
A embaixada da Arábia Saudita em Teerã foi atacada na noite deste sábado por manifestantes em fúria, após a execução, do clérigo xiita Nimr Baqer Al-Nimr. Al-Nimr, que por mais de uma década estudou Teologia no Irã, fazia parte de um grupo de 47 xiitas e sunitas executados neste sábado por "terrorismo". Ele era considerado pelos saudistas uma importante figura do movimento de contestação ao regime.
Segundo informou a agência de notícias Isna, coquetéis molotov foram lançados contra embaixada saudita. A missão foi invadida pelos manifestantes, que conseguiram subir no telhado do imóvel. O grupo acabou sendo retirado pela polícia. Fotos publicadas em páginas na Internet mostraram algumas pessoas segurando o que parecia ser a bandeira saudita, que teria sido arrancada.
Em Machhad, segunda maior cidade do país (nordeste), o consulado saudita também foi atacado e incendiado, segundo imagens postadas on-line. Depois desses incidentes, o porta-voz do Ministério iraniano das Relações Exteriores, Hossein Jaber Ansari, pediu à polícia diplomática para proteger as missões sauditas.
"Condenando, mais uma vez, a execução injusta do líder religioso Al-Nimr, (Jaber Ansari) pediu a proteção das representações diplomáticas da Arábia Saudita em Teerã e em Machhad (...) e pediu à polícia para impedir qualquer manifestação nesses locais", noticiou a imprensa iraniana.
Também após as execuções, a Arábia Saudita convocou o embaixador do Irã para protestar contra declarações "agressivas" de Teerã. O Ministério das Relações Exteriores de Riad "enviou ao embaixador iraniano (...) uma carta de protesto referente às declarações iranianas agressivas a respeito das sentenças legais aplicadas hoje (sábado) contra terroristas no reino", de acordo com a nota publicada pela agência oficial de notícias SPA.
Riad responsabilizou o governo iraniano "pela proteção" das missões diplomáticas sauditas em seu território. O reino também acusou o Irã - um país "sem vergonha" - de apoiar o "terrorismo" e de prejudicar a estabilidade regional, declarou um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores em nota enviada à SPA.
O Ministério das Relações Exteriores do Irã, uma potência xiita com relações tensas com a Arábia Saudita, prometeu que Riad pagará "um preço alto" pela morte del Al-Nimr.
O xeque Nimr Baqer al-Nimr, de 56 anos, é um crítico feroz da dinastia Al-Saud, no poder. Em 2011, ele liderou um movimento de protesto no leste do país, onde vive grande parte da minoria xiita, uma comunidade que se sente marginalizada no reino.
Em outubro de 2014, o líder xiita foi condenado à morte por "rebelião", "desobediência ao soberano" e "porte de armas" por um tribunal de Riad especializado em casos de terrorismo.
Manifestação dos EUA
Em nota divulgada hoje, o porta-voz do Departamento de Estado americano, John Kirby, considerou que a execução de Al-Nimr ameaça "exacerbar as tensões sectárias, no momento em que se deve acalmá-las".
- Os Estados Unidos pedem ao governo da Arábia Saudita que permita que a oposição se expresse pacificamente - acrescentou o porta-voz da diplomacia americana.
No comunicado, Kirby ressalta a "particular preocupação" do governo americano com a execução do líder religioso, a qual deflagrou indignação de comunidades muçulmanas xiitas ao redor do mundo - incluindo a do Irã - e de organizações de direitos humanos.
*AFP