
Em um ambiente que misturou esperança e desânimo, milhares de simpatizantes do governo acompanharam a votação da abertura do impeachment da presidente Dilma Rousseff por meio de dois telões instalados na Praça da Matriz, em Porto Alegre, mas a desolação acabou predominando com a autorização do envio do processo ao Senado. A transmissão foi cortada antes do fim, e alguns manifestantes favoráveis a Dilma não seguraram as lágrimas. Depois do pronunciamento de lideranças, o público começou a se dispersar.
Quando os deputados começaram a anunciar as suas posições, cada voto despertava reações exaltadas dos ativistas, mas com o tempo o ímpeto do público diminuiu. Justificativas invocando questões religiosas e honras à família, por exemplo, provocam fortes vaias.
– Sempre tem de misturar religião com política – gritou uma militante vestida com camiseta do PT após uma deputada citar a igreja evangélica no voto.
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Por volta das 19h30min, quando o placar mostrava 138 votos a favor e 36 contra, as comemorações dos militantes, que antes pulavam, gritavam e entoavam o canto de "não vai ter golpe" a cada manifestação contrária ao impeachment, foram se tornando mais contidas. A professora Silmara Zago, que chegou à praça para acompanhar a sessão no fim da tarde, mostrava poucas esperanças de uma virada.
– Até pouco tempo atrás eu estava otimista. Estamos levando uma rasteira. Esse é o sentimento. Quando votamos na Dilma, sabíamos que o vice era o Temer, mas ninguém imaginou que isso tudo ia acontecer – lamentou.
Ativistas mais exaltados chegaram a direcionar xingamentos a repórteres em meio à votação, insatisfeitos com a cobertura midiática. O ambiente de tensão tem se intensificado com o aumento da vantagem de votos pró-impeachment. Em uma tenda ao lado do palco, integrantes da cúpula do PT estadual acompanham a sessão com planilhas indicando os prováveis votos.
– Este é o primeiro tempo. Ainda tem muita coisa para acontecer. Teremos muito mais capacidade de mobilização e vamos enfrentar um governo ilegítimo, que não teve aprovação popular e que vai aprofundar a crise com a agenda do ajuste fiscal – disse o presidente do PT estadual, Ary Vanazzi.
No momento em que o clima já era de consternação,organizadores do ato cortaram a transmissão quando faltava um voto para alcançar a decisão na Câmara de Deputados. Muitas pessoas choravam nesse momento.
Começou, então, um ato político comandado por líderes de movimentos sociais e de partidos da base de apoio ao governo Dilma. Os discursos buscavam mobilizar os manifestantes para aquilo que consideram um segundo tempo no processo – a decisão no Senado.