Quando o goleiro Luciano, do São Paulo-RG, nasceu, o Brasil ainda era bicampeão mundial de futebol, não existia Campeonato Brasileiro, Médici era o presidente do país e Paulo VI era o Papa. Pouco importa. Às vésperas de completar 43 anos, o camisa 1 do representante de Rio Grande na Divisão de Acesso é o destaque do time, líder do Grupo A da Série A-2 do Gauchão. E mais: diz sentir até hoje o mesmo frio na barriga de quando foi chamado para atuar pela primeira vez, em 1987.
- Se eu lembro do primeiro jogo? Claro! Estava no Pelotas, o Galego (Paulo Sérgio Lobo) era o treinador. O Nelson, goleiro, saiu machucado, ainda no primeiro tempo, lá em Caxias, contra o Caxias, uma chuvarada. Entrei bem, me sentia confiante. Peguei tudo até o último chute, quando o Nílson acertou uma bola indefensável - conta, com tantos detalhes a ponto de não parecer que isso ocorreu há 25 anos.
Na época, Luciano tinha 17 anos. Na segunda-feira, completa 43. Diz saber que uma hora vai ter que parar, mas tenta não pensar nisso. Porque, para ele, ser goleiro é a melhor coisa que pode acontecer na sua vida. Ficou parado por seis meses no final do ano passado, tempo em que começou a exercer outra atividade: profissional de educação física. Formado pela Faculdade Anhanguera, estudou em outras três instituições, sempre conciliando a carreira com a academia.
Imaginava que continuaria assim. Até uma ligação no Natal de 2012. Na ponta da linha, o amigo Aládio. Atual diretor de futebol do São Paulo, o ex-zagueiro jogou com Luciano por mais de meia década. O objetivo da ligação era só desejar boas festas, mas o papo evoluiu para outro lado. O goleiro admitiu que tinha saudade da pequena área. Dois dias depois, outro ex-zagueiro telefonou para o camisa 1. Era Rudi, atual técnico do Leão do Parque, que também já protegeu sua meta em Novo Hamburgo e em Pelotas. Em poucos minutos, acertaram para que Luciano fechasse o gol em Rio Grande.
Apesar da desconfiança pela idade, nos dois primeiros jogos, o quarentão arqueiro só foi vazado uma vez. E por outro quase contemporâneo: Sandro Sotilli, de pênalti. De resto, tapou a meta. Foi escolhido como o melhor em campo pelas rádios locais.
- O Luciano é um exemplo. Um profissional dedicado e um grande amigo. Ele tem nos ajudado muito, fizemos muito bem em trazer para cá - diz Aládio.
A ajuda de Luciano, citada por Aládio, transcende as defesas e intervenções. O goleiro é modelo de dedicação também para os colegas e garantia de experiência com a bola rolando. No grupo, um de seus reservas é um guri de 17 anos, Lucas.
- Brinco com ele, que quando nasceu, eu já jogava bola há muito tempo - diverte-se.
Com mais de 25 clubes na carreira, a maior parte deles do Rio Grande do Sul, Luciano tem três filhos, um com 18 anos, outro com 17 e o mais jovem com 12. O caçula, inclusive, quer seguir a profissão do pai, mesmo sabendo que a vida do jogador de camiseta diferente é mais difícil do que a dos 10 companheiros.
- Tem que se cuidar, né? Meu biotipo ajudou, nunca me lesionei, mantive baixo percentual de gordura.
Sobre o momento de parar, Luciano não deixa dúvida:
- É o que mais gosto de fazer, é o que sei fazer. Enquanto eu sentir um frio na barriga quando estiver no vestiário, vou seguir jogando.