
Porto Alegre foi anunciada na quarta-feira (7) como uma das oito sedes da Copa do Mundo feminina de 2027. O Beira-Rio receberá as partidas da competição, e o Inter se tornou o primeiro clube brasileiro a ser palco de jogos de três Mundiais.
A cidade e o estádio terão dois anos para se prepararem para o evento. O torneio será disputado entre 24 de junho e 25 de julho de 2027. Há a certeza de que o Brasileirão será paralisado para a disputa das partidas.
Neste domingo (11), a Fifa realizará visita técnica à casa colorada e a cidade de Porto Alegre. Apesar de ter obrigações menores do que às da Copa de 2014, a cidade terá desafios importantes para receber jogos e torcedores estrangeiros.
Secretária extraordinária da Copa do Mundo feminina em Porto Alegre, Débora Garcia (Republicanos) conversou com a reportagem de Zero Hora sobre as expectativas para o início dos trabalhos, as obras necessárias, a quantidade de partidas a serem recebidas e o desafio de encher o Beira-Rio. Confira.
Como foi o processo de escolha de Porto Alegre desde o início e como é receber essa missão, que eu imagino que traz muita responsabilidade?
É uma honra poder comandar a Copa do Mundo feminina aqui em Porto Alegre. Em 2023, nós entregamos o ofício na Federação Gaúcha de Futebol solicitando que Porto Alegre fosse cidade sede da Copa do Mundo feminina. Em 2014 o Brasil foi país sede e na quarta-feira (7), ganhamos esse grande presente: Porto Alegre ser cidade sede. Estou muito feliz, porque sou mulher, posso comandar uma Copa feminina. Isso não tem preço. Nós queremos valorizar muito as nossas mulheres de Porto Alegre, do Rio Grande do Sul e do Brasil que vão estar por aqui.
Em termos de estrutura, a gente teve a experiência da Copa de 2014, agora, 13 anos depois, vem a Copa feminina. Em relação à estrutura, o que muda? Quais são as obrigações da cidade para receber o evento?
A ficha que nós assinamos de intenção, lá em 2023 não fala nada em obras, o que é diferente de 2014. Em 2014, tivemos muitas obras que foram finalizadas dentro do governo, de agora, do prefeito Sebastião Mello. O que tem nesse catálogo de encargos de intenção que nós assinamos é o empoderamento das mulheres e sustentabilidade, e nada de obras. E aí, sim, o normal é a mobilidade da cidade, a segurança, a fanfest, mas, fora isso, não tem nada de diferente.
Como foram as conversas com a Fifa para contextualizar a situação de Porto Alegre, a situação de recuperação também do estádio Beira Rio após a enchente?
A Fifa fez duas visitas a Porto Alegre no ano passado. Tivemos em setembro e novembro. Em novembro eles visitaram os centros de treinamento, os hotéis da cidade e o Beira-Rio. O que me chamou mais a atenção foi visita ao centro de treinamento do Beira Rio, estavam aqueles sacos de areia de contenção, e o pessoal da Fifa ficou impressionado. Explicamos que foi depois da enchente. Eles não tinham imaginado que a água tinha vindo dentro do centro de treinamento, e muito menos dentro do Beira Rio. Eles conseguiram ver que conseguimos nos recuperar muito rápido. E isso foi ponto positivo para nós.
Quando teve a visita ao centro de treinamento do Beira-Rio, estavam aqueles sacos de areia de contenção, e o pessoal da Fifa ficou impressionado. Não tinham imaginado que a água tinha vindo dentro do CT
Não ter nenhum tipo de obrigação em relação a obras traz um alívio para a Prefeitura, que não tem essa obrigação, mas também traz uma responsabilidade de criar eventos, criar estratégias, ser criativo, para fomentar o evento na cidade.
Bom, as pessoas falam que não vai ter obras. Não sei se depois dessa visita de amanhã, se não vai ter alguma coisa de obra. Porque depois dessa visita técnica da FIFA nós vamos saber o número de jogos que a gente vai ter na cidade, e provavelmente alguma obra que eles queiram que a gente faça. Então, tudo depende da visita de domingo (11). E a respeito dos eventos para fomentar o futebol, a Fifa pediu para fomentarmos muito nas comunidades. Estamos começando a preparar agora todo um planejamento para começar a trabalhar o futebol feminino nas comunidades, incentivando as meninas.
No evento de anúncio, foi citado sobre a possibilidade da Seleção Brasileira atuar em Porto Alegre, quem sabe até na Copa. Vocês chegaram a ter mais detalhes em relação a isso?
O pessoal da Fifa já não aguenta mais. Todas as reuniões que eu tenho com eles, eu peço isso. Eu quero pelo menos um jogo da Seleção Brasileira, porque acho que é importante Porto Alegre receber a Seleção Brasileira feminina aqui, ainda mais depois de tudo que a gente passou. Já fiz a solicitação também para a Federação Gaúcha de Futebol, que encaminhou para a CBF. Então a gente está na torcida para poder, se Deus quiser, ter um amistoso da Seleção Brasileira aqui em Porto Alegre.
