jo Cox e sua família", disse, em comunicado.
Advertências contra o Brexit
Até o ataque contra Cox, o dia era agitado pela divulgação dos resultados de uma pesquisa dando aos partidários do Brexit uma vantagem no referendo.
O Fundo Monetário Internacional advertiu na quinta-feira que, se o Reino Unido aprovar sua saída da União Europeia no referendo que será realizado na semana que vem, os mercados serão afetados, dificultando o crescimento econômico.
- Uma votação a favor da saída da UE poderá precipitar um período de alta incerteza, volatilidade nos mercados e um crescimento mais lento, enquanto que o Reino Unido negocie sua nova relação com a UE - disse Gerry Rice, porta-voz do FMI, em uma coletiva de imprensa.
Já a chanceler Angela Merkel declarou que não pode "imaginar que isso (a saída) seja uma vantagem" para os britânicos.
O Banco da Inglaterra (BoE) considerou, por sua vez, que "se o Reino Unido abandonar a UE, a libra esterlina cairá mais, ou até pronunciadamente".
O Financial Times, o jornal econômico britânico, declarou, sem surpresa, ser a favor da permanência na UE, uma posição contrária a do tabloide The Sun, que chamou seus leitores a escolher o Brexit.
"Abandonar a causa de uma reforma construtiva da Europa, que é verdade que é imperfeita, seria derrotista. Seria um ato gratuito de auto-mutilação", escreveu o Financial Times em seu editorial.
O jornal acusou ainda a campanha pelo Brexit de ser "superficialmente patriótica e mentirosa", principalmente por minimizar os custos da ruptura e dramatizar os da permanência.
Pesquisas e mercados
Muito esperada, a pesquisa Ipsos-Mori, realizada por telefone de 11 a 14 de junho com 1.257 pessoas, apontou pela primeira vez uma liderança do "Leave", com 53% contra 47% para o campo favorável à permanência do país no bloco europeu.
Há um mês, o mesmo instituto apontava o "remain" (permanecer) como vencedor, com 57% das intenções de voto contra 43%.
"Uma reviravolta sensacional", comentou o jornal Evening Standard, que nesta quinta-feira publicou a pesquisa, insistindo, no entanto, que "20% dos entrevistados disseram que ainda podem mudar de posição".
A pesquisa, que revela que a migração tornou-se a principal preocupação dos britânicos à frente da economia, reforça ainda mais a crescente ansiedade que começa a alcançar os círculos financeiros.
A Bolsa de Londres abriu novamente em baixa nesta quinta, com as posições dos principais bancos do Reino Unido vulneráveis e com muitas pessoas migrando para portos seguros, como títulos ou ouro. A Bolsa de Londres perdeu 300 pontos desde quarta-feira.
A libra caiu para 79,94 pence por um euro, o seu nível mais baixo em dois meses.
Em contrapartida, o ouro, um refúgio seguro, não para de aumentar e chegou nesta quinta-feira a US$ 1,313.65 a onça, seu mais alto nível desde agosto de 2014.
"O sentimento de aversão ao risco domina os mercados", disse Joe Rundle, da corretora ETX Capital.
* AFP