
Os colunistas de Zero Hora Luiz Zini Pires, David Coimbra e Wianey Carlet opinaram sobre a contratação de Dunga, novo técnico da Seleção Brasileira. Confira as respostas que deram à pergunta: "você aprova o nome de Dunga como técnico da Seleção?"
Adroaldo Guerra Filho: Dunga é o técnico da Seleção
WIANEY CARLET
SIM
Perguntam se aprovo a escolha de Dunga para conduzir e reconstruir a Seleção Brasileira. Respondo que sim, embora saiba que haverá momentos em que me arrependerei desta aprovação. Vai acontecer quando Dunga iniciar as suas entrevistas hostis e seus confrontos irados com a imprensa.
Em compensação, não terei preocupação alguma com relação aos conhecimentos de Dunga, sua seriedade e dedicação plena ao cumprimento da sua tarefa. O novo treinador da nossa Seleção está habilitado a realizar um trabalho aprofundado de longo prazo. Dunga sabe liderar um elenco e não poupará esforços para fazer as melhores escolhas. Espero que não lhe falte disposição para garimpar talentos que estão espalhados pelo mundo.
Torço para que Dunga tenha olhar atento às categorias de base. O Brasil precisa rejuvenescer a sua seleção. Desejo, também, que a imprensa capriche nas suas relações com Dunga. Exigir tratamento diferenciado do treinador é atalho seguro para divergências. Que não falte boa vontade da imprensa e de Dunga. Tudo em nome do futebol brasileiro, que precisa da compreensão geral para se reerguer.
A missão de Dunga terá de ser cumprida em etapas. Inicialmente, será preciso peneirar o grupo que participou do Mundial, reservando para aproveitamento aqueles jogadores que mostraram potencial e terão idade para disputar a próxima Copa do Mundo. Em seguida, Dunga precisará fazer as malas e sair pelo mundo procurando jovens jogadores brasileiros que deixaram o Brasil sem serem conhecidos. Cumprida essa etapa, começará a fase das definições de grupo e time.
Dunga é homem de convicções. Será essencial que eleja esquema tático e plano de trabalho. Para ser bem-sucedido, terá de seguir um planejamento bem pensado e que conte com a cumplicidade de jogadores, comissão técnica e dirigentes. O caminho mais curto para o fracasso será abandonar os planos por efeito de resultados.
Se a direção da CBF respaldar o trabalho de Dunga, é certo que a próxima Copa, para o Brasil, não será igual a esta que passou. Será preciso peneirar o grupo que participou da Copa reservando para aproveitamento aqueles jogadores que mostraram potencial e que terão idade para disputar o próximo Mundial.
LUIZ ZINI PIRES
NÃO
Quem apresenta o agente Fifa Gilmar Rinaldi como coordenador de seleções pode convocar Dunga como técnico da Seleção e seguir errando. A CBF vive num mundo à parte. Não sabe o que quer. Mas faz o que bem entende com as suas ideias e quase R$ 500 milhões de faturamento anual. José Maria Marin e Marco Polo Del Nero só respondem ao expatriado Ricardo Teixeira. Há um enorme fosso, mil campos de futebol e milhões de torcedores, entre a sociedade e o trio.
Se as boas cabeças olham o futuro e pedem Tite, Marin e Del Nero partem em busca do passado. Exibem Dunga, 51 anos de idade, 17 anos como volante e menos de cinco como técnico - estes nos últimos 14 anos. Conecta o GPS entre 2006 e 2010, duas Copas perdidas, uma delas com o gaúcho de Erechim.
Quando o superado Felipão assumiu, a CBF ainda acreditava em milagres. Com as divindades em baixa, decidiu chamar um treinador com currículo já provado no time nacional. A falta de ousadia é do tamanho do fiasco no Mineirão.
Dunga não tem o perfil renovador de que o técnico da Seleção precisa. O Brasil pede um profissional agregador, estudioso, conectado com a Europa, disposto ao diálogo e à garimpagem de novos talentos. Quem viu Dunga treinar no Beira-Rio sabe que ele é um técnico de movimentos limitados, sem grandes ideias. Quem o acompanhou na Seleção entende que o auxiliar Jorginho era a sua cabeça tática.
Em certo sentido, Dunga é apenas um Felipão mais novo com conceitos quase idênticos de futebol. Ambos são líderes motivacionais, fecham grupos e entendem que todos os críticos são inimigos a combater. A parte tática continua sendo um grande mistério.
DAVID COIMBRA
SIM
Dunga é um chato. É um homem paranoico, agressivo, muitas vezes mal-educado. Mas é um trabalhador sério e dedicado, com uma qualidade fundamental para quem sobrevive com o futebol: Dunga sabe perder. Quando perde, Dunga se recolhe, reflete, se concentra e, o mais importante, aprende. Dunga é ótimo perdedor. É o homem certo para as horas difíceis.
Essa característica talvez faça de Dunga uma escolha inteligente neste momento, que é o mais dramático da história centenária da Seleção Brasileira. Dunga tratará de trabalhar em silêncio, de montar um grupo de jogadores de confiança e fechar-se com eles. Ele é bom nisso. É amigo dos seus amigos e, no recôndito vestiário, sabe até ser afável.
É verdade, também, que a opção da CBF por Dunga será criticada ferozmente por grande parte da imprensa de todo o Brasil. Mas até nisso o nome de Dunga pode ser providencial: ele servirá como uma espécie de para-raios para dirigentes e jogadores. Quando tudo o que está errado é responsabilidade de um único personagem, os demais têm tranquilidade para trabalhar.
As contingências da vida nunca foram incontornáveis para Dunga. Ao contrário: seu problema é o sucesso. Quando se torna vencedor, Dunga corre a recolher toda a sua coleção de ressentimentos que mantém arquivada em algum escaninho da memória, e dá o troco aos seus verdadeiros ou imaginários desafetos. Aí tudo se complica para ele e ele perde e se recolhe e se concentra e trabalha duro novamente. É uma maldição que ele mesmo se impôs. Mas é, também, o combustível que faz dele, muitas vezes, um vencedor.
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