Da mesma forma que não faltaram empenho, raça e títulos, não faltou emoção na despedida de Jael do Grêmio. O centroavante, negociado com o FC Tokyo, do Japão, convocou uma entrevista coletiva para registrar algumas palavras antes de embarcar para o futebol asiático. Emocionado, o jogador relembrou sua trajetória no clube.
— É difícil esse momento da despedida. Vocês sabem muito bem da minha vinda, como cheguei aqui, e como estou saindo. Foi sacrificante, mas acima de tudo, valeu a pena. Cheguei aqui e a maioria contestava e duvidava do Jael. Durante todo esse tempo, batalhei bastante para mudar o pensamento de muitos. Nesses dois anos e pouco que estou no Grêmio, hoje vejo que todo meu sacrifício, batalha e luta, valeram a pena. Hoje, eu tenho respeito. Cheguei sem ser respeitado e hoje tenho respeito — afirmou.
Depois de responder a primeira pergunta, o ex-camisa 9 brincou com o fato de ter pedido para falar e estar chorando: "Não sei porque inventei isso". Mas seguiu falando sobre sua volta por cima no Tricolor.
— É uma coisa que vou guardar sempre na minha vida. Lembro que, no final de 2017, eu estava em casa e surgiram algumas propostas que eram financeiramente melhores do que o Grêmio. Mas falei para minha esposa que, naquele momento, não iria pensar em dinheiro. Que eu iria renovar para mudar o pensamento de todos, para mudar minha história dentro do Grêmio.
O jogador ainda enalteceu sua relação com a torcida gremista, fez questão de agradecer Renato Portaluppi, o responsável por sua contratação no Grêmio, em janeiro de 2017, e relembrou uma história com o treinador que aconteceu alguns anos antes.
— Treinei forte todos os dias. Eu tenho o pensamento de que o próximo jogo é sempre o mais importante. Eu deixo tudo dentro de campo, porque não sei o que vai acontecer depois. Vocês percebiam minha luta, minha batalha. Sempre dei carrinho. É o espírito que o torcedor gosta. Deu essa liga. Agradeço muito ao Renato, é um cara que abriu as portas pra mim. Tentou me trazer em outras oportunidades pra cá, desde 2010, pra outros clubes também. Ele é muito engraçado. Em 2012, eu estava bem na Portuguesa e ele me ligou e me indicou pro Atlético-PR, mas acabei indo para o Flamengo. Aí ele me ligou e falou: "Não te indico mais pra canto nenhum, esquece". Aí ficamos cinco anos sem nenhum contato. Aí vim para cá através dele, eu relembrei essa história e ele me disse: "Fica tranquilo, eu não guardo rancor, não". Isso aí mostra o coração dele, é sensacional. Acho que o Renato tem uma parcela muito grande de tudo o que aconteceu comigo no Grêmio, da forma com que eu estou saindo hoje e do respeito que as pessoas têm por mim.
Apesar de ter entrado na final da Libertadores e dado o passe para o gol de Cícero, que garantiu a vitória de 1 a 0 sobre o Lanús, na Arena, e de ter marcado um golaço de falta e dado uma assistência na vitória de 3 a 0 sobre o Inter no Gre-Nal válido pelas quartas de final do Gauchão 2018, o momento mais marcante para Jael no Grêmio não foi em uma vitória.
— Foi quando entrei no jogo contra o Barcelona de Guayaquil. Não sei se vocês perceberam, entrei sendo vaiado. No primeiro lance, fui pra cima do zagueiro e já rasguei. Daquele momento em diante, o torcedor começou a me olhar diferente. Mais marcante do que a final e o Gre-Nal, foi esse jogo, em que estávamos perdendo de 1 a 0. Entrei vaiado e saí ovacionado naquele dia — lembrou.
Apesar de estar de saída, Jael tratou de enaltecer o elenco gremista e se declarou torcedor.
— É um grupo muito qualificado. Estão chegando jogadores que estão muito bem. Entrando, fazendo bons jogos. Está chegando um jogador extraclasse. O Grêmio tem tudo para fazer um ótimo ano. Podem ter certeza de que vou estar na torcida sempre. Eu criei grandes amizades aqui, com muitas pessoas. Do roupeiro e do porteiro, ao presidente. Criei um respeito muito grande. Vou sempre torcer para os meus companheiros por mais títulos. Se eles conquistam, de certa forma eu também conquisto — disse.
Além disso, elogiou a gestão gremista, que, mesmo sem tirar os pés do chão, conseguiu montar um dos grupos mais fortes do país.
— Eu acho que tem tudo para ser (o elenco mais forte do Brasil). Temos jogadores que estão há muito tempo em alto nível. Lógico que tem times que têm condições de fazer loucuras. O Grêmio faz as coisas com os pés no chão e faz as coisas certas, contrata as peças certas. Então, tem tudo para ser um ótimo ano. O Renato vai saber administrar todo mundo para que tenham muitas conquistas.
Por fim, Jael falou sobre a chegada de Diego Tardelli, que herdou a camisa 9. O centroavante agradeceu o respeito da direção ao conduzir essa "passagem".
— Eu agradeço a direção pelo respeito. Antes de acertar com o Tardelli, o Amodeo (Carlos, CEO) e o Klauss (Câmara, diretor de futebol), eles perguntaram se não teria problema de entregar a camisa 9 pro Tardelli. Eu disse que eu mesmo poderia entregar. Mas não deu tempo, minha negociação se encerrou praticamente hoje. Mas o homem vai fazer muitos gols e conquistar muitos títulos — finalizou.
Assista a trechos da entrevista: