
Nas 53 páginas do despacho em que ordena a prisão de diretores das maiores empreiteiras do país, o juiz Sergio Moro ressalta como indícios de corrupção diálogos que mostram remessa de dinheiro feita para o Rio Grande do Sul.
O intermediador é José Ricardo Nogueira Breghirolli, funcionário da empreiteira OAS, preso na sexta-feira na Lava-Jato, da Polícia Federal (PF). Em contato em 3 de dezembro de 2013, por mensagens de celular, ele pede ao doleiro Alberto Youssef que repasse R$ 57 mil a uma pessoa em Canoas.
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O texto diz para "procurar por Carlos Fontana. Avenida Guilherme Schell, 2.952, Canoas". Youssef responde que quem vai procurar Fontana é "Adarico". Conforme observado pelo juiz Moro, o doleiro faz referência direta a Adarico Negromonte Filho, subordinado do doleiro e encarregado de transporte de valores em espécie.
Adarico, cujo apelido é Maringá, está foragido e é procurado pela Interpol. Ele é irmão do ex-ministro das Cidades Mário Negromonte (PP). Seu nome está registrado em um dos 32 telefones apreendidos com Youssef, em março. Foram rastreadas pelo menos 34 ligações e mensagens entre os dois.
Transporte do dinheiro era feito por terra e ar
Em documentos apreendidos na sede da GFD Empreendimentos, escritório de Youssef em São Paulo, foi encontrada uma tabela de contabilidade com referência a transferências com o nome "Maringá" à frente. A PF afirma que se refere aos valores transportados pelo irmão do ex-ministro.
Conforme denúncia do Ministério Público Federal, os valores em espécie repassados pelo escritório de Youssef eram transportados em voos domésticos, ocultados no corpo ou em valise. E também em aviões particulares ou veículos blindados de transporte de valores. O próprio doleiro admitiu, em delação premiada, que usava Adarico para esse tipo de missão.
No destino da propina, um escritório fechado
O endereço citado na troca de mensagens entre o funcionário da OAS e o doleiro Alberto Youssef, no número 2.952 da Avenida Guilherme Schell, é onde funciona a representação do consórcio Queiroz Galvão/OAS/Brasília em Canoas. Essa associação de empreiteiras foi responsável pela construção do lote 3 da Rodovia do Parque (BR-448), um trecho de 7,9 km.
ZH esteve lá. O escritório, alugado em nome da Queiroz Galvão, está fechado desde as vésperas das eleições, dizem funcionários de empresas vizinhas. Jornais e correspondência se acumulam à porta.
- A toda hora vinha gente pedir emprego aí, outros para receber pagamento por serviço prestado. Agora está fechado há semanas - informa a secretária de uma empresa vizinha ao consórcio.
O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, principal delator do esquema, diz que recebeu R$ 600 mil em 2013 da Queiroz Galvão, a título de consultoria, uma forma disfarçada de propina.
E quem é Carlos Fontana, que teria recebido os R$ 57 mil em Canoas? Por que foi usado um doleiro para fazer o pagamento? ZH questionou a Queiroz Galvão a respeito, já que o escritório está em seu nome, mas a empresa disse desconhecer o episódio.
A Queiroz Galvão recebeu neste ano R$ 177 milhões do governo federal. Em 2013, foram R$ 508 milhões. Entregou três plataformas de petróleo à Petrobras, além de dois navios à Transpetro. Lidera o consórcio QGI, que monta plataformas petrolíferas em Rio Grande.
CONTRAPONTOS
O que diz a construtora Queiroz Galvão
À ZH, a empresa disse desconhecer o episódio da remessa de dinheiro mencionada em Canoas. Em depoimentos prestados à PF em Curitiba, o diretor-executivo da Queiroz Galvão, Othon Zanoide, e o ex-presidente da construtora Ildefonso Colares Filho, presos na Operação Lava-Jato, negaram a existência de um cartel que atuava em contratos da Petrobras.
Zanoide disse que a Queiroz Galvão jamais pagou propina a diretores da Petrobras. Colares Filho também disse ignorar a existência de um cartel nos empreendimentos da petroleira.
- Se existia, ela (a Queiroz Galvão) não participava. Desconheço o clube - enfatizou, referindo-se à expressão com que os delatores do esquema definem o cartel.
O que diz a OAS
Procurada por ZH, a empresa não se manifestou a respeito do assunto. José Ricardo Nogueira Breghirolli, funcionário da OAS, se reservou o direito de ficar em silêncio perante a Polícia Federal.