Apesar de nunca tenha vivido um atentado terrorista, o governo brasileiro não esquece dos ataques em Paris e sabe que o Rio de Janeiro pode se tornar um alvo durante os Jogos Olímpicos de 2016.
– Ninguém pode ficar indiferente a episódios bárbaros como os que acontecerem em Paris. Estamos em estado de alerta permanente. Estamos preparados para enfrentar o pior cenário – explica Andrei Rodrigues, secretário extraordinário de segurança para grandes eventos do Ministério da Justiça.
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O país já precisou lidar com várias situações de risco nos últimos anos, com a Copa das Confederações e a visita do Papa Francisco em 2013, além da Copa do Mundo de 2014. O esquema de segurança mobilizará 82 mil homens: 35 mil das forças armadas e os outros 47 mil das Polícias Civil e Militar, Polícia Federal e Defesa Civil.
É a maior mobilização policial registrada no Brasil, duas vezes maiordo que nos Jogos de Londres 2012. As autoridades listaram 12 ameaças potenciais, entre elas a criminalidade urbana do narcotráfico, os roubos ou as manifestações violentas.
Porém, com os atentados cometidos pelo Estado Islâmico no ano passado, o terrorismo ficou no topo da lista.
– Como o Brasil não participa dos diversos conflitos no Oriente Médio, poderíamos pensar que não está na mira dos terroristas, ainda mais pela América do Sul estar distante dos pontos de tensão geopolítica do momento – indaga Pascal Boniface, Director do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas de Paris – Mas não podemos esquecer que os terroristas procuram impactar a opinião pública. Tirando a Copa do Mundo de futebol, não existe nenhum evento mundial com mais visibilidade que a Olimpíada. O risco terrorista acompanha as câmeras – alerta.
A história olímpica já foi manchada por um episódio trágico em 1972, quando um comando palestino fez reféns na delegação israelense, e acabou executando 11 pessoas.
Por mais que não tenha inimigos declarados, o Brasil sabe que os Jogos vão atrair cidadãos de países que são alvo do terrorismo, como os Estados Unidos, a França, Israel ou a Rússia. No dia 16 de novembro, três dias depois dos atentados de Paris, o jihadista francês Maxime Hauchard, membro influente do Estado Islâmico na Síria, chegou a postar no Twitter uma ameaça explícita:
– Brasil, você é o nosso próximo alvo.
CENTRO ANTITERRORISMO
Para minar possíveis ataques, as autoridades brasileiras vão repetir o esquema que funcionou com êxito durante a Copa do Mundo, ao reativar os Centros Integrados de Comando e Controle de Brasília e Rio de Janeiro, que coordenam a ação das diferentes forças de polícia e dos serviços de inteligência.
Esses centros enviarão homens a qualquer sinal suspeito, e estarão em relação permanente com as quatro zonas de competição: Barra da Tijuca, Maracanã, Deodoro e Copacabana.
O esquema foi reforçado em janeiro de 2015, depois do ataque contra o semanal Charlie Hebdo, em Paris.
– Decidimos criar um Centro Integrado antiterrorista – ressalta Andrei Rodrigues.
A partir do mês de julho, um mês antes do mega-evento, membros de serviços inteligência de vários países vão compartilhar informações sensíveis com seus colegas brasileiros, explicou o secretário.
– Todos os países do mundo querem evitar qualquer problema. Podemos pensar que haverá uma forte cooperação, e que rivalidades nacionais serão colocadas de lado – comenta Boniface.
O Brasil é membro do sistema API-PNR, que controla os deslocamentos aéreos. Desta forma, a Polícia Federal tem a informação em tempo real de todos os passageiros que embarcam rumo ao país.
LOBO SOLITÁRIO
A cooperação internacional já está acontecendo. Cerca de cem policiais brasileiros viajaram comm o objetivo de aprender os procedimentos de segurança da Volta da França, maior corrida de ciclismo do mundo, das maratonas de Boston e Berlim, e da Assembleia geral da ONU.
Unidades de elite recebem regularmente treinamentos de colegas estrangeiros para intervir em casos de tomadas de reféns.
– Nesse contexto, o risco de um ataque múltiplo e coordenado, como nos últimos atentados de Paris, é considerado bastante baixo – avalia uma fonte da diplomacia francesa.
As autoridades brasileiras temem a ação de um "lobo solitário", como ocorreu nos atentados da maratona de Boston, que deixou três mortos e 264 feridos no dia 15 de abril de 2013 e foram cometidos por dois irmãos de origem chechena.
A principal preocupação é que o país de dimensão continental tem 15.754 km de fronteiras terrestres, o que torna muito difícil o controle. Facilitando a entrada de armas e drogas.
*AFP
Segurança
Rio 2016: Brasil se prepara para enfrentar o "pior cenário" terrorista
O esquema de segurança para a competição mobilizará 82 mil homens
AFP
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