
A Seleção Brasileira proporciona situações inusitadas, flutuando entre opostos. Em 2006, a CBF contratou Dunga para comandar a equipe nacional. O 1 a 1 com a Noruega, em sua primeira partida também marcou a sua estreia como treinador. Anunciado como novo técnico do Brasil nesta segunda-feira (12), Carlo Ancelotti vive situação antagônica à do capitão do Tetra. Sobra-lhe experiência na lida de treinador. Ele chegará à Seleção após ter comandado clubes em 1.334 jogos.
A diferença entre ser técnico de clube e de seleção se resume ao tempo, embora a relação com ele se manifeste de maneira estranha. O comandante de uma equipe nacional tem mais tempo para analisar e escolher, mas passa períodos curtos com os jogadores. Em um time a correria é maior, há acúmulos de jogos, mas os processos se solidificam pela maior frequência dos treinos.
O quadro transforma as distinções dos dois tipos de trabalho em semelhanças. Um técnico na posição de Ancelotti poderá escolher os jogadores que mais se encaixam às suas ideias, mas terá pouco tempo para desenvolver os seus princípios de jogo com os atletas.
Confira o "Deu Liga" sobre Carlo Ancelotti:
A explicação é sintetizada por Alexandre Guimarães, brasileiro naturalizado costarriquenho e comandante da Costa Rica em duas Copas do Mundo.
— Primeiro desafio de um treinador de seleção é como aproveitar o máximo possível o pouco tempo de trabalho no campo. Não é fácil para se adaptar rápido. Vai precisar de um período de adaptação. A Seleção pode escolher os jogadores para o seu modelo de jogo, mas há pouco tempo para praticá-lo. Tem de se ajustar como em um clube, onde se adapta o modelo aos atletas. O Ancelotti sempre foi um treinador pragmático, se adapta muito bem às características dos jogadores. Assim tem sido o currículo dele — pondera.
Diferença na correção dos problemas
Em termos práticos, Ancelotti estreará em 5 de junho contra o Equador. O italiano receberá os atletas três dias antes da partida. O Brasil volta jogar no dia 10 contra o Paraguai. Depois ele se reencontrará com os atletas somente em setembro. Há pouco tempo para trabalhar a ideia de jogo, principalmente a partir de problemas identificados na primeira partida.
De longa experiência em clubes, Renê Simões classificou a Jamaica para a Copa do Mundo de 1998 e também trabalhou nas seleções de Trinidad e Tobago, Honduras, Irã, e Costa Rica. Ele explica as diferenças entre as dinâmicas de trabalho no clube e na seleção.
— Em um time, acabou o jogo, eu identifico os problemas. Não durmo direito pensando na solução deles. No dia seguinte, desenho as soluções e no outro modelo as correções com os jogadores. Na Seleção não é assim. Depois do segundo jogo, há a identificação dos problemas, mas só se vai ver o grupo em dois, três meses. E talvez nem seja mais o mesmo grupo, porque a correção pode passar pela escolha de novos jogadores. É preciso abastecer os jogadores para que quando cheguem na Seleção cheguem com estas informações interiorizadas.
A adaptação em uma Seleção
O tempo para se encaixar nas exigências da Seleção Brasileira será exíguo. Também existe o desafio da língua. Porém, Simões acredite que neste aspecto, Ancelotti não terá tantos problemas pela sua rodagem no mundo da bola.
— Ele se ajusta muito bem à cultura dos países onde está. É acostumado com grande pressões.
Como técnico, Ancelotti trabalhou em cinco países diferentes. Foi campeão em todos, um feito único no futebol moderno. Na Itália, passou por Reggiana, Parma, Juventus e Milan. Na Inglaterra, treinou Chelsea e Everton. Passou pelo PSG na França, no Real Madrid na Espanha e no Bayern de Munique na Alemanha.
A experiência em diferentes países será útil para Ancelotti. Para ser hexa em 2026, o Brasil terá de ser a primeira seleção a vencer a Copa do Mundo com um técnico estrangeiro.