Qual o peso de deixar parte da família para trás e resolver viver uma nova vida em um país e uma cultura completamente diferentes? Para Alessandra Batista, de 15 anos, o sonho pesa basicamente 166kg. A atleta deixou Cuba em 2024 e tornou-se campeã brasileira sub-17 de levantamento de peso no mês passado, marcando 70kg no arranco e 96kg no arremesso na categoria acima de 77kg.
Ao ler, talvez pareça fácil. Mas Alessandra veio com os avós para o Rio Grande do Sul. Deixou para trás pais e bisavós para viver uma vida diferente.
— Um dia, saindo da escola, meus avós falaram para mim que a gente tinha que vender a casa e vir para cá. Fiquei triste porque tinha que deixar meus bisavós, minha família, quase tudo. Mas depois vi as possibilidades que eu teria aqui no Brasil — contou Alessandra em entrevista para Zero Hora.
Natural de Cienfuegos, cidade próxima a Havana, capital de Cuba, Alessandra enfrentou praticamente uma odisseia. De avião, deixou o solo cubano ao lado dos seus avós e viajou até o Suriname. A partir dali, veio ao Brasil do jeito que conseguiu. Desembarcou em Carazinho (onde já tinha familiares) e seguiu sua vida.
— (O começo) foi difícil porque eu não conseguia falar a língua, isso me dificultava muito. Eu comecei na escola e fiquei um pouco estressada. Não conseguia entender e ninguém queria ser meu amigo porque eu não conseguia falar. Depois, me adaptei bem — completou.
A primeira decisão, após se estabelecer na cidade no noroeste do estado, foi voltar a praticar levantamento de peso. A relação com a modalidade já vinha desde os 10 anos e não podia acabar fora das fronteiras de Cuba.
Reencontro com a modalidade
No final do ano passado, seu avô entrou em contato com a Confederação Brasileira de Levantamento de Peso (CBLP) para obter informações sobre locais de treinamento.
Neste ano, a Federação Esportiva de Levantamento de Peso do Rio Grande do Sul identificou potencial na atleta e entregou material para que Alessandra pudesse continuar os treinamentos em casa com mais qualidade. Logo na sequência, a convite de Rodrigo Dall'Aqua, treinador da modalidade na Sogipa, a cubana veio para Porto Alegre para ser atleta sogipana e estudante do colégio Pastor Dohms (unidade Higienópolis), com bolsa integral.
O acolhimento e os treinamentos na Sogipa já começaram a dar resultados. Além do título brasileiro em Três Rios, no Rio de Janeiro, Alessandra foi eleita a melhor atleta feminina do Campeonato Gaúcho da modalidade.
— No Brasileiro, eu estava muito nervosa. Foi minha primeira competição de toda vida. Em Cuba, não tinha competições assim. No Gaúcho, foi bem melhor.

Próximos passos e sonho nos Jogos Olímpicos
Esse é só um dos primeiros passos de Alessandra, que sonha em ter uma carreira recheada de conquistas. Ainda que precise passar pelo processo de naturalização, a menina de 15 anos tem o desejo de disputar uma Olimpíada defendendo as cores do Brasil.
— Eu quero ser grande no esporte. Desde pequena, eu sempre sonhei com isso. Eu já gostava do esporte só de olhar ele pela televisão. Meu sonho é conquistar uma medalha olímpica e trazer meus bisavós para cá.
Os Jogos de Los Angeles 2026, talvez, fiquem distantes da atleta da Sogipa. O planejamento dela e de Rodrigo é que ela dispute a competição em 2030 em Brisbane.
— A nossa ideia é que ela tenha condições de disputar as seletivas para os Jogos da Austrália. A gente tem um planejamento de carga para ela até 2032, comparando as marcas com outros nomes do levantamento de peso mundial — explica Dall'Aqua.
Até lá, certamente, o peso que Alessandra vai levantar será bem maior que o peso da saudade de Cuba.


