David Coimbra
O negro americano é mais negro do que o negro brasileiro. São negritudes distintas, apesar das origens idênticas.
É verdade que escravo africano trazido para o Brasil sofreu tanto quanto o escravo africano trazido para os Estados Unidos, mas, a partir da libertação de um e outro, as diferenças começaram a se acentuar.
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Em 1863, quando Lincoln aboliu a escravatura nos Estados Unidos, em meio à Guerra Civil, havia 4,5 milhões de escravos no país. No Brasil, o número de escravos era mais ou menos o mesmo quando da assinatura da Lei Áurea, 25 anos depois. A proporção de escravos para a população total dos países, porém, era de cerca de 15% nos Estados Unidos e 50% no Brasil. Hoje, os descendentes dos escravos nos Estados Unidos são de 10 a 12%. No Brasil, ninguém sabe. Calcula-se que sejam aproximadamente 50%.
No Brasil, no momento em que os escravos se libertaram, eles olharam para o lado e viram milhões de brancos pobres, explorados e discriminados quase tanto quanto eles. Havia uma pequena elite dominante formada pela nobreza e por alguns de seus apaniguados, e, abaixo destes, todo o resto. Donde, a miscigenação tornou-se muito natural, no Brasil.
Nos Estados Unidos não foi assim. Não havia nobreza, nos Estados Unidos. Os homens que atravessaram o oceano para formar os Estados Unidos o fizeram para ficar, não para extrair as riquezas e gozar da boa vida europeia, como ansiavam os portugueses que "descobriram" o Brasil. Assim, nos Estados Unidos havia uma vasta classe média e, sob ela, amassada por ela, os negros.
Nos Estados Unidos, os negros ganharam a liberdade, mas só cem anos depois foram ter os mesmos direitos do que os brancos em todos os Estados. E mesmo após a conquista dos direitos civis, muitos Estados do Sul defendiam a ideia de que brancos e negros americanos deviam ser "iguais, mas separados".
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