Marcelo Gonzatto
Apontada como pivô da discórdia entre dois dos principais nomes do império, a enigmática baronesa do Triunfo tinha qualidades de sobra para despertar paixões.
Relatos da época indicam que, além de bela, era inteligente, articulada, líder política da região e defensora dos jovens que estudavam na Escola Militar localizada diante de sua casa em Rio Pardo. Graças a isso, recebeu o epíteto de "mãe dos soldados".
De acordo com o livro Uma Luz para a História do Rio Grande: Rio Pardo 200 Anos - Cultura, Arte e Memória, a mulher nascida em Porto Alegre em 1838 costumava interceder junto aos comandantes para aliviar penas impostas aos praças por falhas de menor importância. Além disso, protegia alunos militares ameaçados por trotes dos colegas mais velhos.
Em suas memórias, o general Pantaleão Pessoa recordou sobre ela: "Recomendou-me a alguns do 2º e do 3º ano (da Escola Preparatória), para que me abrandassem os trotes inevitáveis". Diante de tantos predicados, conta-se que Deodoro da Fonseca e Gaspar Silveira Martins utilizaram suas melhores armas no cortejo à dama gaúcha. De um lado do campo de batalha, Deodoro tinha um arsenal variado: perfumava a barba com fragrância de violeta, espetava o dedo mínimo em um vistoso anel e escrevia versinhos nos leques das moças. Mesmo casado, o militar costumava avançar sobre o sexo oposto com o ímpeto de uma carga de cavalaria. Para a filha de um amigo gaúcho, o Visconde de Pelotas, escreveu: "Anjo que sois, permiti/ ao bardo agreste/ A ousadia do pobre galanteio".
No lado oposto ao do bardo agreste, Gaspar Martins era um galanteador nato que recitava Shakespeare de cor. Mas foi uma manobra tática desastrada que lhe garantiu a vitória. Ao exibir sua habilidade como cavaleiro, próximo à fazenda dos Andrade Neves, caiu do animal e quebrou uma perna. Ficou um mês sob os cuidados de Maria Adelaide.
Conforme a publicação Rio Pardo 200 Anos, depois disso Gaspar Silveira Martins viajava de trem de Porto Alegre a Rio Pardo, sob disfarce, para se encontrar com a viúva. Costumavam passear por uma fonte que, em razão disso, até hoje é conhecida como Fonte da Baronesa. Maria Adelaide morreu na Capital em 1929, aos 91 anos, quatro décadas após um enciumado Deodoro proclamar a República.
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