
"New Kids on the Block". Este é o nome do grupo de WhatsApp que reúne jovens presidentes de federações estaduais e de onde surgiu a ideia de lançar o médico Samir Xaud como novo presidente da CBF. Candidato único, o roraimense de 41 anos será aclamado neste domingo (25), na sede da entidade, no Rio de Janeiro, para um mandato até 2030.
Muito mais do que uma homenagem à banda norte-americana que fez sucesso entre os jovens nos anos 1980 e 1990, o grupo retrata o novo momento político do futebol brasileiro. Agora, cartolas antigos e folclóricos estão saindo de cena e dando lugar a novas lideranças, que, apesar da idade, fazem parte do mesmo sistema sustentado há décadas pelas 27 federações estaduais.
— Este grupo tinha sete ou oito pessoas que conversavam sobre assuntos diversos. Não era um grupo político, mas nos atraímos por termos muitas ideias em comum. Mas, quando começaram a surgir denúncias e a premência de queda (do então presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues), as conversas se intensificaram e começamos a discutir o que faríamos se houvesse uma nova eleição. E a ascensão do Samir se deu dentro deste grupo de WhatsApp — confirma o presidente da Federação Paraense de Futebol (FPF), Ricardo Gluck Paul, que assumirá no domingo como um dos oito vice-presidentes da CBF na chapa de Samir.
Quem são os "novos garotos do bairro"?
Inicialmente, o grupo de WhatsApp se chamaria "Os Menudos", em alusão à banda porto-riquenha que fez sucesso com o público jovem nos anos 1970 e 1980. Porém, pela idade dos integrantes, em sua maioria na casa dos 30 ou 40 anos, optou-se pelo nome "New Kids on the Block".
Entendemos que o processo precisava ser liderado por alguém jovem e capaz de fazer uma ruptura com passado
RICARDO GLUCK PAUL
Futuro vice-presidente da CBF
Conforme apurado por Zero Hora, além de Samir Xaud e Ricardo Gluck Paul, 48 anos, os "novos garotos do bairro" (tradução livre do nome do grupo) são os presidentes das federações do Rio Grande do Sul, Luciano Hocsman, 51 anos; do Paraná, Hélio Cury Filho, 48 anos; de Minas Gerais, Adriano Aro, 47 anos; de Alagoas, Filipe Feijó, 33 anos; de Goiás, Ronei Freitas, 61 anos; do Ceará, Mauro Carmélio, 62 anos; da Paraíba, Michele Ramalho, 47 anos; e do Amapá, Netto Góes, 34 anos, nomes que emergem, de forma discreta, como novas lideranças do futebol brasileiro.
— Esse grupo não foi criado com o objetivo de se tornar uma oposição ao presidente Ednaldo. É um grupo de presidentes mais jovens, seja jovens de idade ou jovens no comando das suas federações, que vêm ao longo do tempo trocando ideias sobre o futuro do futebol brasileiro. O grupo se juntou por afinidade e por comungarmos das mesmas ideias e dos mesmos valores pessoais. Essa troca de experiências faz bem para o futebol brasileiro — explica o presidente da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), Luciano Hocsman, um dos que chegou a ser especulado para presidir a CBF após a destituição de Ednaldo.
"Ruptura com o passado"
Porém, nas conversas no grupo, o escolhido para ser o novo presidente da CBF foi Samir Xaud, médico de formação e filho do icônico dirigente Zeca Xaud, 80 anos, que comanda a Federação Roraimense de Futebol há 51 anos. O nome surpreendeu os clubes e a imprensa, em função da pouca experiência no futebol e do histórico de seu pai, símbolo de um sistema que perpetua há décadas as mesmas pessoas ou famílias nas entidades estaduais.
— Acho que o Samir está sendo muito covardemente atacado por não ter experiência no futebol, embora ele tenha. Mas a nossa visão era outra. Entendemos que o processo precisava ser liderado por alguém jovem e capaz de fazer uma ruptura com passado. Entendemos que o Samir Xaud tem essa capacidade de ser aglutinador e de modificar a cultura organizacional, de devolver às pessoas a autonomia e a alegria para trabalhar. É disso que a CBF precisa hoje — explica Gluck Paul.
O novo vice-presidente faz críticas fortes ao ambiente interno da CBF na gestão Ednaldo Rodrigues e avalia que Samir Xaud tem a capacidade de resgatar a harmonia entre os dirigentes e os funcionários da entidade.
— A CBF tem os melhores técnicos e os melhores profissionais do mundo à disposição. E a nossa geração (de jogadores) é boa também. O nosso maior problema era o clima organizacional. A gente precisava tirar a CBF da UTI. A gente precisa fazer com que essas pessoas recuperem a alegria de trabalhar. Precisávamos de um presidente que fosse uma cara nova — dispara o novo vice-presidente.
