Desde a sua gênese, há 61 anos, a Petrobras é movida a petróleo e política. O que chama atenção de quem conhece seus meandros, hoje, é o nível que o loteamento alcançou. Partidos tornaram-se donos informais de diretorias. Abastecimento entrou na cota do PP, Internacional ficou com o PMDB, enquanto o PT reuniu a trinca de Serviços, de Gás e Energia e de Exploração e Produção. Divisão que enfraqueceu os poderes da presidência da estatal.
Durona e amiga de Dilma Rousseff, Graça Foster se tornou presidente em 2012, porém não emplacou ou derrubou nomes sem antes ter o amém do partido que comandava a diretoria e do Planalto. Quando forçou a mão, como na saída de Paulo Roberto Costa da área de Abastecimento, enfrentou a revolta do PP, responsável por mantê-lo no cargo de 2004 a 2012.
- Antes dos governos do PT, o presidente mandava mesmo na Petrobras. Indicação política sempre teve, mas ele definia a maior parte dos cargos. A Graça já herdou as diretorias como se fossem áreas independentes de cada partido - explica um antigo executivo da estatal.
Criada em 1953, a Petrobras viveu suas primeiras décadas com predomínio de gestões de militares. Antes de presidir o país, o general linha-dura Ernesto Geisel comandou a empresa de 1969 a 1973. Padrinhos para áreas cobiçadas usavam farda.
A força interna do presidente foi relaxada aos poucos. No governo Fernando Henrique, o PMDB já emplacava seus diretores, prerrogativa reforçada com Lula e Dilma ao longo dos seis anos e meio da gestão de José Sergio Gabrielli. Assim, o padrinho já não precisava ser da legenda de quem está no Planalto, lógica assimilada por funcionários que miravam o alto escalão da estatal, como destacou Paulo Roberto Costa na CPI da Petrobras, no Congresso.
- Desde os governos Sarney, Collor, Itamar, Fernando Henrique, Lula e Dilma, todos os diretores da Petrobras e diretores de outras empresas, se não tivessem apoio político, não chegavam a diretor. Isso é fato - disse Costa em depoimento à CPI.

Profissional do mercado pode ser novo presidente
O apetite pelo primeiro escalão cresceu na mesma proporção do salto da empresa na Era Lula. Com a descoberta do pré-sal, em 2008, e os investimentos pesados em estaleiros e refinarias, a Petrobras acostumou-se com lucros anuais na faixa dos R$ 30 bilhões. Passou a firmar contratos volumosos, muitos superfaturados em um esquema com empreiteiras e partidos políticos, desbaratado pela Operação Lava-Jato.
- Com a imagem da empresa em alta, foi possível financiar campanhas vitoriosas e ganhar dinheiro - resume um deputado governista.
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Com as denúncias, o PT vê derreter um dos seus principais ativos eleitorais. O Planalto estuda formas de recuperar a companhia, o que deve enfraquecer a ingerência partidária nas diretorias. Procurado no mercado, o próximo presidente tende a ser forte internamente.
Para a vaga da futura diretoria de governança, o indicado virá de uma lista tríplice com nomes pré-selecionados por consultoria externa, modelo que poderá se repetir em outras áreas. Executivo da estatal no governo FH, o senador Delcídio do Amaral (no PT desde 2002) elogia a medida.
- O desafio é estabelecer instrumentos de controle que impeçam desvios, independentemente de indicações políticas nos cargos de alto escalão - afirma.
Bênção política para assumir
A interferência política na Petrobras não é novidade. A prática advém do nascimento da estatal, em 1953. Em 61 anos, perpassa uma linha do tempo que vai de Getúlio Vargas a Dilma Rousseff.
Vargas indicou o primeiro presidente da empresa. Escolheu Juracy Magalhães, tenente que participou da Revolução de 30 e como prêmio governou a Bahia. Juscelino Kubitschek escolheu Janary Nunes, militar que governou o Amapá.
Convertida em orgulho nacional, a estatal teve presidentes militares ao longo de sua história. Com a redemocratização, iniciou-se a era de técnicos do mercado ou funcionários de carreira, ambos com formação em centros de referência que justificassem no currículo a bênção política.
Escolhido por Itamar Franco, Joel Rennó, engenheiro com cursos no Exterior, teve apoio tucano e de Antonio Carlos Magalhães para ficar na presidência no governo Fernando Henrique, quando foi assinado o decreto que permitiu à Petrobras contratar por meio de carta-convite, modalidade criticada pelo Tribunal de Contas da União por facilitar a cartelização.
Ainda com FH, Rennó deu lugar a José Coutinho Barbosa, substituído por Henri Philippe Reichstul. Responsável pela tentativa de rebatizar a companhia como Petrobrax, ostentava pós-graduação em Oxford.
Lula teve como presidentes o ex-senador petista José Eduardo Dutra e, depois, chancelou José Sergio Gabrielli, economista com doutorado na Universidade de Boston. Com a expansão da companhia em sua gestão, chegou a ter pretensões de se candidatar ao governo da Bahia. O plano acabou ficando pelo meio do caminho.