Prestes a comemorar 33 anos, Douglas voltou ao Grêmio indicado por Felipão. O meia, de estilo de jogo clássico, viveu altos e baixos nos últimos anos. Campeão mundial pelo Corinthians em 2012, Douglas chega a Porto Alegre após ser o artilheiro do Vasco no retorno do clube carioca à Série A do Brasileirão de 2015.
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Assim como um equilibrista, Douglas vive no limite entre o sucesso e o fracasso dentro de campo. Quando vai bem, é exaltado pela grande visão de jogo e passe certeiro. Mas quando o meia não deixa os atacantes na cara do gol, a torcida reclama da impressão de indolência do camisa 10.
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Para o bem ou para o mal, o Grêmio aposta neste ano no talento de Douglas para abastecer Marcelo Moreno e acabar com a falta de títulos. Confira a entrevista abaixo:
O que mudou no futebol desde que você começou?
O jogo está um pouco mais corrido, um pouco mais pegado e com contato. Só que um jogador que possa pensar mais ainda é importante. A qualidade prevalece sempre. Sempre bato nesta tecla e não vou mudar.
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O jogador mais cerebral está perdendo espaço?
Hoje em dia são poucos. Já vem da base isso, está muito diferente o pensamento. A tendência é de que o meia-armador suma. Fico triste por isso, que é o que faz o futebol ficar bonito. Um cara que faça o time andar, apesar da correria que se tem hoje.
Como você se adapta a essa tendência?
No Corinthians, o Tite era um treinador com um estilo de jogo diferente. Um time muito competitivo, com todos marcando e correndo muito. Tive que mudar um pouco minha característica de não ficar apenas centralizado no meio. Tinha de dar muito combate nas laterais e saía pelos lados. Tive um pouco de dificuldade, mas me adaptei e me sentia bem fazendo isso. Mas isso depende do técnico e do grupo. São coisas que vamos conversando para acertar o mais rápido possível.
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O que o Felipão pede para você?
Ele me falou para não mudar minhas características. Apesar de muitos dizerem que eu sou um jogador que não marco e tal, ele me pediu para fazer a função de armador e ajudar o pessoal quando não tiver a bola. E não vejo problema algum nisso, quero ajudar.
Foto: Lauro Alves
Incomodam as avaliações de que você não ajuda na marcação?
Nunca me incomodou. Não ligo para isso também. Eu procuro fazer a minha função. E o que é minha função? É armar e fazer o time jogar. Meu foco principal é esse. Óbvio que se der para ajudar o companheiro a marcar ou fazer outras coisas, ajudarei. Mas meu objetivo é fazer bem a minha função. É o que sei fazer. Se tentar mudar, não vai adiantar.
E se for para marcar?
Se fosse só para marcar, marcaria sem problema nenhum. Só que é impossível você jogar depois de dar combate atrás e na frente. Quando pegar a bola, aí está afogado, não consegue raciocinar direito. Como disse antes, meu foco é a armação e fazer o time jogar. Procuro fazer isso.
Na sua apresentação você disse que não daria carrinho para ganhar torcedor, que não é marqueteiro...
Conheço vários jogadores que fazem isso para ganhar o torcedor. Não faz parte de mim. Não tento ganhar a torcida de uma forma que não me agrada, tentar mostrar uma coisa que não sou. Minha forma de conquistar é jogar bola.
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É díficil ser um jogador mais cerebral?
Muito, todos acham que é uma função tranquila de jogar porque não se corre muito e fica mais centralizado. Mas quando recebe a bola, tem que dominar bem, segurar o marcador e já pensar no que vai fazer. É díficil, você sofre bastante. Tem gente que tenta mudar para jogar nessa função e se prejudica.
Foto: Lauro Alves
Como se alia futebol competitivo com refinamento técnico?
Competitividade é quando não se tem a bola e consegue marcar. E quando recuperar a bola, conseguir jogar com todos participando. Independentemente de quem faça os gols, mas que se tenha proximidade entre todos. Tem de aliar os dois: marcação e qualidade.
Prestes a completar 33 anos, como você se sente na parte física?
Depois dos 30 você tem um pouco de dificuldade, então passa a se cuidar mais. Estou me cuidando melhor e isso tem me ajudado. Me sinto bem e pronto para ajudar.
Você acha que a movimentação sem bola passa despercebida e por isso o cobram mais?
Às vezes, é impossível jogar. Precisa de jogadores de qualidade para tentar pensar com você. Receber uma bola boa para fazer uma jogada legal. Não adianta o zagueiro dar um balão e você ter que dividir a bola e já armar uma baita jogada. É díficil. Precisa de jogadores de qualidade para você também poder render. Não adianta ficar correndo no meio-campo feito um bobo e aí vão falar que você está dormindo em campo. Precisa de opções para poder jogar.
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É mais díficil para o camisa 10 aparecer para o torcedor?
O atacante briga muito mais pela bola do que o meia. Todas as jogadas são direcionadas para eles. Fica um pouco mais competitivo. Quem está de fora e não entende, já muda a opinião. Mas entendo, é do futebol. A gente vai ficando mais experiente e acaba entendendo.
Foto: Carlos Macedo
Nesta sua fase da carreira, as críticas ainda o incomodam?
Desde o ínico da minha carreira nunca me abalei com críticas ou vaias. Sempre fui um cara que soube administrar bem isso e manter meu foco no que acontece dentro de campo. Depois de velho não vou ter problemas com isso (risos).
Como você se prepara para o Gauchão?
É mais díficil, é aí que precisamos de jogadores rápidos e de qualidade para poder meter uma bola ou encontrar uma brecha para conseguir a jogada. Costuma ficar um cara sempre em cima, naquela loucura, dando porrada. Mas tem que acostumar durante a partida para não ficar irritado.
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O que você pensa antes de construir as jogadas?
Eu olho antes e fico observando se uma jogada está se desenhando de um lado. Vejo onde estão os atacantes para ver se posso ou não meter a bola. Geralmente a bola vem certa e dá para fazer a jogada se um companheiro fizer a infiltração em diagonal nas costas da defesa. É isso que peço para os moleques, que fiquem espertos com essa bola. Essa é a jogada mais fácil para o meia.
O Lincoln o consulta muito?
Ele é um moleque muito bom, um cara com muita qualidade. Teve um treino aqui no CT que ele fez duas graças, e os caras queriam matá-lo. Disse para ele fazer o simples que depois quando estiver ganhando dá para fazer uma graça. Aí voce ganha confiança, e a maioria das jogadas que fizer darão certo.
Foto: Lauro Alves
O que é mais importante, ser rápido com ou sem a bola?
Os dois, você precisa ser inteligente. Senão ninguém consegue jogar. Você precisa de opção quando tem a bola e ser esperto para quando ainda não a recebeu.
Como os jovens chegam ao profissional?
A gurizada não chega a ser mascarada, mas é empolgada. Começam a aparecer, já compram um carrinho legal e aparecem na televisão. Acaba subindo um pouco para a cabeça. Tem muitos com os quais falamos e eles não dão bola. Entra em um ouvido e sai no outro. Para esses, só perco tempo uma vez. Depois, não vem mais pedir minha opinião.
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Marco Souza
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