Relação com os clubes
Luciano Hocsman reforça os elogios a Samir Xaud e afirma que, apesar de representar o grupo das federações, o novo presidente terá boa capacidade de diálogo com os clubes.
— O Samir é um nome articulado e bem quisto por todos. Tem bom trânsito com as federações e com muitas entidades. É um cara que todo mundo tem apreço e respeito. Então, a construção do nome dele foi algo natural para uma reformulação. Precisávamos trazer para a CBF pessoas que com outras ideias e com outra forma de pensar e de se fazer a gestão. E o presidente Samir é extremamente aberto a conversar com os clubes. Nós vamos efetivamente trazer os clubes, como sempre trouxemos, para o debate — garante Hocsman.
Apoio dos mais antigos
Apesar de ter sido ungida pela "ala jovem" dos presidentes de federações, a candidatura de Samir rapidamente ganhou o apoio dos cartolas mais antigos, tanto que, em questão de dias, conquistou o apoio de 25 das 27 federações eliminando a possibilidade da inscrição de uma chapa de oposição. Apenas as federações de Mato Grosso e São Paulo decidiram apoiar o presidente da entidade paulista, Reinaldo Carneiro Bastos.
— A eleição de Samir Xaud à frente da CBF representa um momento de renovação e modernização, com foco em gestão, credibilidade e no fortalecimento da entidade e do futebol brasileiro como um todo — disse à Zero Hora o presidente da Federação de Futebol do Estado de Rondônia (FFER), Heitor Costa, que está no cargo desde 1989 e não faz parte do grupo dos "New Kids on the Block".
Os oito vices da chapa de Samir Xaud
Além de Ricardo Gluck Paul, a chapa liderada por Samir Xaud é composta por mais sete vice-presidentes. Do clã das federações estaduais, estão presentes o presidente da Federação Amazonense de Futebol (FAF), Ednailson Rozenha; o presidente da Federação Norte-Rio Grandense (FNF), José Vanildo da Silva; e a presidente da Federação Paraibana de Futebol (FPF), Michele Ramalho, esta última integrante do grupo de WhatsApp.
Também foram convidados Fernando Sarney, atual interventor da CBF e ex-membro do Comitê Executivo da Fifa, e o ex-presidente do STJD, Flávio Zveiter, que terá a função de dialogar com clubes e conduzir as conversas com os clubes e com os blocos da Libra e da Liga Forte União.
O Samir vai ser um grande líder do futebol brasileiro. Eu não tenho dúvida nenhuma disso
RICARDO GLUCK PAUL
Futuro vice-presidente da CBF
Além disso, foi chamado para integrar a chapa o ex-diretor de relações institucionais da CBF, o brasiliense Gustavo Dias Henrique, apontado recentemente em uma reportagem da Revista Piauí como uma indicação feita por influência do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes.
— Pelo que nós apuramos, o Gustavo Henrique é uma indicação grupo de Gilmar Mendes e de seu filho Francisco Mendes para compor uma das vice-presidências. É alguém próximo ao ministro e que tem muito trânsito em Brasília. Talvez seja o único da chapa que não tenha originalmente relação com o futebol, me parece um intuito de ter mais força e presença em Brasília e de fazer esse lobby para a CBF no Congresso — afirma o jornalista Allan de Abreu, autor de uma série de reportagens recentes sobre os bastidores da gestão Ednaldo Rodrigues na CBF.
Ricardo Gluck Paul afirma que desconhece qualquer influência do ministro Gilmar Mendes na montagem da chapa, mas admite a intenção da entidade de se fazer mais presente em Brasília.
— A CBF montou recentemente uma sede em Brasília, dirigida pelo Gustavo Henrique, que é um cara brilhante. Ele havia sido eleito vice juntamente com o presidente Ednaldo (na chapa que acabou anulada pela Justiça) e, agora, a nossa chapa decidiu mantê-lo como vice, até para que tenhamos este elo de conversa e interlocução com órgãos governamentais que eu acho importante — finaliza Gluck Paul.
Das conversas no grupo de WhatsApp à eleição de Samir, a nova chapa planeja implementar ideias novas para o futebol brasileiro. Contudo, apesar de jovens, os novos líderes do futebol brasileiro fazem parte de longevo sistema baseado no poder das 27 federações estaduais e são, em sua maioria, apadrinhados por antigos cartolas que ditaram os rumos do futebol brasileiro no passado, como o gaúcho Francisco Noveletto, o paranaense Hélio Cury, o mineiro Elmer Guilherme, o alagoano Gustavo Feijó, o amapaense Roberto Goes e, principalmente, o roraimense Zeca Xaud, pai de Samir.
O desafio do grupo, agora, é transformar o discurso de renovação e mudança em prática.
— O Samir vai ser um grande líder do futebol brasileiro. Eu não tenho dúvida nenhuma disso — garante Gluck Paul.