
O estopim para a abertura da investigação que levou à prisão de dom Marcos de Santa Helena, nesta terça-feira, em Caçapava do Sul, foi a publicação, em março, do livro Sem Medo de Falar _ Relato de Uma Vítima de Pedofilia, do empresário mineiro Marcelo Ribeiro, 48 anos.
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Na obra, que deu visibilidade nacional ao caso, Ribeiro contaem detalhes como foram os abusos sexuais que teria sofrido dos 12 aos 15 anos (o assédio teria começado aos 9 anos), quando participava de um coral da igreja católica da cidade de Novo Hamburgo, na Região Metropolitana de Porto Alegre.
Marcelo já começa o livro explicando aos leitores que, há apenas seis anos, conseguiu contar para a mulher que tinha sido abusado na infância. Na época, o casamento dos dois passava por uma crise e ele tentava entender porque tinha um comportamento considerado agressivo. Ribeiro escreve no livro que "o seu passado estava enterrado pelo sofrimento, pela vergonha e pelo medo de falar, e o silêncio é o melhor amigo da pedofilia".
_ Não havia desejo, era obediência. Ele já havia me beijado escondido várias vezes quando fizemos sexo pela primeira vez, na casa paroquial. O maestro dizia que a nossa história era de amor. Só fui tomar consciência que era uma vítima de pedofilia muito tempo depois _ contou Ribeiro em entrevista por telefone ao Diário.
No livro, o empresário não diz qual é nome do homem que teria cometido os abusos. Porém, depois da publicação, ele foi procurado por um violoncelista, que contou que também foi vítima do ex-padre. Só então, Marcelo, decidiu revelar o nome de Santa Helena. E foi o que fez quando começou a ser procurado pela imprensa para falar sobre o assunto.
_ Eu demorei muitos anos para entender o que tinha acontecido. Achava que aquilo tudo só tinha acontecido comigo. Não pensava que havia outras vítimas. Tudo começou em uma viagem, quando eu acordei com ele na minha cama. Eu já tinha uma obediência total por ele, ele era o nosso maestro _ diz Ribeiro.
Ex-padre negou ser pedófilo
Em entrevista ao Diário e à RBS TV, em 28 de julho, dom Marcos negou ser pedófilo e disse que o livro escrito pelo empresário é movido por ódio e que se trata de um grande absurdo:

_ Ele não sabe o que dizer para impressionar as pessoas que o escutam. Sei que ele escreveu um livro que não li nem me interesso em ler. Diz tudo quanto é coisa que lhe vem à cabeça, e o papel aceita tudo o que se escreve. Ele pagando, já que certamente pagou pela impressão, pode dizer o que quer e pronto.