Esqueça todas - ou quase todas - as presunções que você tem a respeito de ópera.
Desta sexta-feira (28/3) a domingo (30/3), às 20h, no Teatro Renascença, o público terá a rara oportunidade de assistir à estreia de uma obra desse gênero criada por um compositor porto-alegrense contemporâneo.
Seguindo a ideia de que a ópera é um gênero multimídia por excelência, P-U-N-C-H se vale de música, canto, dança e vídeo. O libreto conta com textos em cinco línguas (português, inglês, francês, alemão e iídiche) e é baseado no polêmico livro IBM e o Holocausto (2001), do jornalista Edwin Black, que descortinou a colaboração entre a gigante da tecnologia e a Alemanha nazista. Mas não há uma trama no sentido clássico do termo, nem personagens claramente delineados.
Influenciada musicalmente pelos compositores americanos Elliott Carter (1908 - 2012) e Steve Reich (1936), esta ópera é um projeto acalentado desde 2011 pelo relativamente jovem e muito ousado Christian Benvenuti, 38 anos, que assina música e texto. Formado no Departamento de Música da UFRGS, ele realizou doutorado na Inglaterra, tendo passado seis anos no Exterior. Desde 2010, está de volta a Porto Alegre, viajando semanalmente para Curitiba, onde leciona na Universidade Federal do Paraná. Sua filiação estética? Ele desconversa:
- Gosto de compor sempre coisas diferentes. Se me sinto confortável com uma linha estética, é hora de mudar. O ideal que todo compositor deveria buscar é compor sua própria música. Mas é o trabalho de uma vida.
Para levar P-U-N-C-H à cena, Benvenuti convidou uma equipe acostumada a desafiar fronteiras entre linguagens artísticas. Fazem parte deste time Alexandre Vargas (ex-integrante do grupo teatral Falos & Stercus), na direção cênica, e Silvia Wolff, na direção coreográfica. O elenco não vem exclusivamente da tradição lírica: conta com 19 integrantes, entre jovens e experientes, com formações diversas que passam pelas músicas erudita, popular ou antiga. Essas quebras de protocolo são frutos da inventividade e da necessidade. Benvenuti explica:
- Temos que usar as dificuldades a nosso favor. Porto Alegre não tem uma casa de ópera, mas uma ópera contemporânea abre mão de certas convenções. No nosso caso, a orquestra (com 10 músicos, regidos pelo compositor) fica no fundo do palco, integrada à cena, e não em um fosso, como mandaria a tradição. A sensação que os espectadores provavelmente terão é de não ter certeza se é um espetáculo de dança, de teatro ou uma instalação de vídeo.
Entre as sequências inusitadas do espetáculo, está uma cena em que uma integrante do elenco toca guitarra ao vivo e um trecho em que outro artista tem o cabelo completamente raspado - em cada uma das três noites, será uma pessoa diferente. O diretor cênico Alexandre Vargas observa que, no plano da encenação, procurou superar o que chama de "artificialismo" da ópera tradicional, buscando referências nas montagens nada convencionais do americano Robert Wilson e do inglês Peter Brook:
- A parte cênica dialoga com a forma de composição que ele (Benvenuti) tem. Nesse sentido, acho que é um espetáculo vivo. A cena está se erguendo. Não vejo a estreia como um ponto final do trabalho.
P-U-N-C-H teve orçamento de cerca de R$ 80 mil, financiados pelo Prêmio Funarte Petrobras de Dança Klauss Vianna e por um crowdfunding no site Catarse.
P-U-N-C-H - UMA ÓPERA SOBRE LIBERDADE, IDENTIDADE E PORCENTAGEM
> Desta sexta-feira (28/3) a domingo (30/3), às 20h.
> Teatro Renascença (Erico Verissimo, 307), em Porto Alegre, fone: (51) 3221-6622.
> Ingressos a R$ 25.
Soco na tradição
"P-U-N-C-H", do compositor gaúcho Christian Benvenuti, desafia as convenções da ópera
Obra estreia nesta sexta-feira no Teatro Renascença, em Porto Alegre
Fábio Prikladnicki
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