
Luciano Hocsman, presidente da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), deverá ter um papel importante na gestão de Samir Xaud na Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Os dois, ao lado de nomes como Ricardo Gluck Paul, Michelle Ramalho Cardoso e Felipe Feijó devem representar a renovação na linha de frente da entidade.
Da sede da CBF, no Rio de Janeiro, Hocsman conversou com Zero Hora no final da tarde de quinta-feira (22). Ele respondeu diversas questões sobre o novo momento e explicou pontos importantes, como os motivos que o levaram a não apoiar Ronaldo Nazário e as ligações políticas da entidade em Brasília.
Por que a escolha de Samir Xaud para ser presidente da CBF?
Existe um grupo de presidentes de federações mais jovens que vem ao longo dos últimos anos conversando, trocando ideias. Tem um grupo de WhatsApp, onde nós conversamos muito sobre o futuro do futebol brasileiro, sobre arbitragem e questões importantes da CBF. Quando surgiu a situação de saída do presidente Ednaldo, nos colocamos à disposição para conversar com outras federações e surgiu aquele manifesto das 19 federações no dia seguinte ao afastamento do presidente. O Samir é jovem, mas isso não lhe retira a capacidade que tem através de processos de ideias de gestão, de ideias de oxigenação e de processos internos da CBF. É um modelo completamente diferente. É uma reformulação de um processo antigo, com outras formas de pensar e de se fazer gestão.
Apesar da escolha pelo Samir, seu nome foi cogitado para ser o presidente da CBF. Isto esteve próximo de ocorrer?
É lógico que fico honrado quando escuto este tipo de manifestação. É um reconhecimento daquilo que vai sendo feito na Federação. Além do meu, outros nomes foram falados também, como o do Ricardo Gluck Paul e o de Felipe Feijó, jovens e capacitados para exercer a função. Houve uma construção para que nós chegássemos ao nome do Samir. Mas estaremos aqui colaborando com a gestão.
Como funciona este grupo de WhatsApp?
Esse grupo se juntou por afinidade. Por comungar dos mesmos valores pessoais e ideias. Trocamos experiências e informações sobre as gestões e suas federações. Não foi criado com o objetivo de se tornar uma oposição a quem quer que seja ou de buscar a sucessão do presidente Ednaldo. Mas sim, como falei, uma construção de ideias até para que sejam sugeridas e apresentadas dentro da CBF, independentemente do presidente. Tem muita gente com processos de gestão interessantes. Estão no grupo o Samir e presidentes de Estados como Pará, Paraná, Alagoas, Amapá e Goiás.
Eu recebi, muito próximo ao processo eleitoral do presidente Ednaldo, um único contato por e-mail, muito bem escrito, do Ronaldo. Ele não apresentou nenhuma ideia de projeto.
LUCIANO HOCSMAN
Presidente da FGF sobre Ronaldo Nazário
Qual é a opinião da FGF sobre a posição dos clubes gaúchos na eleição de domingo? Inter e Juventude informaram que não estarão presentes na eleição e não declararam apoio a Samir Xaud.
A relação da federação com os clubes que votam aqui na CBF e também com os com todos os nossos filiados sempre foi muito transparente, democrática e aceitando posicionamentos divergentes. Jamais vamos fazer qualquer imposição. Uma vez que vai ter um vencedor, ele passa a ser o presidente de todos e eu tenho certeza de que isso vai acontecer aqui na CBF com Inter, Grêmio e o Juventude, assim como os demais clubes que participam dos campeonatos das Séries C e D. O presidente Samir é extremamente aberto a conversas com os clubes. Nós vamos, efetivamente, trazê-los, como sempre trouxemos ao debate também.
Os 21 clubes que assinaram o manifesto pedem algumas mudanças no futebol brasileiro, como a alteração no sistema de votação na CBF e o fim do peso três do voto das federações. Isto pode mudar?
