Giros espetaculares, gols que valem dois pontos e partidas que jamais terminam empatadas. O handebol de praia é dinâmico, ágil e, apesar do nome, já conquistou seu espaço também em areias distantes do litoral. Com regras que podem mudar o placar no último segundo (veja quadro abaixo), a modalidade rende disputas acirradas, mantendo a tensão e a vibração de uma competição até o apito final do árbitro. A principal base desse esporte nascido nos anos 1990 é o jogo limpo, espírito que se torna fundamental também para manter atletas unidos na busca pelo desenvolvimento da modalidade.
Há alguns anos, o handebol de praia busca sua vaga nas Olimpíadas e esse desejo pode estar perto de ser realizado. Na primeira quinzena de dezembro será anunciada a decisão do Comitê Olímpico Internacional (COI) sobre a inclusão da modalidade nos Jogos, que faria sua estreia em Paris 2024. A possibilidade anima os envolvidos pela perspectiva de mudanças para melhor.
Em Porto Alegre, o Torino Beach Handball é um dos times que vem trabalhando para contribuir com a formação de novos jogadores. A equipe treina meninos e meninas de 12 a 14 anos e recebe pessoas que estejam interessadas apenas em conhecer e praticar por lazer. O Torino conta com um time feminino adulto, formado por advogadas, engenheiras, professoras, pedagogas, administradoras, que soma cerca de 20 atletas, vindas de diferentes cidades da Região Metropolitana.
– Nosso objetivo é popularizar o esporte, para que mais pessoas tenham acesso. A gente vislumbra mais para frente um projeto social, de educação, buscando o rendimento esportivo aliado a valores humanos e inclusão -, destaca a idealizadora e coordenadora esportiva do time, a professora de educação física Bruna Torino da Silva.
Por ser um esporte recente, a maior parte dos jogadores chegou à modalidade já adulto, muitos vindos do handebol de quadra. Por isso, um dos principais desafios é ampliar as categorias de base. O Torino já realizou eventos para apresentar o handebol de praia a crianças e adolescentes e havia mais encontros previstos, mas a pandemia acabou interrompendo a programação.
A Capital também é casa do BUD’s HandBeach, que surgiu em 2012 e participa há três anos do circuito brasileiro. A equipe conta com 15 atletas e também desenvolve trabalhos com iniciantes no esporte, que vem se reestruturando após a pausa provocada pelo coronavírus.
- É grande a expectativa de que vire um esporte olímpico. Muito provavelmente a modalidade vai se tornar profissional, os atletas vão poder viver disso. Como clube, a gente acredita que vai conseguir investir na formação de base -, avalia a presidente do BUD’s, Daniela Cardoso Nicolini, que é atleta da Seleção Brasileira.
Reforço de um bicampeão mundial
O Torino Beach Handball, que surgiu no início de 2019, conta com reforço do goiano João Paullo Rego de Sousa, bi-campeão mundial com a Seleção Brasileira, que tem conduzido os treinamentos e apresentado à equipe aulas teóricas online sobre a modalidade. Depois de meses de atividades presenciais suspensas por causa da pandemia, o time volta à prática aos poucos, com treinos uma vez por semana em quadras fechadas ou em espaços públicos, como o Parque Marinha do Brasil.
- Se o beach handball crescer e virar olímpico, a gente vai estar em um patamar acima. E a gente quer que as pessoas venham jogar, fazer algo social, levar nas escolas. Estamos tentando fazer nossa parte aqui. Todo dia, todo mês, cada semana que passa é uma luta para manter a equipe. A nossa missão é desenvolver a modalidade.
João Paullo mudou-se para Canoas por causa da família, já que a esposa, Thaysse Fagundes, que também é atleta de handebol, é daqui. Os dois são pais da pequena Maria Helena, 2 anos. João Paullo começou a jogar handebol aos 14 anos, mas só foi apresentado à modalidade de praia em 2007, quando foi morar em São Paulo. Desde então, já atuou por clubes de Goiás, São Paulo, Pernambuco, Paraná e Santa Catarina, e carrega uma extensa lista de títulos nacionais, além das duas conquistas mundiais com a seleção no World Beach Games, no Catar, em 2018 e 2019.
