Quando perguntei ao cacique da aldeia Tekoá Pindó Mirim, Vherá Potý, o significado de "Nhãmãndú Nhemõpu'ã", num primeiro momento, ele respondeu: "amanhecer". No instante seguinte, reformulou:
- Na verdade, seria "o acordar do nosso divino sol". O tupi-guarani é um idioma muito poético.
Poesia pura. Cada palavra é um verso. Uma oração, talvez. É música. "Através do canto e da palavra nos comunicamos com nossas divindades", escreve Potý em um texto de apresentação do livro-CD Yvý Potý, Yva'á - Flores e Frutos da Terra, editado em colaboração com o Iphan e pesquisadores do Grupo de Estudos Musicais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). No disco que acompanha a publicação, grupos de cantos e danças mbyá-guarani de três aldeias da Região Metropolitana interpretam músicas que versam sobre o sol, a lua, o mato.
A presença indígena na Capital e arredores, aliás, é tema de outro livro lançado na última quarta-feira pelo Núcleo de Políticas Públicas para Povos Indígenas da Secretaria de Direitos Humanos de Porto Alegre. "A lógica hegemônica do espaço urbano nos leva à aceleração do tempo e aumenta um tipo de cegueira que impede os cidadãos de perceberem outros modos de ser humano na cidade", diz o texto de introdução do livro.
Pois em reservas como a Tekoá Pindó Mirim, nos confins de Itapuã, em Viamão, a lógica da civilização fica distante não só no espaço como também no tempo. Onde 16 famílias dividem uma área de 22 hectares da qual extraem material para artesanato, plantam e pescam para o próprio sustento, até a brincadeira infantil reverencia a Mãe Terra.
Em uma das preferidas, os pequenos guaranis se enfileiram abraçados uns aos outros, sendo que o primeiro da fila abraça uma árvore. Em movimentos para frente e para trás, para um lado e para outro, andando agachadinhos, como sapos, o desafio é manter o equilíbrio - e a diversão é rolar no chão.
Hoje em dia, cantigas de roda no idioma nativo já se misturam a canções ensinadas na escola, que foi batizada com o poético nome de "Nhãmãndú Nhemõpu'ã". Iluminada pela alegria de cada despertar, como o divino Sol que acorda feliz a cada manhã, a escola é desafiada a apresentar este "outro" mundo sem jamais deixar que se perca a beleza daquele divino cosmos em que eles vivem.
E é assim, sendo complexo na simplicidade, que o tupi-guarani consegue traduzir o mundo com muito mais poesia.
Os livros
- Presença Indígena na Cidade: reflexões, ações e políticas, organizado por Rosa Maris Rosado e Luiz Fernando Caldas Fagundes. (Gráfica Hartmann, 2013, 248 págs.)
- Yvý Poty, Yva'á - Flores e frutos da terra: cantos e danças tradicionais Mbyá-Guarani, organizado por Maria Elizabeth Lucas e Marília Stein. (Iphan/Grupo de Estudos Musicais UFRGS, 2012, 88 págs.)
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