Marcelo Carôllo
Não é sobre futebol. Nem poderia ser, já que ele parece que escolheu passar o seu domingo longe – bem longe – da Arena do Grêmio. É sobre estupidez. É sobre socar a cara de alguém.
Não deve ser fácil reunir coragem suficiente para socar a cara de alguém. Cerrar o punho e desferir golpes contra o rosto de outra criatura exige uma combinação muito específica de raiva, estresse, oportunidade e uma total e completa irracionalidade momentânea. É uma imbecilidade. Uma tosquice. Uma brutalidade descabida em praticamente qualquer contexto que se possa imaginar.
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No domingo, um jogador de um time de futebol socou, repetidas vezes, a cara de um jogador de outro time de futebol. Não eram times de artes marciais. Era futebol. Não era uma briga generalizada. Era um empura-empurra pós-falta. Não rolavam, no gramado, as tais "cenas lamentáveis" que voltemeia acontecem em algum jogo mais nervoso. O jogador agredido não estava brigando com ninguém. O jogador agredido, aliás, acho que nunca brigou com ninguém nesta vida.
Mesmo assim, o jogador agressor conseguiu, sabe-se lá como, reunir em sua cabeça tudo o que é necessário para fechar a mão e socar uma, duas, três vezes a face de outra pessoa num domingo à tarde. Não se sentiu constrangido pelo estádio lotado, pelas dezenas de câmeras, pelas regras do esporte que deveria praticar. Como demônios alguém consegue achar que é normal desferir golpes contra uma pessoa que sequer brigando estava? Que sequer de frente estava! Que sequer provocando estava!
Mais inacreditável do que a expulsão do jogador agredido (que, sei lá, vai ver ficou bravo por ter sido socado e, por essa reação tão esquisita, recebeu o vermelho), é a nossa estupidez. A estupidez de quem nem tem a desculpa de "estar dentro do campo, de cabeça quente". A estupidez de quem, agora, pós-jogo, está elogiando as agressões.
Conseguimos, inclusive, comparar os socos deste domingo com o lance do William x Bolaños. Chegamos ao absurdo de comparar um lance de jogo (uma porrada, uma falta para vermelho, mas um lance de jogo) com SOCAR A CARA de outra pessoa. Perdemos, de vez, qualquer resquício de inteligência.
Sob desculpas como "isso é futebol!", "aqui é Gre-Nal!" e "meu time é mais legal que o teu!", deixamos de lado a sensatez que deveria nos acompanhar sempre. Estupidez. Completa e irrestrita. Conseguimos grenalizar socos na cara. E estamos, agora, brigando entre nós por conta disso.
Mais estúpido que um gremista, só um colorado. E vice-versa.