Depois de bater Bragantino e Chapecoense, o Grêmio voltará a campo nesta noite, a partir das 21h, para receber o Flamengo de Renato Portaluppi na Arena. No confronto com o ídolo gremista, o Tricolor tentará atingir pela primeira vez uma sequência de três vitórias no Campeonato Brasileiro para se aproximar da saída da zona de rebaixamento.
Nesta noite, Renato irá à Arena enfrentar o Grêmio pela segunda vez desde sua saída do clube, em abril deste ano. Se em agosto ele voltou como adversário em um confronto de quartas de final da Copa do Brasil, agora o maior ídolo dos gremistas estará do outro lado em um jogo-chave na briga contra o rebaixamento.
Se vencer o Flamengo nesta noite, o Tricolor entrará em campo na sexta-feira para enfrentar o Bahia, em Salvador, com chance matemática deixar o Z-4, que frequenta desde 6 de junho - justamente quando foi disputada a segunda rodada, na qual pertence a partida entre Grêmio e Flamengo que será recuperada hoje.
Esse cenário do Grêmio lutando contra o rebaixamento tendo Renato Portaluppi como adversário remete a algo que aconteceu há 30 anos. Quando foi rebaixado pela primeira vez para a Segunda Divisão, o Tricolor encarou, na última rodada do Brasileirão, o Botafogo que tinha Renato como um dos seus principais jogadores. O ídolo gremista, no entanto, não participou daquela partida em razão de uma lesão.
Até hoje há quem diga que Renato não quis enfrentar o Grêmio em momento tão delicado do clube, algo que nunca foi confirmado ao longo desses 30 anos. Aquele Botafogo de 1991 ainda contava com outros personagens do título do Mundial de 1983. O Alvinegro era treinado por Valdir Espinosa e tinha na equipe o zagueiro De León e o lateral Paulo Roberto. Falecido em fevereiro do ano passado, Espinosa chegou a dizer anos que depois que não conseguiu comemorar aquela vitória de 3 a 1 do seu time que decretou o rebaixamento gremista.
— Eu tinha um lado profissional e outro de torcedor e o profissional precisava estar acima. Trabalhei naqueles 90 minutos em busca da vitória, mas também vi aquela situação com tristeza. Foi a primeira vez que não comemorei uma vitória porque estava ali o time no qual eu era torcedor sendo rebaixado — declarou em vídeo publicado no seu canal no Youtube.
Paulo Roberto lembra que em campo teve um sentimento negativo de ver o Grêmio rebaixado. No mesmo tom de Espinosa, ele lembra que naquele momento teve de deixar o lado profissional acima do pessoal.
— Foi difícil jogar. É uma situação diferente porque você enfrenta um clube que tem carinho, mas também estava defendendo outro time, no qual tinha contrato e precisava ser profissional. A minha vida sempre foi pautada dessa forma: você precisa olhar o outro lado e se colocar no lugar. O meu dever como jogador do Botafogo era entrar em campo e fazer o meu melhor — recorda.
Por ter enfrentado o Inter no Beira-Rio, no último sábado, a delegação do Flamengo seguiu em Porto Alegre e treinou no CT Luiz Carvalho nos últimos dias, fruto da boa relação de Renato contra o Grêmio. O treinador até ouviu pedidos de "entrega" para o jogo desta noite de torcedores que foram ao hotel rubro-negro no final de semana em mais uma situação folclórica do futebol.
De conhecida boa relação com Renato, o presidente gremista Romildo Bolzan Jr. disse que não chegou a conversar com o treinador sobre o jogo desta noite.
— Não conversamos. O ambiente do futebol está muito profissionalizado. Cada um cuida daquilo que tem responsabilidade de cuidar. Vai fazer um jogo para vencer e vamos fazer o nosso jogo para vencer. Nesse momento, cada um cuida do seu quadrado — afirmou em entrevista à Rádio Gaúcha.
O fato é o que o Flamengo nesta noite não terá força máxima em razão da final da Libertadores contra o Palmeiras, no sábado, em Montevidéu. A decisão de Renato Portaluppi de poupar seus titulares antes de um jogo importante é compreensível e segue uma tendência da sua forma de trabalhar, muito feita nos seus tempos de treinador do Grêmio. Mas para o gremista mais fanático ficará a sensação de que o destino deu um jeito de Renato de alguma forma colaborar para o Tricolor ter menos dificuldade na sua briga contra o rebaixamento.