Na Grécia antiga, a vitória era cultuada como uma deusa, Nice, figura feminina com asas de pássaro. Nestes tempos incertos, ela bem poderia assumir a forma de uma mãe de seis filhos, com bata amarela e gorro de hospital. Foi assim que Beatrice Yordoldo apareceu na quinta-feira ao deixar o centro de tratamento de ebola na periferia de Monróvia, capital da Libéria. Ela era a última paciente hospitalizada com diagnóstico da doença no país, um dos três mais afetados pelo vírus na África Ocidental, juntamente com Guiné e Serra Leoa, onde a situação continua muito grave.
Diante dos repórteres, Beatrice agradeceu a Deus, aos funcionários chineses do centro onde recebeu cuidados e aos enfermeiros liberianos, nessa ordem. Dos seis filhos que deu à luz, a doença levou três - uma gota no mar de 4.117 vítimas fatais desde que a epidemia foi detectada, em maio do ano passado. Esta é a primeira semana, nos últimos nove meses, em que não são registrados novos casos na Libéria.
A gratidão de Beatrice aos chineses dá o que pensar. Atualmente, a China ocupa a primeira posição entre os parceiros comerciais do continente africano. Nos três países mais afetados pela epidemia - Serra Leoa, Guiné e Libéria -, vivem hoje 20 mil cidadãos chineses, segundo estimativa das Nações Unidas. Em breve, a expressão em mandarim para "ajuda humanitária" será tão corrente como "feng-shui".
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