Depois das declarações polêmicas do prefeito José Fortunati, que chamou o avião da American Airlines da linha Porto Alegre-Miami de "sucata" e criticou o tratamento que a empresa americana dá à Capital, outros passageiros da linha aérea aproveitaram para reclamar.
As queixas dão conta principalmente da falta de conforto e de entretenimento na longa viagem e reacenderam a discussão em torno da pista do aeroporto Salgado Filho.
A polêmica expõe duas situações. A primeira é que Porto Alegre não faz parte das principais rotas do mundo e, por isso, não é a primeira a receber aviões mais modernos e confortáveis. A segunda são as limitações impostas pelo tamanho pista do Salgado Filho, que espera por ampliação há anos e impede a operação de aeronaves maiores e mais bem equipadas utilizadas em voos de longa distância, como o Boeing 777.
- Com certeza, a American Airlines utiliza em Porto Alegre uma aeronave que estava disponível em sua frota. É algo que qualquer empresa aérea do mundo faria, um jogo de decisões - explica o especialista em transporte aéreo Respicio Espirito Santo Junior, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
As principais reclamações dos usuários são relacionadas a falta de monitores individuais, assentos reclináveis, muito barulho e suposta falta de segurança. Em resposta a oito perguntas específicas sobre esses pontos encaminhadas por ZH, a empresa apenas garante que "segue os mais elevados padrões de segurança, atendendo rigorosamente as regulamentações das autoridades aeronáuticas". O presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens no Estado (Abav-RS), Danilo Martins, aponta que nos Boeing 767 da empresa americana há poucas opções de lazer, mas ressalta que se o avião não oferece conforto, também não oferece risco.
- Não é uma sucata. Podia ser um avião melhor, não é de primeira linha - diz Martins.
Conforme o ex-piloto Cláudio Candiota, presidente da Associação Nacional em Defesa dos Direitos dos Passageiros do Transporte Aéreo, a manutenção de grandes empresas como a American Airlines é prioridade:
- Não há problema de segurança, os aviões são todos informatizados e avisam caso qualquer coisa aconteça.
No voo diário entre Porto Alegre e Miami, a American Airlines utiliza o Boeing 767-300ER. Na frota, há 58 aeronaves desse tipo, que realizam também voos para Milão e Paris, conforme comunicado da companhia. A empresa informa ainda que começará neste trimestre a modernização das aeronaves, "que passarão a contar com telas individuais de entretenimento de bordo na classe econômica, além de poltronas que reclinam como uma cama na classe executiva".
O Boeing 777, mais moderno, é bastante utilizado em voos no mundo inteiro. Em Porto Alegre, porém, não pode ser utilizado: o tamanho mínimo de pista que o modelo precisa para operar é de 2,5 quilômetros. Atualmente, a pista do Salgado Filho tem 2,1 quilômetros _ a previsão é de que alcance 3,2 quilômetros depois das obras de ampliação, que ficaram para o fim de 2016. A extensão seria o suficiente para receber o 777 e outras aeronaves maiores e mais modernas, explica Candiota:
- O 777 é mais espaçoso, mais silencioso, mais moderno. Os assentos têm televisão e maior espaço entre eles. Na minha percepção, é o nosso velho problema da pista.
Repercussões negativas se acenturaram após crítica do prefeito
"São aparelhos velhos, os bancos não reclinam e são duros."
Carla Schmitz
"Infelizmente, o avião que a American Airlines colocou para fazer o voo Porto Alegre-Miami é uma sucata. Ao sair de Miami, a manutenção teve que reparar uma roda e o pneu da aeronave. Antes de decolar, o avião apresentou um problema na asa direita."
José Fortunati, prefeito de Porto Alegre
"O avião, de fato, sequer tem sistema de entretenimento compatível com uma viagem internacional."
Renata Cristina Kredens