O boliviano Evo Morales, tido como o mais notório seguidor do chavismo, está próximo de se eleger para o terceiro mandato com uma condução da economia elogiada até pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Os números da economia boliviana parecem acompanhar os índices de Evo nas pesquisas para as eleições presidenciais do próximo 12 de outubro - uma semana depois das brasileiras. Levantamento do instituto Ipsos, Apoyo, Opinión y Mercado estima 59% dos votos para Evo contra 17% do postulante da Unidade Democrática (UD), Samuel Doria Medina. Para ganhar no primeiro turno, um candidato precisa ter mais de 50% dos votos válidos ou 40%, caso a diferença em relação ao segundo colocado seja superior a 10 pontos.
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Na economia, os índices também são positivos. Evo critica o FMI em público, mas o órgão, no mais recente relatório sobre o país, parabenizou o governo pela gestão e pelo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Tida como nação mais pobre da América do Sul, a Bolívia cresceu 6,5% em 2013, melhor resultado em três décadas. De 2007 a 2012, a expansão anual do PIB foi de 4,8%. Para 2014, o FMI prevê crescimento de algo como 5,5%.
Tão favoráveis são os números, que o partido de Evo, o Movimento ao Socialismo (MAS), já pensa em mudar a Constituição para, em 2019, ele buscar o quarto mandato. O MAS tem dois terços do Congresso - haverá também eleições parlamentares. O mandatário pode ser candidato, nestas eleições, em razão de uma manobra jurídica. A Bolívia permite uma reeleição, mas o atual mandato de Evo Morales, iniciado em 2009, é o que está sendo considerado. Em fevereiro de 2009, o país foi refundado como Estado Plurinacional da Bolívia, depois de um referendo. Evo havia sido eleito presidente pela primeira vez em 2005.
A popularidade de Evo se sustenta na economia e nos projetos sociais. O PIB do país depende das vendas de hidrocarbonetos e minerais, altamente taxados. Com a arrecadação, há programas para crianças (o Juancito Pinto), para mães (o Juana Azurduy) e para os idosos (o Renda Dignidade).
Política socialista com equilíbrio econômico
Em entrevista para o The New York Times, o ministro da Economia, Luis Arce, tratado como artífice de um sucesso, disse que a Bolívia está "mostrando ao mundo que é possível ter políticas socialistas com equilíbrio macroeconômico".
- Trabalhamos para beneficiar os pobres, mas é possível fazer isso aplicando os fundamentos da ciência econômica - disse ele.
Um dos principais brasilianistas da atualidade, o professor americano Barry Ames, da Universidade de Pittsburgh (EUA), também é especialista em Bolívia (e em América do Sul). Ames diz que Evo tem trabalhado com discrição.
- Ele não faz mais muito barulho. Adotou um governo mais calmo, mais tranquilo. Talvez tenha ficado mais lulista ou mujiquista do que chavista. E está fazendo um bom governo. Talvez essa moderação tenha ajudado seu governo - afirma o brasilianista.
A respeito da América do Sul, Ames acredita que os Estados Unidos veem a Venezuela perto de, nas próximas eleições, ficar nas mãos de opositores ao chavismo e de Cuba abrir o regime castrista.
- O presidente Barack Obama certamente acorda, todas as manhãs, e pensa: lá está tudo bem. O Departamento de Estado vê a América Latina mais moderada, e Evo Morales é um exemplo disso.
A análise de Ames é corroborada por economistas. É praticamente unânime a opinião segundo a qual, independentemente de bravatas bolivarianas, os fundamentos econômicos do país são positivos. A economista que chefiou a mais recente missão de monitoramento do FMI à Bolívia, Ana Corbacho, não deixou por menos:
- Há anos o desempenho macroeconômico da Bolívia é muito bom. Isso, com as políticas sociais, ajudou a aumentar em três vezes a renda média da população e reduziu a pobreza e a desigualdade.
Elogios, mas olho na pouca diversidade
O Banco Mundial e a revista britânica The Economist elogiam até a nacionalização do setor de hidrocarbonetos (petróleo e gás), por fortalecer as receitas, apesar de os recursos estarem concentrados e da ausência de diversidade econômica. Entendem que a estratégia aumentou a arrecadação e reduziu a dívida, possibilitando os investimentos - o país passou a atrair mais capital produtivo. Em quatro anos, os aportes estrangeiros diretos ficaram em 3,5% do PIB. O acúmulo de reservas chega a US$ 14 bilhões. Segundo o FMI, isso atinge metade do PIB local.
Houve reversão das privatizações dos instáveis anos 1990, em especial nos setores de gás, petróleo, telecomunicações e transportes aéreo e ferroviário. O mercado agradece: o país se tornou um porto seguro sem mar. Ainda assim, a falta de diversidade mantém o alerta aceso. O setor de hidrocarbonetos representa metade das exportações e um terço das receitas. Praticamente todo o combustível é exportado para Brasil e Argentina.
Polêmica homofóbica
Em 2010, durante discurso na Conferência Mundial dos Povos sobre as Mudanças Climáticas e os Direitos da Mãe Terra, Evo disse que comer frangos engordados com hormônios femininos é a causa dos "desvios" da sexualidade masculina (referindo-se à homossexualidade) e da calvície.
Vestimenta
O presidente boliviano, indígena da etnia aimará e nascido em uma pequena cidade mineira do departamento de Oruro, rejeita ternos com gravata. Usa, inclusive em encontros oficiais, roupas tradicionais bolivianas, como o suéter de tecido de alpaca estampado com desenhos indígenas.
Sangue quente
Em episódio rumoroso, ao participar de um jogo de futebol, Evo trocou agressões físicas com um jogador adversário. Quando criança, era conhecido pelo temperamento agressivo. Na escola, chegou a ser proibido de participar dos jogos de futebol em razão da agressividade.
Formação
Evo terminou o ensino secundário e depois aprendeu, segundo diz, com a "universidade da vida". Além de plantar folhas de coca e de ter se tornado sindicalista nesse ramo de atividade com discursos sempre de forte crítica ao capitalismo, ele foi pastor de lhamas e pedreiro.