Gustavo Brigatti
Sabe aqueles doces coloridos que você morde com toda a vontade e aí descobre que têm gosto azedo? Pois parece que foi mais ou menos essa a intenção da cantora e compositora Gabi Lima, a Gru, em seu terceiro disco.
Mas a artista gaúcha foi suficientemente generosa para alertar logo no título: Welcome Sucker to Candyland - ou "Bem-vindo, otário, à terra dos doces", numa tradução livre.O novo trabalho segue ecoando a mais pura música independente norte-americana, influência maior de Gru desde que se lançou no mercado com um disco gravado pelo microfone do computador, na segunda metade da última década.
Entre as referências sonoras, Rilo Kiley, Neko Case, Aimee Mann, Hanson e Buffalo Tom - quer dizer, não faltam melodias açucaradas, riffs coloridos, vocais bem trabalhados e refrões grudentos. Tudo espalhado por 10 faixas, gravadas entre 2010 e 2012, no estúdio do amigo e parceiro John Ulhoa, do Pato Fu, que assina a produção.
- O John me incentivou a testar coisas que eu nunca havia feito, como explorar os vocais dos Hanson ou colocar o violão em um canto da canção como a Aimee. É um disco bem pop, sem dúvida - explica.
A fofura das músicas, no entanto, contrasta lindamente com o agridoce das letras. Sobram corações partidos, decepções, sorrisos amarelos e inadequação na terra dos doces de Gru. A faixa Sidecar, por exemplo, é sobre viver ao lado de quem se gosta sem poder concretizar esse sentimento; Boy in Love zomba do garoto apaixonado pela garota que não dá bola para ele; If It All Works Out torce para que ninguém se apaixone e tudo continue bem; The Sweetest canta o amor platônico escudado pelo acordeom de Arthur de Faria e o backing vocal do ídolo Chris Colbourn, do Buffalo Tom.
Welcome... tocaria fácil - e inteiro - em qualquer uma daquelas rádios universitárias descoladas dos EUA, mas, por aqui, o repertório de Gru, cantado em inglês, encontra certa resistência. Por isso, em breve, a garota, que nasceu em Pelotas e vive na Capital, deve arrumar as malas e partir para sua amada Califórnia, nos EUA, estudar engenharia de som no Musicians Institute de Los Angeles e, quem sabe, espalhar sua música pelo oeste americano.
- Acho que lá vai ser mais fácil, é um público que já conhece o tipo de música que eu faço. Não serei tão outsider como me sinto aqui, entende? - aposta Gru.