
O assunto não interessa, mas os cargos são importantes.
Na composição dos novos governos que começam em 1º de janeiro, as escolhas do ministro e do secretário de Esporte do Rio Grande do Sul foram definidas pela barganha política, e não pelo conhecimento do tema. O teólogo George Hilton (PRB-MG) comandará o setor em ano de Olimpíada no Rio, enquanto o gerente de banco Juvir Costella (PMDB) ficará responsável pelas políticas públicas de esporte no Estado. Atletas e gestores do esporte criticaram as indicações.
Sem conhecer ou ter experiência nas áreas, os políticos foram nomeados para apaziguar os ânimos de aliados. O deputado federal Hilton foi um dos apontados por seu partido para a divisão de cargos. Ele teve seu nome escolhido pela presidente Dilma Rousseff para evitar que Marcelo Crivella, outro político do PRB, assumisse a função.
Crivella, adversário derrotado de Luiz Fernando Pezão (PMDB-RJ) no pleito ao governo do Rio, poderia causar insatisfação no governador fluminense, apoiador de Dilma. Resumindo: em vez de escolher o melhor nome, definiu-se um partido para assumir a pasta, e, dentro dele, um político cuja indicação não traria problemas para o governo.
No Estado, a definição por Costella também foi inusitada. O governador queria oferecer uma vaga de deputado estadual a um dos coordenadores de sua campanha, Ibsen Pinheiro, que havia ficado na terceira suplência. O novo secretário, primeiro suplente, assumiria uma cadeira na Assembleia com a escolha do deputado eleito Fábio Branco para o secretariado. Como Costella agora vai para a secretaria, sobra a vaga de deputado para Ibsen, já que a segunda suplente, Maria Helena Sartori, abriu mão para cumprir as funções de primeira-dama.
- Não vou tecer críticas aos indicados, até porque não os conheço. Mas falo da situação geral, em que não se dá importância para a melhoria dos quadros nessa área do esporte. Isso desqualifica os gestores, as pessoas que estão lá dentro e conhecem o assunto - afirma Paulão, medalhista de ouro com o vôlei masculino na Olimpíada de 1992 e ex-gerente do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo em Porto Alegre.
Maria da Conceição Pires, presidente da Federaclubes, associação que reúne clubes esportivos do Estado, adota cautela sobre a inexperiência do novo secretário:
- O ideal é que seja alguém do ramo, mas somos otimistas. Não vamos adotar uma postura de oposição antes do início do governo.
- Eu aceito a crítica, ela é construtiva, mas se nós formos falar sobre as pessoas que têm experiência em algumas áreas, vamos apontar ministros que são formados em agronomia e estão na saúde. Ou secretários de Estado, hoje, que não vou citá-los, que ocupam pastas sem formação no determinado assunto. Não sou um expert em turismo, em esporte. Mas posso dizer que sei da importância que essas áreas têm para o Estado - defende-se Costella, que assumirá a pasta com o polêmico retorno da junção do turismo ao esporte e lazer. Até o governo Yeda, os temas estavam unidos sob a mesma secretaria, e o turismo era protagonista, enquanto as questões esportivas ficavam mais a cargo da Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo.
No âmbito nacional, há algum tempo o esporte não é comandado por um especialista. Ao último ministro de origem ligada ao tema, sobrava experiência como atleta, mas faltava como gestor público: Pelé assumiu o Ministério Extraordinário do Esporte entre 1995 e 1998.
Como parte da política de redução de despesas do governo Sartori, que diminuirá o número de secretarias de 29 para 19, haverá uma fusão das pastas do esporte e lazer com a do turismo, reestabelecendo a Secretaria do Turismo, Esporte e Lazer que existia até 2010.
A ONG Atletas pelo Brasil, capitaneada por ídolos como Ana Moser e Raí, divulgou nota no início da semana em que protesta contra o nome de Hilton para comandar o esporte em Brasília.
- Infelizmente, há anos o Ministério do Esporte é usado na barganha política. Não se trata de decidir quem seria a melhor pessoa para ocupar o cargo, mas qual partido o terá de acordo com as alianças e que decidirá a seu bel-prazer quem o representará. Nem mesmo uma familiaridade com o tema é observada - afirma trecho do documento.
Teólogo
No Congresso, o futuro ministro George Hilton, 43 anos, discursou 97 vezes em seus dois mandatos como deputado. Nunca falou sobre esporte. Seu perfil no site da Câmara o descreve como radialista, apresentador de TV, teólogo e animador. O pastor da Igreja Universal do Reino de Deus disse que sua indicação ao cargo "vem sendo usada na luta política de forma injusta e desleal". Afirmou ainda que se empenhará para "harmonizar os diversos conflitos que permeiam o esporte, notadamente no futebol e no voleibol" e que tentará "massificar e desenvolver a prática desportiva".
Os antecessores
2011-2014: Aldo Rebelo (jornalista)
2006-2011: Orlando Silva (advogado)
2003-2006: Agnelo Queiroz (médico)
2002-2003: Caio Cibella de Carvalho (advogado, com especialização em turismo)
2000-2002: Carlos Melles (agrônomo)
Bancário
Recém eleito deputado estadual, Juvir Costella é gerente aposentado da extinta Caixa Econômica Estadual. Foi vereador de Esteio e chefe de Gabinete da secretária da Habitação, Saneamento e Desenvolvimento Urbano no governo Yeda. Nos últimos dois anos, trabalhou como assessor no gabinete do deputado estadual Márcio Biolchi, que assumirá a Casa Civil em 2015. No site do PMDB, Costella elenca suas "bandeiras", nenhuma delas ligada diretamente à gestão esportiva: defesa das pessoas, do municipalismo e desenvolvimento das diferentes regiões do Estado.
Os antecessores
2013-2014: Ricardo Petersen (educador físico)
2011-2013: Kalil Sehbe (político, ex-dirigente esportivo)
2010-2011, 2008-2009 e 2006: Heitor Gularte (advogado)
2009-2010: José Sperotto (arquiteto)
2007-2008 e 2003-2006: Luís Augusto Lara (publicitário e bacharel em Direito)
NÚMEROS
- Ministério do Esporte deve ter orçamento de R$ 2,5 bi para 2015, o equivalente a 0,08% do orçamento da União.
- Somados, os orçamentos anuais das secretarias de esporte e lazer e de turismo chegam a cerca de R$ 45 milhões (o valor deve ser reduzido em 2015), o que corresponde a 0,08% do orçamento total do Estado.