
Anunciado como novo treinador da Seleção Brasileira, Carlo Ancelotti chega gerando a expectativa de retomada do bom futebol da equipe após as passagens sem sucesso de Dorival Jr. e Fernando Diniz pela casamata.
Um dos maiores campeões na história do futebol, o italiano está longe de ser um treinador revolucionário. Ao longo da carreira, Ancelotti se caracterizou pela capacidade de adaptação a elencos, o que deve dar seguimento na Seleção.
Início como treinador
A carreira de Ancelotti como treinador tem uma história que mudou sua ideia sobre ter uma forma de jogar futebol. Meio-campista do Milan multicampeão entre o final dos anos 1980 e começo dos anos 1990, Ancelotti teve Arrigo Sacchi como seu mentor.
Quando iniciou a carreira de treinador, no Parma, em 1995, Ancelotti tinha a ideia de espelhar a forma de jogar do lendário técnico italiano dentro do sistema 4-4-2 com duas linhas de quatro atrás de uma dupla de ataque.
Por conta disso, ele abriu mão de contar com a contratação de Roberto Baggio porque o craque da seleção italiana não se encaixava dentro do modelo de jogo. Anos depois, Ancelotti admitiu o erro de desconsiderar o talento de Baggio.
O entendimento desse erro foi decisivo para mudar sua forma de ver o jogo. Ancelotti passou, então, a variar as formas de jogar se adequando a elencos e se tornando um dos treinadores da história com a maior capacidade de adaptação e mudanças em seus times. Suas cinco conquistas de Champions League vieram justamente com variações na forma de jogar.
Primeira conquista: 4-4-2 em losango
Foi com o sistema 4-4-2 com o famoso losango no meio-campo, no qual não quis adaptar o Parma a Baggio, que Carlo Ancelotti conquistou sua primeira Champions League pelo Milan. No título alcançados na final contra a Juventus, em 2003, o time era montado com um trio de volantes formado por Pirlo, Gattuso e Seedorf, que sustentava o português Rui Costa para ser a ligação com o ataque.

Segunda: o surgimento da Árvore de Natal
Quatro anos depois, Ancelotti voltou a levar o Milan a vencer a Champions. Já sem Shevchenko, o treinador montou um meio-campo que teve a entrada do marcador Ambrosini liberando Seedorf para se juntar a Kaká em uma segunda linha de meio-campo. O time, tendo apenas Inzaghi como centroavante, foi montado no 4-3-2-1, que ganhou o apelido de "árvore de Natal" pela disposição geométrica.

Terceira: fim da seca do Real Madrid com Di María em nova função
Quem viu os últimos anos de Liga dos Campeões pode não lembrar que o Real Madrid passou por uma incômoda seca no torneio. Campeão pela nona vez em 2002, o time espanhol ficou 12 anos à espera de sua 10ª taça, que veio em 2014 sob o comando de Carlo Ancelotti. A conquista da Orelhuda sobre o rival Atlético veio com o treinador colocando novamente sua mão para adaptar o time a seus jogadores.
A temporada 2013/14 começou com o Real contratando o galês Bale por mais de 100 milhões de euros. A equipe naquele momento contava com um trio de ataque formado por Di María, Benzema e a estrela Cristiano Ronaldo, que na época ainda jogava como ponta-esquerda. Menos badalado do trio, o argentino foi o Ficha 1 para sair do time.
Ancelotti chegou a dizer para Di María que o via como extrema e ele seria reserva, conforme diálogo contado em recente documentário sobre o argentino feito pela Netflix. Pois Di María decidiu seguir em Madri e ganhou a vaga na equipe em uma nova função. Ele virou um dos meias interiores do 4-3-3 que levou os Merengues ao tão sonhado título.

Quarta: sem CR7, o time em torno de Benzema
Depois de passagens sem sucesso por Bayern, Napoli e Everton, Carlo Ancelotti voltou a Madri com a missão remontar o time após a saída de CR7. Pois o treinador italiano voltou a vencer a Champions League transformando Benzema em Bola de Ouro. Novamente no 4-3-3-, ele usou o meio-campista uruguaio Valverde como ponta-direita para ganhar poder de marcação e dar maior liverdade para Vini Jr. no lado esquerdo. O brasileiro fez o gol do título na final sobre o Liverpool.

Quinta: sem centroavante, a liberdade potencializa Vini Jr.
A quinta e o última conquista de Liga dos Campeões de Ancelotti veio já sem contar com Benzeman. Sem a contratação de um centrovante de nível parecido, o italiano voltou a mostrar seu poder de adaptação.
A conquista europeia na temporada passada foi construída com um ataque móvel formado pelos brasileiros Vini Jr. e Rodrygo tendo o inglês Bellingham multifuncional. Meia de chegada ao ataque no 4-4-2 em losango, ele tinha a função de muitas vezes fechar o lado esquerdo permitindo a Vini ter descanso para puxar os contra-ataques. O brasileiro fez a melhor temporada da carreira e levou ao final de 2024 o prêmio de melhor do mundo da Fifa.
