
Do calor poeirento dos campos amadores de Vitória da Conquista ao trono da CBF, a trajetória de Ednaldo Rodrigues, presidente afastado da entidade, é um conto de ambição e poder no conturbado universo do futebol brasileiro.
Longe dos holofotes dos gramados, ele construiu sua ascensão com a qualidade de um estrategista, subindo degraus na Federação Baiana de Futebol (FBF) até se projetar no cenário nacional como um nome surpreendente.
Natural do interior da Bahia, Ednaldo, 71 anos, tem origens humildes. Foi lateral-esquerdo do futebol amador nos anos 1970, graduou-se em Ciências Contábeis e gerenciou as filiais baianas das gigantes Coca-Cola e da Pepsi até entrar no mundo da bola.
Ascenção como dirigente
Sua capacidade de articulação dentro da Liga Conquistense de Desportos Terrestres lhe levou para a federação estadual de futebol. Assim, conquistou um primeiro cargo na FBF em 1992 e tornou-se presidente nove anos depois, criando uma linha direta com a CBF.
Em 2018, Rodrigues deixou a Federação Baiana para ser vice-presidente de Rogério Caboclo na CBF. Negro e baiano, assumiu um cargo que historicamente era ocupado por homens brancos da região Sudeste.

Só que sua chegada não foi um passeio à Barra da Tijuca, mas uma escalada em meio a um ambiente carregado de tensões e escândalos. Em um vácuo de liderança, quando Caboclo foi afastado por denúncias de assédio, Ednaldo surgiu como o apaziguador, o homem capaz de costurar alianças e prometer uma nova era de transparência para a desacreditada entidade.
— Sofri todo tipo de pressão por preconceito. Preconceito por ser do Nordeste, por ser baiano, por ser do interior, por ser negro. Essa é a grande realidade e a grande resposta — disse na época.
No entanto, o brilho da presidência revelou um lado sombrio quando foi eleito presidente de fato em 2021. Enquanto tentava conciliar o futebol com as complexas engrenagens administrativas, acordos comerciais antes celebrados passaram a ser alvo de olhares desconfiados.
A forma como Ednaldo ascendeu à presidência e as manobras estatutárias que permitiram sua eleição foram alvo de ações judiciais que contestavam a validade do processo.
Ainda que todas as federações estaduais e os 40 clubes votantes — incluindo Grêmio, Inter, Juventude e FGF — tenham o escolhido por unanimidade.

Turbulências na gestão
Extravagâncias na gestão foram reveladas pela Revista Piauí, em abril. No meio do caminho, o acordo para a contratação para a contratação de Carlo Ancelotti colocou momentâneos pontos quentes no cenário.
Além disso, acordos comerciais firmados durante sua gestão foram questionados por órgãos de controle e pela Justiça, levantando suspeitas de favorecimento e falta de transparência.
Por fim, ações judiciais que questionavam sua eleição e a legalidade de seus atos administrativos resultaram em decisões que determinaram o seu afastamento do cargo nesta quinta-feira (15).
Em um desfecho que já se anunciava, o barão baiano caiu, assim como todos seus antecessores. Na nova crise na CBF, o interventor Fernando Sarney será o responsável por conduzir novas eleições.