Dezenas de pessoas se aglomeram de pé e distribuídas em um punhado de bancos, no entorno de um prédio comercial de esquina. O local fica no Centro de Vera Cruz, a duas quadras da famosa referência do município, a Caixa d'Água. Os ônibus chegam, descarregam passageiros e, quase ao mesmo tempo, outras pessoas embarcam. Sorte de quem conseguir um lugar. A rodoviária foi transformada em parada de ônibus.
- Semana passada, ia pra Santa Maria, visitar a família. Vim de mala e tudo, mas quando o ônibus chegou, não tinha lugar para sentar. Tive que esperar por duas horas pelo próximo - exemplifica o pedreiro Rafael da Silva, 24 anos, com o filho de três meses no colo.
Sem novos interessados em assumir a administração da rodoviária, a cidade do Vale do Rio Pardo é uma das 129 em que a licitação permanece aberta. O antigo concessionário, que administrou a estação por três décadas, se recusou a concorrer e, depois de aviso prévio ao Daer de 60 dias, fechou os dois guichês de venda de passagens em 17 de março.
- Não dava mais pra continuar tendo prejuízo mensal de R$ 2 mil. A venda de passagens não cobria nem a folha de pagamento dos quatro funcionários, quem dirá pagar taxas, impostos e manutenção da rodoviária - afirma Edmundo Albers, dono da Panal.
Como o prédio onde funcionava a estação é da empresa, a sala que funcionava para espera - único refúgio de frio e chuva - e onde ficavam os guichês está trancada, à espera de alguém que queira alugá-la. Outros 10 espaços já estão cedidos à lancheria, padaria e lojas.
- Vendíamos cerca de 10 mil passagens por mês, mas 90% delas custa até R$ 5, porque são de trajetos curtos. Isso dá um lucro de R$ 0,55, mas o trabalho para vender cada uma é o mesmo da que custa R$ 50, que dá 10 vezes mais lucro. É um sistema falido - aponta Albers.
Sem horários dos itinerários disponíveis, os motoristas viraram a única fonte de informação, e os funcionários, que antes apenas checavam os bilhetes, se transformaram em cobradores.
- A gente sabe de cor os horários dos ônibus que pegamos sempre, mas se vamos para outro lugar, temos de esperar o motorista e perguntar. Fora isso, não tem banheiro, mãe com filho não tem onde trocar o bebê, sem falar quando chove ou quando está frio - resume a agricultora Oraci Rodrigues da Silva, 52 anos.
* Zero Hora