Não tem ainda a quantidade de jogos que a cidade vai receber, nem mesmo uma expectativa da quantidade mínima?
Não, ainda não foi passado nada para a gente, iam ser 10 sedes, e acabou ficando fechando em oito, então não foi passado nada ainda para a gente. E vão ser 32 seleções, como a masculina, mas não foi passado nada sobre o número de jogos.
Eu quero pelo menos um jogo da Seleção Brasileira, porque eu acho que é importante Porto Alegre receber a Seleção Brasileira feminina.
A senhora já tem uma ideia de quais serão as suas tarefas no cargo?
A minha atuação não vai ser só coordenar, desenvolver e implementar essas ações para a Copa do Mundo. Eu tenho que estabelecer muitas parcerias com entidades públicas e privadas, não só de Porto Alegre, mas nacionais e internacionais, trazendo projetos para Porto Alegre, para poder fomentar o futebol feminino. Vou gerenciar todo o planejamento das ações destinadas para a Copa do Mundo em Porto Alegre. Vou promover todo o relacionamento externo da Prefeitura de Porto Alegre com o Governo do Estado e com o Governo Federal. Vou gerenciar e acompanhar todo o desenvolvimento desses projetos para poder fazer a melhor Copa do Mundo aqui em Porto Alegre. Meu papel também é ordenar despesas relacionadas à Copa do Mundo. Acompanhar toda a execução de contratos e convênios relacionados à Copa. Tem bastante trabalho.

Em relação aos estádios, a Arena batalhou para receber jogos também?
Quando a gente enviou o ofício de solicitação, nós colocamos os dois estádios, tanto a Arena quanto o Beira-Rio. Como temos dois estádios, não tem porquê a gente dizer "vamos fazer na Arena ou fazer no Beira-Rio". Encaminhamos para a Federação e quando veio o catálogo de encargos, já veio com os dois (estádios). Foi a Fifa que escolheu o Beira-Rio e não a Arena. Não sei como foi internamente com a Fifa a negociação do Beira-Rio e com a Arena. Na visita de novembro, eles foram só no Beira-Rio, não foram na Arena.
Em relação aos centros de treinamentos, vocês já têm alguma definição?
Em novembro, eles (Fifa) visitaram o Vila Aventura, em Viamão, Sesc, o CT do Inter e foram também a Bento Gonçalves e Caxias do Sul. Mas eles ainda não passaram para a gente onde será o centro de treinamento.
O prefeito Sebastião Melo fez parte da gestão que recebeu a Copa do Mundo de 2014. Foi um processo bastante tenso. As obras foram concluídas recentemente. A senhora já conversou com o prefeito e ele lhe contou sobre a experiência que foi organizar uma Copa do Mundo?
A gente tem conversado diariamente sobre o desafio da Copa do Mundo. Falamos muito sobre as obras, o que foi de 2014 para agora. Temos conversado muito sobre esse desafio das obras e de todo o evento da Copa do Mundo.

Como é que vocês pensam também trabalhar a relação com o Inter? Daqui a dois anos, em um determinado momento, o Beira-Rio não vai poder mais receber partidas do Inter.
Temos conversado desde janeiro com o Inter sobre Porto Alegre ser sede e o Beira-Rio também. Como já estava bem encaminhado, o Beira-Rio já tinha encaminhado os valores para a Fifa. Conversamos sobre a logística desde janeiro. Se Porto Alegre fosse sede, o que a gente poderia fazer em conjunto. Então, é uma conversa que vem desde janeiro, mas não foi falado a respeito dos jogos nesse período que vai ficar parado, porque a Fifa passou para a gente que o calendário vai parar, então não teremos jogos nesse período. Fica mais tranquilo, porque a preocupação era essa. Não vão ter jogos do Brasileirão entre 24 de junho e 25 de julho de 2027.
O meu maior desafio vai ser lotar o estádio. Tem pessoas que têm aquele preconceito sobre a mulher jogar futebol.
Quando a senhora imagina a Copa do Mundo que está por vir, qual é a Copa do Mundo que a senhora gostaria de realizar em Porto Alegre?
Eu digo que o meu maior desafio vai ser lotar o estádio. Porque tenho conversado com muitas pessoas sobre futebol feminino. Tem pessoas que possuem aquele preconceito sobre a mulher jogar futebol, que vai ao estádio para ver o homem. Então, acho que esse vai ser o meu maior desafio, de lotar o estádio de pessoas assistindo futebol feminino. Em todas as reuniões que tive com a Fifa, eu disse que podem contar comigo porque Porto Alegre vai estar com o estádio lotado.