Em 1992, o escritor norte-americano Chris Carlsson distribuiu folhetos convidando pessoas a pedalarem com ele pelas ruas de São Francisco, na Califórnia, e a reclamarem a ocupação do espaço público. Dezenas de pessoas apareceram e, quase 20 anos depois, o Massa Crítica está em cidades de todo o mundo. Na última sexta-feira de todos os meses, ciclistas promovem passeios pelas ruas das cidades a fim de celebrar a bicicleta como meio de transporte.
Em Porto Alegre, estes ativistas permitiram que fiscais de trânsito acompanhem sua manifestação, mas não aceitaram divulgar com antecedência o roteiro a ser percorrido. Para Carlsson, "vale a pena resistir" à definição do itinerário, uma vez que o movimento sempre evitou a coordenação com a polícia.
Por e-mail, o ativista falou a ZH. Confira:
ZH - Como o Massa Crítica se consolidou em sua cidade e no seu país?
Chris Carlsson - É difícil dar uma resposta clara. Dezenas, e depois centenas, e depois milhares de pessoas fizeram um compromisso firme para aparecer na última sexta-feira de cada mês e não demorou muito mais do que isso para "consolidar-se". Nos primeiros anos, havia muita mídia: etiquetas, flyers, newsletters, etc., mas na última década diminuiu. O Massa Crítica tornou-se um movimento institucionalizado, mais aceito pelas autoridades e pelos moradores, mesmo que haja sempre alguma frustração por aqueles que ficam temporariamente presos no trânsito.
ZH - Aqui em Porto Alegre temos uma polêmica: a polícia tenta obter um acordo com o Massa Crítica sobre o itinerário do passeio semanal. Você acha que pré-determinar a rota vai contra os princípios do movimento?
Chris Carlsson - Eu não tenho certeza sobre os "princípios", mas com certeza nós sempre evitamos a coordenação com a polícia. Estamos fazendo uso das ruas em massa, assim como milhares de motoristas fazem todos os dias. Por que os ciclistas têm que ser tratados de forma diferente? Por que a polícia sente a necessidade de "policiar" a viagem da forma que eles nunca fazem com os motoristas, muitos dos quais quebram as leis de trânsito todos os dias com impunidade? É um padrão duplo e vale a pena resistir.
ZH - Os órgãos de trânsito daqui estão criticando membros do Massa Crítica de serem agressivos com motoristas. Existe este tipo de comportamento em outros países?
Chris Carlsson - Há sempre alguns ciclistas (nós os chamamos de "brigada do testosterona") que pedalam sob a ilusão de que há uma "guerra de classes" entre carros e bicicletas .... e eles deixam de notar que objetos inanimados não podem ter uma guerra de classes! Pessoas em carros são os aliados naturais de pessoas em bicicletas. Todos nós enfrentamos os mesmos problemas quando vamos além da escolha de como se locomover pela cidade. Ciclistas estão fazendo uma escolha inteligente, que melhora a vida DE TODOS, especialmente dos motoristas que agora enfrentam menos carros na estrada, mas aproximá-los com antagonismo é cair na armadilha mais antiga do mundo, colocando as pessoas umas contra as outras sobre assuntos muito limitados. Todos nós deveríamos exigir uma reorganização radical da vida cotidiana. E não apenas exigir, mas fazer. E os ciclistas no Massa Crítica, na maior parte, estão fazendo isso.
ZH - Aqui tivemos um atropelamento em massa de ciclistas em fevereiro. Em outras partes do mundo, motoristas costumam ser agressivos com os ciclistas?
Chris Carlsson - Mudanças profundas sempre provocarão medo e hostilidade. Então, sim, os motoristas costumam ser muito hostis e agressivos com os ciclistas ...
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