
Convencido de que Odilaine Uglione, mãe do menino Bernardo Uglione Boldrini, não cometeu suicídio, o advogado da família, Marlon Taborda, entrou com um pedido na última quarta-feira, na Justiça de Três Passos, de reabertura da investigação da morte de Odilaine, ocorrida em fevereiro de 2010. O médico Leandro Boldrini, à época marido de Odilaine, estava com ela no momento da morte. Taborda elencou 17 suspeitas sobre o suposto suicídio.
Leia mais sobre o Caso Bernardo:
Veja detalhes do depoimento de Boldrini à polícia
Inquérito apontará contradições para incriminar Boldrini
Perícia encontra Midazolam no corpo de Bernardo
Madrasta de Bernardo isenta pai do menino do crime
Leandro Boldrini pedirá separação de Graciele Ugulini
O advogado entende, por exemplo, que há divergências entre os laudos periciais e os relatórios dos atendimentos ambulatoriais de pronto socorro e UTI, e diz que faltou ao inquérito a tomografia computadorizada e o exame de raio-X do crânio da vítima:
- Os relatórios apresentam referências de perfuração de projétil de arma de fogo no lado direito, um deles na região temporal direita e o outro no cônduto auditivo direito. O laudo do DML refere perfuração no palato esquerdo, de baixo para cima, na direção esquerda do crânio. Além disso, o laudo residuográfico de pólvora refere que Odilaine teria resíduo de pólvora e chumbo na mão esquerda, mas ela era destra. No movimento técnico que consta no DML, com a mão esquerda não é possível que uma pessoa perfure o palato esquerdo, para a esquerda - argumenta o advogado, que não entende "tamanha divergência de localização e identificação da lesão".
Outra alegação de Taborda na petição, que já chegou às mãos da promotora Dinamárcia Maciel de Oliveira, em Três Passos, é que a mãe de Bernardo tinha lesões no antebraço direito e no lábio inferior, o que demonstraria que ela foi agredida ou forçada antes de morrer.
"Tal referência indica que, no lábio da vítima tinha uma equimose escurecida (que não fuligem), e, ao que tudo indica, que provavelmente a arma foi forçada ou pressionada no lábio inferior, podendo tal ser decorrente até mesmo de uma batida com a arma, uma pancada, sem corte, podendo ser indicativo de resistência e até mesmo luta", aponta a petição.
O defensor sublinha, no texto, que "não consta dos autos nem a tomografia computadorizada do crânio da vítima, e nem tampouco o exame e laudo de raio-X" e defende que a morte de Bernardo, por si só, já serviria para reabrir o inquérito.
Carta e assinatura polêmicas
Marlon Taborda também afirma, na petição, que a carta deixada por Odilaine um dia antes da morte, no dia 9 de fevereiro (veja abaixo), não teria sido escrita por ela devido a um erro na grafia da assinatura:

- Não sabemos as circunstâncias em que foi escrita a carta, se a Odilaine foi forçada, coagida ou até se outra pessoa escreveu - questiona Taborda.
Ministério Público se manifestará em breve
A promotora de Três Passos Dinamárcia Maciel de Oliveira salienta que na época da morte da mãe de Bernardo, "ninguém na cidade levantou qualquer possibilidade que não fosse suicídio e não havendo dúvidas sobre o laudo pericial, não se cogitou outra hipótese".
Agora, ela admite a possibilidade de que a investigação seja reaberta. Mas para isso será feita uma análise técnica rigorosa:
- Você precisa demonstrar para o juiz que havia uma prova importante. Estamos analisando isso de mente aberta, com seriedade, para ver se há um indicativo forte. O juiz fará uma análise própria a respeito. Ele não é obrigado a acompanhar a posição do MP. Nós temos a incumbência legal de tocar a ação penal, a investigação.
O advogado de Leandro Boldrini, Jader Marques, disse que vai esperar a manifestação do Ministério Público e o acesso à petição para falar sobre o assunto.
Relembre o caso
Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, desapareceu no dia 4 de abril, uma sexta-feira, em Três Passos, município do Noroeste. De acordo com o pai, o médico cirurgião Leandro Boldrini, 38 anos, ele teria ido à tarde para a cidade de Frederico Westphalen com a madrasta, Graciele Ugulini, 36 anos, para comprar uma TV.
De volta a Três Passos, o menino teria dito que passaria o final de semana na casa de um amigo. Como no domingo ele não retornou, o pai acionou a polícia. Boldrini chegou a contatar uma rádio local para anunciar o desaparecimento. Cartazes com fotos de Bernardo foram espalhados pela cidade, por Santa Maria e Passo Fundo.
Na noite de segunda-feira, dia 14, o corpo do menino foi encontrado no interior de Frederico Westphalen dentro de um saco plástico e enterrado às margens do Rio Mico, na localidade de Linha São Francisco, interior do município.
Segundo a Polícia Civil, Bernardo foi dopado antes de ser morto com uma injeção letal no dia 4. Seu corpo foi velado em Santa Maria e sepultado na mesma cidade. No dia 14, foram presos o médico Leandro Boldrini - que tem uma clínica particular em Três Passos e atua no hospital do município -, a madrasta e uma terceira pessoa, identificada como Edelvânia Wirganovicz, 40 anos, que colaborou com a identificação do corpo.