- É uma modalidade de pessoas amantes, que querem e gostam muito. Em 2018, a gente (seleção brasileira) foi para o Mundial pagando do bolso, fazendo vaquinha. E fomos campeões. Se não são os professores, os presidentes das associações, as prefeituras, clubes, não haveria handebol.
Modalidade tem partidas dinâmicas
O handebol de praia surgiu em 1992 na Itália e logo chegou ao Brasil como prática recreativa. A primeira competição oficial no país ocorreu em 1995, no Rio de Janeiro. Além do ambiente, as diferenças para o handebol de quadra estão no número de jogadores, nas dimensões da área, na duração e na pontuação. As partidas de quadra ocorrem com sete jogadores de cada lado, em uma área de 40 x 20 metros, em dois tempos de 30 minutos. Todos os gols valem um ponto, com possibilidade de placar empatado e a penalidade máxima é o tiro de sete metros. Já na areia, são quatro atletas de cada lado, em uma área de 27 x 12 metros, em dois sets de 10 minutos, com possibilidade de um terceiro para desempatar. Há gols que valem dois pontos e a penalidade máxima é o tiro de seis metros.
Além disso, o handebol de praia conta com um jogador chamado especialista. Quando o time está na defesa, joga com o goleiro e mais três, enquanto a equipe no ataque avança com quatro jogadores na linha, um deles o especialista, que fica de fora da quadra enquanto o seu time está na defesa. O goleiro sai da quadra com a entrada do especialista e só pode retornar à sua posição quando o especialista sair da quadra novamente. Isso tudo, claro, em questão de segundos.
- É um jogo com momentos que a quadra não exige. É um outro tipo de inteligência na areia e tem que virar essa chave, vai mudar o gesto e a movimentação técnica - comenta uma das goleira do Torino Beach Handball, a advogada Karen Baranzeli, convocada para integrar a seleção brasileira de handebol feminino máster (+37), que disputará o campeonato sul-americano da modalidade de quadra no Chile, em março de 2021. É a única gaúcha entre as selecionadas.
Nas areias gaúchas
O handebol de praia pode estar perto de retomar as competições no Estado, afirma o presidente da Federação Gaúcha de Handebol (FGHb), Iradil Antonello. A final do campeonato estadual estava prevista para março de 2020, em Rosário do Sul, mas foi cancelada por causa da pandemia.
- É o primeiro evento que deve ser realizado pela federação na retomada das atividades. Vamos tentar fazer com que isso aconteça ainda no verão, dentro dos protocolos de segurança sanitária.
A modalidade chegou ao Rio Grande do Sul na década de 1990, depois que um grupo de atletas da Grande Porto Alegre assistiu a um jogo no Rio de Janeiro, e logo passou a ser parte do Circuito de Verão do Sesc no Litoral. A FGHb começou a dar suporte para o esporte por volta de 2003 e, em 2020, realizou a competição estadual pelo sexto ano consecutivo. Segundo Sergio Alves, colaborador do departamento técnico da FGHb, os estaduais contam com seis a oito times nas categorias feminino e masculino, com equipes de Porto Alegre, Santa Maria, Rosário do Sul, Capão da Canoa, Torres, Campo Bom e Sapucaia do Sul.
No Estado, a modalidade também precisa lidar com o fator clima e as competições acabam centralizadas no verão, quando há mais dias com condições favoráveis às disputas ao ar livre. No decorrer do ano, há equipes que treinam em quadras de areia cobertas.
- Nossos eventos são feitos dividindo-se as despesas e com alguns aportes. Deslocamento e taxas de arbitragem, por exemplo, são divididas entre os participantes. Por causa das longas distâncias, a gente tem um rodízio de sedes, para que um clube só não fique sobrecarregado com os custos. Sentimos no Estado a falta de uma política de jogos definida, para incentivar realmente a massificação do esporte -, comenta Alves.
Onde começar a treinar em Porto Alegre
BUD’s HandBeach: @budshandbeach
Torino Beach Handball: @torinobeachhandball e (51) 99637-1002