
O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) suspendeu o júri popular do tenente da Polícia Militar Henrique Otavio Oliveira Velozo. Ele é acusado de matar o campeão mundial de jiu-jítsu Leandro Lo com um tiro na cabeça durante uma briga em uma casa noturna, em agosto de 2022.
Previsto para ocorrer nesta quinta-feira (22), o julgamento foi adiado após decisão liminar do desembargador Marco Antônio Cogan, atendendo a um pedido da defesa do réu.
Segundo o TJ-SP, os advogados de Velozo afirmaram que o juiz responsável pelo caso impediu o pleno direito de defesa ao cancelar os depoimentos de peritos contratados pela defesa, o que motivou o recurso.
Com a liminar concedida na véspera do júri, o processo fica suspenso até que o mérito do pedido seja analisado por Cogan e outros dois magistrados da corte. Só após essa análise o juiz do caso poderá remarcar uma nova data para o julgamento.
Enquanto isso, o tenente continuará preso preventivamente no presídio militar Romão Gomes, localizado na Zona Norte da capital paulista, onde está detido desde o crime, segundo o g1.
Relembre o caso
Leandro Lo, 33 anos, foi baleado na cabeça durante um show do grupo Pixote no clube Sírio, na zona sul de São Paulo, em 7 de agosto de 2022.
Testemunhas relataram à Polícia Civil que Henrique Velozo provocou o lutador e amigos ao se aproximar da mesa onde estavam, pegar uma garrafa de bebida e gerar uma discussão. Lo o imobilizou brevemente para tentar conter a situação. Quando se afastaram, o PM sacou a arma e atirou na cabeça do atleta.
— O Lo apenas o imobilizou para acalmar. Ele deu quatro ou cinco passos e atirou — relatou uma testemunha que preferiu não ser identificada.
Após o disparo, o policial ainda teria chutado Lo, caído no chão, antes de fugir do local. O atleta foi socorrido e levado ao Hospital Municipal Arthur Saboya, mas não resistiu aos ferimentos.
Homicídio doloso
O réu responde por homicídio doloso, quando há intenção de matar, o que o submete ao Tribunal do Júri — modelo previsto pela Constituição para crimes contra a vida. Sete jurados sorteados entre cidadãos comuns decidirão se o policial é culpado ou inocente.
Paralelamente ao processo na Justiça comum, Henrique Velozo também é alvo de uma investigação administrativa na Justiça Militar.
Ele usou uma arma da corporação, apesar de estar à paisana na noite do crime. A Corregedoria da PM recomendou sua expulsão. O processo disciplinar já foi encaminhado ao Tribunal de Justiça Militar (TJM).
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que o procedimento pode resultar na demissão do policial a bem do serviço público.
"O pedido de exoneração, que pode resultar na demissão a bem do serviço público do policial, foi encaminhado para julgamento do Tribunal de Justiça Militar (TJM)", informa nota divulgada pela Secretaria da Segurança Pública (SSP).
Defesa aposta em absolvição
Até o momento, a defesa de Velozo ainda não se manifestou sobre o adiamento do júri. Na quarta-feira (21), o advogado Cláudio Dalledone afirmou esperar que o tenente seja absolvido na Justiça comum, o que, segundo ele, contribuiria para a permanência de Velozo na PM.
— A absolvição dele no julgamento no Tribunal do Júri vai dar a tranquilidade necessária para que a Justiça Militar tome a melhor decisão e o mantenha na corporação pela sua inocência — declarou o defensor.
Quem era Leandro Lo
Considerado um dos maiores nomes do jiu-jítsu mundial, Leandro Lo conquistou oito títulos mundiais, além de vitórias em Copas do Mundo, campeonatos brasileiros e pan-americanos.
Natural da zona oeste de São Paulo, ele começou no esporte aos 14 anos, no projeto social Lutando pelo Bem, do mestre Cícero Costha, onde recebeu a faixa preta.
Em sua carreira, somava 268 vitórias e apenas 39 derrotas, com uma invencibilidade entre 2011 e 2013 na Copa Pódio. Sua última conquista havia ocorrido dois meses antes do assassinato, em junho de 2022, quando celebrou o título mundial com uma publicação emocionada nas redes sociais:
— As duas conquistas mais importantes da minha carreira, o primeiro é a sensação de conseguir ser campeão mundial, esse foi eu ainda consigo ser campeão mundial, as duas melhores sensações da minha vida — escreveu Lo, agradecendo aos que o apoiaram.
Na semana seguinte à sua morte, ele se preparava para disputar outro torneio internacional, no Texas, nos Estados Unidos.