Maurício Reolon
Ele não entrou em campo, mas foi a grande atração, o símbolo maior da festa da solidariedade no sábado, em Nova Prata. Desde que chegou ao Estádio Mário Cini, às 16h55min, ao lado do filho Matheus e da esposa Rosmari, a Rose, o técnico Tite foi cercado por amigos e fãs que estavam em busca de um abraço, uma foto ou de um simples autógrafo.
Simples e carinhoso com todos, o treinador atendeu a cada um e, a todo momento, encontrava companheiros da época em que iniciou a carreira como comandante do Veranópolis. Em fase final de recuperação de uma cirurgia para a retirada de varizes, Tite ainda mostrava alguma dificuldade para caminhar e, por conta disso, não conseguiu participar da festa beneficente para três entidades pratenses como realmente queria, dentro das quatro linhas, brincando com os amigos.
Após uma rápida conversa com os atletas no vestiário, Tite foi para uma das casamatas, buscar um brecha de sombra na tarde de calor quase infernal. Com as pernas apoiadas em uma cadeira, contou histórias e acompanhou o seu auxiliar da época de VEC, Donizetti, comandar a equipe azul.
- Qualquer coisa que precisar, me chama que eu te passo umas dicas - brincou Tite ao falar com o amigo.
Ali mesmo, durante a partida, o técnico do Corinthians atendeu ao Pioneiro. Com o suor escorrendo pelo rosto e se refrescando com uma garrafinha de água gelada, falou sobre a temporada vitoriosa, a festa em Nova Prata e o que pode projetar para o futuro:
Pioneiro: Depois de um ano desgastante, o que representa estar aqui, próximo aos amigos, mais perto da família neste final de ano?
Tite: Me dá a maior satisfação que é dividir a alegria. O próprio jogo beneficente me oportuniza isso, com pessoas especiais, entidades especiais, de ter esse envolvimento. Já está virando uma marca registrada vir aqui. Eu sei que o Cássio, o Washington, o Dr. Aloir, o Samuel estão envolvidos e isso valoriza toda a região. Me deixa feliz de estar integrado e poder ajudar de alguma forma. Confesso que gostaria de estar dentro de campo, brincando um pouco, mas agora não dá. Ainda estou em recuperação da cirurgia, mas logo estarei recuperado, está tudo bem.
Que avaliação você faz desta temporada, até pelo desafio que tinha de retornar ao Corinthians após ter conquistado os maiores títulos do clube na passagem anterior?
- Primeiro, devo ter pensado umas 550 vezes antes de aceitar. Segundo, umonte de gente me chamou de louco por voltar. Por ter uma história tão bonita, de cinco títulos e ficar exposto novamente. Terminar o ano dessa forma me deixa muito feliz. As pessoas que comandam o futebol e o técnico pensam de uma forma parecida. A partir daí, a possibilidade de solucionar problemas e crescer é muito grande. Foi o que aconteceu. Confesso que não imaginava que pudesse terminar a temporada com tanto sucesso e com um futebol tão bonito e da forma como a conquista aconteceu. O Corinthians quebrou recorde de pontos, de vitórias, de saldo, de aproveitamento em casa e fora. Foi a equipe mais disciplinada do campeonato, a segunda que menos fez faltas. Então, ela não pagou o preço do antijogo. Ela foi leal e mostrou que é possível fazer uma grande equipe, jogar bonito e vencer como nós fizemos.
Além do desafio do retorno, teve no meio da temporada a perda de alguns atletas importantes e também as trocas necessárias pela cedência de jogadores para a Seleção. O grupo respondeu muito bem. Esse foi o grande mérito do técnico?
- Você está colocando etapas profissionais que aconteceram. Um pouco depois da Libertadores, o clube não tinha condição financeira de manter todo plantel e teve um presidente que falou a verdade. Não enrolou. Então, Guerreiro, Emerson, Fábio Santos, Petros e Mendoza saíram por um cunho financeiro. Precisamos reorganizar a equipe. E aí você está tocando num fato que não tinha me apercebido. Desde o meio do ano, uma série de jogadores sempre indo para a Seleção e precisamos fazer essa remontagem com atletas que não vinham jogando regularmente. Esse foi um diferencial para a conquista.
Em uma entrevista recente, o Cássio falou que era o melhor goleiro do país e explicou falando dos números do Brasileirão. Por tudo o que mostrou o Corinthians, hoje o Tite é o melhor técnico do país?
- Há uma diferença entre estar e ser. Eu estou no melhor momento, nessa condição, de ter feito o melhor trabalho. O melhor precisamos ver a história toda e não dá para comparar gerações. Vanderlei Luxemburgo e Felipão jogaram uns 10 campeonatos a mais que eu. Aí não dá. A comparação tem que ser que tenha mais ou menos a mesma idade. O Dorival Júnior, por exemplo, tem a mesma idade. Em relação ao Cássio, é a mesma coisa. Ele não foi pretensioso. Foi verdadeiro e autêntico. O melhor goleiro do Campeonato Brasileiro foi o Cássio. E isso é inconteste. E isso não desmerece os outros, ou que ele é melhor que os outros. Foi neste ano.
Mesmo nas férias, o treinador sempre projeta o próximo ano. Dá para imaginar repetir as conquistas de Libertadores e Mundial pelo Corinthians em 2016?
- São etapas profissionais que vão acontecendo. Outra diferença deste ano foi um crescimento individual dos atletas muito grande. A gente não consegue medir o potencial do atleta. Tu treina e vê o quanto a equipe pode crescer. Eu lembro que uma das coisas que falava no nosso início de campeonato era que havia uma equipe à frente dos demais, que era o Atlético-MG, mas ela já tinha atingido esse topo. E todas outras equipes, e nisso tinha nós, Grêmio, Inter, São Paulo e Palmeiras, tinham possibilidade de crescer. O Corinthians cresceu muito e, por isso, foi campeão.