Precisamos entender o cenário da seguinte forma: quem tem direito a voto na CBF, historicamente, são as federações, porque dentro do processo, do sistema federativo do Brasil, quem é filiada à CBF é a federação. Os clubes são filiados às federações, assim como a CBF é filiada à Conmebol, que por sua vez é filiada à Fifa. Houve uma alteração legislativa no Brasil que permitiu os clubes participarem do processo eleitoral da CBF. A lei fala que pode ser até, no máximo, seis vezes a diferença entre o menor peso e o maior peso. Então, houve uma assembleia, dentro da CBF, onde esses pontos foram discutidos. Tem clubes da Série A e Série B que participam desse processo, mas as federações representam mais quantos clubes? São 700 ou 800 clubes no país que são representados pelas federações. Então as federações não representam só os clubes das Séries A e B, mas centenas.
Ronaldo Nazário tentou lançar a sua candidatura na CBF, mas não conseguiu o apoio de nenhuma federação. Ele lhe pediu apoio? Como foi a conversa?
Acho que toda e qualquer pessoa tem o direito de almejar a presidência da CBF. Existe, logicamente, um caminho eleitoral que qualquer candidato precisa percorrer. Eu recebi, muito próximo ao processo eleitoral do presidente Ednaldo, um único contato por e-mail, muito bem escrito, do Ronaldo. Ele não apresentou nenhuma ideia de projeto. Eu não estou querendo dizer que me acho melhor ou o pior do que qualquer um. Mas acredito que ele teve tempo para apresentar suas propostas. E vou falar o que eu respondi para ele. Naquele momento, a FGF já estava comprometida com o presidente Ednaldo. Já havia dado a ele o seu apoio. E que deixaria essa conversa para um outro momento. Mas revisando o meu posicionamento, acho que eu poderia ter dito para ele vir à federação para conversar. Poderia ter trocado ideias com ele. Não foi algo para evitar a sua candidatura. E também acho importante dizer que não é direcionado ao Ronaldo, mas só o fato de ter sido atleta não quer dizer que vá ter a condição de fazer a gestão de uma federação. Olha como terminou a história do Platini na Uefa. Acho que primeiro tem que ter um período dentro da CBF na gestão. O Branco, por exemplo, faz um trabalho espetacular na base.
É necessário uma renovação, cabeças novas. Acho que dois mandatos está de bom tamanho.
LUCIANO HOCSMAN
Presidente da FGF sobre as eleições de 2027 da federação
O senhor está no segundo mandato como presidente da Federação. Como avalia a próxima eleição, em 2027?
Acho que, com uma eleição e uma reeleição, é mais do que plausível para exercer tua função, ter feito aquilo que tinha de intenção. A partir dali, pode-se oxigenar possibilitando outras ideias e outras pessoas na gestão. Esta é a minha posição, independentemente de a federação ter aderido a um programa de recuperação fiscal lá em 2015 (Profut), que trazia contrapartidas, como a imposição de se colocar dentro do estatuto a possibilidade de uma reeleição. É necessário uma renovação, cabeças novas. Acho que dois mandatos está de bom tamanho.
Existiu influência do ministro do STF, Gilmar Mendes, na construção da nova chapa da CBF?
Nas reuniões que participei, nos debates que travei, seja presencial, seja por WhatsApp, não existia a participação do ministro. Não o conheço pessoalmente. Mas também é necessário dizer que, desde a gestão do presidente Ednaldo, a CBF, para manter as suas relações institucionais, se entende como um órgão político, além de ser desportivo. Ela precisa saber se movimentar politicamente, ter relações com governos, com parlamentares. A CBF montou uma casa de apoio em Brasília. O diretor dessa casa (Gustavo Dias Henrique) foi mantido como vice-presidente até para que tenha esse elo de conversa com órgãos governamentais. Durante o processo que participei, não houve nenhuma participação ou imposição de alguém ligado ao ministro Gilmar Mendes.