Coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e da Frente Povo sem Medo, que congrega organizações ligadas aos movimentos sociais, Guilherme Boulos disse, nesta terça-feira, que se o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff for efetivado e for decretada a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil será "incendiado por greves, ocupações e mobilizações".
– Não haverá um dia de paz do Brasil. Podem querer derrubar o governo, podem prender arbitrariamente o Lula ou quem quer que seja, podem querer criminalizar os movimentos populares, mas achar que vão fazer isso e depois vai reinar o silêncio e a paz de cemitério é uma ilusão de quem não conhece a história de movimento popular neste país. Não será assim – disse.
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– Há setores do mercado que acham que vão tirar Dilma e vão fazer as "reformas estruturais" que se precisa para a sociedade brasileira. O escambau. Este país vai ser incendiado por greves, por ocupações, mobilizações, travamentos. Se forem até as últimas consequências nisso não vai haver um dia de paz no Brasil – completou.
As declarações foram feitas durante entrevista coletiva concedida por ele e outros coordenadores da Frente Povo Sem Medo, para anunciar atos marcados para a próxima quinta-feira, em diversas cidades brasileiras, "em defesa da democracia e de uma saída pela esquerda". A mobilização conta com apoio de artistas, juristas, economistas e intelectuais.
Em São Paulo, os organizadores esperam reunir 50 mil pessoas no Largo da Batata, na zona oeste da capital, a partir das 17h. Os manifestantes marcharão cerca de seis quilômetros até a sede da Rede Globo, na zona sul da cidade.
No Rio de Janeiro serão realizados dois atos, um pela manhã na Praia Vermelha e outro, à tarde, na Cinelândia. Na capital federal a concentração será em frente ao Brasília Shopping a partir das 16h.
Estão confirmadas manifestações também em Curitiba, Fortaleza, Recife e Uberlândia.
Segundo Boulos, as mobilizações têm objetivo de marcar posição de entidades de esquerda, ligadas aos movimentos populares, que são críticas ao governo federal mas a favor da legalidade das ações das polícias, Ministério Público e Justiça.
– O espírito dessa mobilização é dizer que estamos extremamente preocupados com esta ofensiva antidemocrática e golpista no Brasil, mas que ao mesmo tempo não nos identificamos com a política deste governo. Entendemos que as políticas assumidas pelo governo Dilma são indefensáveis. Defender a democracia não significa defender este governo – afirmou Boulos.
Além dos questionamentos em relação ao governo, o manifesto de convocação dos atos faz duras críticas à atuação do juiz Sérgio Moro, que conduz as investigações em primeira instância da operação Lava-Jato – que tem como pano de fundo a condução coercitiva e eminência da prisão de Lula – e da mídia.
"Não é de hoje que o Estado brasileiro é seletivo. A adoção da Justiça de exceção é regra desde sempre nas periferias urbanas, contra pobres e negros. Direito de defesa aqui nunca existiu", diz o texto.
Segundo Boulos, a TV Globo foi escolhida como alvo por ser é um símbolo da ação das "forças conservadoras e golpistas".
*Estadão Conteúdo